Soldier

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Depois de seis horas rodeadas de xingamentos, piadas e apelidos de mal gosto finalmente me vi livre de mais um tortuoso dia na escola. Ao mesmo tempo que eu estava contando os minutos pra que a última tediosa aula de história terminasse o mais rápido possível, esperava que nunca acabasse. Gostaria realmente de poder parar o tempo, eu ficaria aqui, sentada esperando a morte. Assim não precisaria lidar com os babacas do colegial e principalmente não precisaria falar com meu pai. Durante o intervalo enquanto eu comia sem emoção alguma meu sanduíche de pasta de amendoim e ouvia o Noah tagarelar sobre Slasher, meu celular tocou. Na tela dizia ' pai' não atendi e continuei comendo. Logo após o final da prova de álgebra depois do intervalo olhei meu celular de relance, o qual a tela apontava 17 chamadas perdidas e 4 SMS's do meu pai.

- Eu tô fodida - cochichei pro Noah que sentava do meu lado.

- Se você tivesse estudado durante as férias... Eu falei pra você.

- Não sobre a prova de álgebra. Meu pai não para de me ligar, ele viu o vídeo. Tenho certeza. - Noah franziu a boca fazendo a cara de sinto muito dele.
E agora estou aqui. Faltam 6 minutos pra aula de história acabar e ainda não formulei nada plausível que possa ser dito ao meu pai. Além de não conseguir pensar em nada, tenho de aturar o idiota do Jack Fitzgerald fazendo barulho de beijo no meu ouvido. Quando o sinal finalmente tocou, peguei minha bolsa em câmera lenta e joguei meus cadernos nela, sai da sala caminhando devagar no intuito de não chegar em casa tão cedo, assim que passei dos portões do colégio Noah passou do meu lado e disse:

- Fica tranquila, pelo menos a gente sabe que te matar ele não vai, a igreja não permite.

- Haha - disse fazendo uma risada forçada e depois uma careta pra ele - A gente se vê virgem.

Piada cristã. Além de ser empresário meu pai trabalhava pra igreja evangélica do centro, pregava a palavra, andava com a Bíblia e tudo mais. Alguns anos atrás tivemos uma discussão quando disse a ele que não acreditava em nada daquilo e me considerava atéia. Talvez Noah estivesse certo, ele não podia me matar, mas se seguisse a idéia cristã pra lidar com a situação com certeza me repudiaria já que a Igreja trata como abominação quaisquer relações homo-afetivas. Queria que minha mãe estivesse aqui, ela sentaria e conversaria com toda a calma do mundo até chegar em uma solução satisfatória a todos.
Quando cheguei na porta de casa e peguei a chave para destranca-la me dei conta das minhas mãos trêmulas e geladas. Abri a porta e olhei rapidamente ao redor, não avistei meu pai. Subi as escadas quase que correndo e quando cheguei na metade do caminho até o quarto a voz do meu pai cortou o silêncio

- Audrey. -ele chamou. Desci dois degrais e vi ele parado ao lado da escada com uma caneca em mãos; ele parecia calmo.

-Sim?-respondi

- Porque não atendeu minhas ligações? Ou respondeu minhas mensagens?

- ahhnn o celular descarregou.

- Entendo. Não tem nada que você queira me contar? - analisei as possibilidades talvez se eu negasse ele me deixaria ir embora. Meu pai não é do tipo de conversar sobre assuntos pessoais, a primeira vez que eu menstruei tive que pedir ajuda pra vizinha pq meu pai não sabia o que dizer, muito menos o que fazer.

- Não. Nada. - respondi balançando a perna de nervosismo. Ele me encarou por alguns segundos.

- Desça aqui, vamos conversar.

Droga, droga, droga, droga. Mais que droga. Se eu corresse pela porta talvez o Noