TWO

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Sherlock Holmes sabia que romance, sentimento, apego e diversos outros sentimentos humanos atrapalhavam o processo do pensamento lógico e portanto a resolução de casos. Um cérebro como o seu precisava estar afiado e focado, pronto para agir. Inúmeras vezes vira criminosos inteligentes perdendo seu império por amor,  melhor definido como um conjunto de reações químicas e hormônios liberados pelo cérebro.
Ao tocar seu violino, Holmes se desligava de tudo ao seu redor. Entrava em seu palácio mental, sincronizando seus pensamentos, organizando suas ideias enquanto a melodia matematicamente composta o guiava.
Diversas vezes seus pensamentos deixavam de ser tão resistentes e deslizavam, abrindo espaço para que pensasse em pessoas que são consideravelmente importantes em sua vida. Ultimamente, eles focavam em uma pessoa só: Dr. John Watson. Seu melhor amigo. Aquele que estava olhando para ele nesse exato momento. Podia ver seu reflexo na janela iluminada pelo sol de fim de tarde. Podia senti-lo.
"Delete isso", disse a si mesmo. Porém Sherlock já começava a tocar especialmente para ele, esperando ouvir um elogio enunciado por sua voz.
Watson era sua parte mais humana, por muitas ocasiões. E querendo ou não, era de grande ajuda. Ele se tornara indispensável. Mas por que apenas amigo? Sherlock começou a tocar com mais avidez e rapidez, tentando pensar na próxima parte do corpo humano que colocaria na geladeira, no cliente que viria mais tarde, nas sirenes de Londres.
Depois se perguntou por que diabos não estava pensando devidamente. Queria fazer isso parar e botar a cabeça no lugar. Mas será que John pensava nele com a mesma frequência?
Holmes não queria, no entanto, admitir frequência alguma. Então olhou por mais alguns instantes para John. Absorveu seus traços, a cor de seus olhos… Que diabos estava pensando? Watson parecia querer escapar, como seu corpo e movimentos apressados demonstravam. Ele engoliu seu chá em apenas um gole e se dirigiu a porta.
-Do que está fugindo, Watson? - a música de repente parou. O olhar de Sherlock recaia em seus ombros.
-Eu só preciso respirar. Volto mais tarde. - disse sem se virar.

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