THREE

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John Watson respirou como se o oxigênio fosse salvá-lo de seus pensamentos. Como se o ar que saísse o aliviasse de alguma forma. Andou com toda a convicção que reuniu e foi  em direção ao pub mais próximo.
- Me vê um copo de whisky. - John esfregou seus olhos e  suspirou. Tirou seu celular do bolso, checou algumas mensagens e o colocou no balcão de madeira polida.
-Coração partido? - perguntou a moça que serviu seu drinque.
-Claro que não. Seria melhor se fosse isso, eu acho.
-Que dó! Toma essa aqui por conta da casa. - ela piscou e para ele enquanto colocava outra dose.
-Obrigado. - John tentou sorrir.
Depois de beber o suficiente, John acabou parando do outro lado do estabelecimento, onde começou a cantar karaokê com desconhecidos. Ele desafinava nas notas mais altas enquanto levantava uma garrafa inteira de bebida e sorria como se estivesse realmente feliz. Mais tarde, não conseguiria nem lembrar quantos copos teria levantado e virado por completo.

Watson passou o microfone para a próxima pessoa da fila e foi para o canto, pedir um água no balcão. Cantar realmente podia esgotar sua energia.
- Água, por favor! Eu preciso de… água!
-Sabe, acho que você deveria economizar. Já pagou uma rodada para todos umas dez vezes.  - aconselhou a mesma garçonete que estava lá quando ele chegou. Não que ele se lembre.
-Eu paguei? - John desenrolou sua língua para que a pergunta saísse.
-Sim. Por isso não vou te cobrar por uma garrafa. Vou te dar do bebedouro.
-Puxa, obrigado. Me sinto lisonjeado. - disse Watson - Só não sei como vou pagar… Eu não tenho dinheiro algum. Engraçado, não é? Eu preciso de umas cédulas de papel para poder não entrar numa fria. - John esfregou o rosto com mãos, insatisfeito.
-Pena que eu não tenho um bebedouro para isso. Toma aqui. - ela deu um copo enorme para ele, que tomou tudo de uma vez.
-Até mais e obrigado.

John não tinha nem sequer encostado a mão no celular desde que chegou. Sabia que deveria ter chegado alguma mensagem porque sentiu sua bunda tremer algumas vezes. Mas ele só riu sobre isso e continuou fazendo qualquer outra coisa.
"Eu deveria pesquisar formas extremamente rápida de fazer dinheiro", pensou. Então ele desbloqueou o celular e viu mensagens de Holmes:

O NE D VOC EEE ES T A?
SHH

WAT SN, VEHN PA RA CASS AHGROA. TEM OS UNM CASO.
SHH

WAT SN.
SHH

WAR SN!
SHHH

WAT SON!!
SHH

As palavras nas mensagens pareciam embaralhadas. Mas John conseguiu entender alguma coisa. Estava bêbado e não incapacitado.

M E OERDOA. SOU JM OESIMO AMIGO.
E U COU TENTAR IR ATE VOCE. OK?

JWT

John cambaleia antes de dar a volta e seguir para a porta. Queria sair de lá e pegar um táxi. Mas é claro que ele não pôde fazer isso. Antes que tocasse a maçaneta, dois homens altos e fortes agarraram seus braços e o carregaram para longe.
-O que estão fazendo? Eu preciso resolver crimes, analisar cadáveres em decomposição. Ele precisa de mim! - John chutou um deles bem no meio das pernas. Ele urrou de dor e soltou John. Depois ele colocou o pé na frente para que ele caísse e chutou sua costela.
-Agora você está ferrado mesmo! Íamos apenas te assustar, mas agora acho que deveríamos te levar para o beco. O que acha, Jerry?
-Minhas bolas dizem que isso é um ótima ideia - ele riu e segurou os braços de John mais forte ainda.

O médico foi levado pela porta dos fundos enquanto dizia que pagaria sua dívida e como faria questão de deixar uma bela gorjeta para os dois.
- Não é essa divida que estou cobrando, por enquanto. Vou apenas devolver o que você me deu.
John foi jogado no chão frio e fedido, seu rosto estava muito perto das fezes de algum animal de rua. Ele levou sua mão até o bolso e desbloqueou o celular enquanto era chutado. Conseguiu escrever uma mensagem:

PUB. SOS. NAO CONSIO ME DEFENDER.
JWT

Watson não queria parecer e nem ser indefeso. Era óbvio que poderia ter uma chance contra o cara se não estivesse com o cérebro fora do lugar. Conseguiu rolar e se levantar. Quando fez isso levou um soco que deixaria seu olho roxo.
-Acho que já está bom, Jerry - disse seu companheiro, encostado na porta.
-Claro. - ele socou John novamente e o fez se desequilibrar. Seus olhos pareciam traí-lo pois não conseguia prever os movimentos do outro, nem onde seria acertado. Se sentia impotente.
Ele deitou no chão com os braços abertos, tentando observar as estrelas que se sobressaíam em meio aos prédios e a poluição.
-Você precisa pagar. O que pensa que está fazendo?
-Sabe que não vou fugir. Já vou. - em meia hora, o efeito da bebida ainda não tinha passado. John era médico e sabia seu fígado levaria pelo menos duas horas para processor uma só dose.
Queria aproveitar aquele efeito que fazia tudo doer menos e parecer mais bonito ainda. A adrenalina fazia suas dores físicas serem esquecidas, mas não só elas. Também aquelas que não conseguia compartilhar com ninguém. Aquelas que queria contar para uma única pessoa.
-Watson. - John ouviu a voz de Sherlock. Só podia estar sonhando, afinal estava pensando nele.
-Levante-se. Tem excremento perto de você. -  sentiu seus dedos longos apertando seus braços, fazendo-o levantar. 
-Me perdoe. Não queria me sentir assim. Não sei o que fazer sobre o assunto. Sabe, para um sonho, você é bem realista.  - John deslizou sua mão pelo rosto do outro e deixou ela lá.
-John, vamos logo. - Holmes tentou ignorar o que sentia quando era tocado por ele. Sua única ação foi deixar acontecer. O detetive tentou puxá-lo, mas Watson não queria saber de andar.
-Tenho uma divida para pagar.  - John passou a mão nos cabelos dele, depois chegou no pescoço, onde seu cachecol estava repousando - Quando Sherlock chegar ele pode me ajudar. Quer dizer, o outro Sherlock. O verdadeiro.
Já que está aqui, queria saber de coisas que não tenho coragem para perguntar. Talvez você possa responder. Você é Sherlock, mas não é também. Eu queria saber com que frequência você pensa em m-
-Eu estou aqui, Watson.
-Aqui? Prove. - John cutucou o detetive.
Os dois ficaram em silêncio. John olhou para o céu, fingindo que não estava esperando por algo. Sherlock pensou em beliscá-lo, em jogar água nele, em carregá-lo para longe, mas algo o incomodava. Ele pensou no que fazer no mesmo instante em que a pergunta foi feita, mas era mais difícil do que pensava lidar com ele mesmo.
Sherlock decidiu parar de mentir para si mesmo por alguns segundos e beijou os lábios de John rapidamente. Era como se tivesse levado um choque, seu efeito se espalhou pelo seu corpo o aqueceu como nunca antes. John estava parado sorrindo, ainda olhando para o céu.
-Não sei se isso prova que você está aqui ou que isso é realmente um sonho.
-Não importa, Watson. Sei que está com uma dívida enorme. Pelo jeito você irritou o homem que quis te cobrar e ele te trouxe aqui para revidar.  Deve ter pago bebida para todos... Mais de uma vez. Você não trouxe o cartão de crédito, não é? - Holmes deu alguns passos para trás, enquanto passava a mão em seus próprios lábios tentando lembrar do que aconteceu.
-Como sempre, você está certo. Então, vai me ajudar? - John já estava corado por estar bêbado, mas conseguiu ficar mais ainda quando seus olhos encontraram os dele. E ele sorriu, para piorar tudo.
-Claro. Mas você me deve mais uma.
-Mais uma?
-Sim. Vou cuidar de você na ressaca. Vamos?- Holmes colocou seus braço em volta do de Watson, que mal conseguia andar.
-Vamos! - John caiu e dormiu ali mesmo.

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⏰ Última atualização: Dec 04, 2016 ⏰

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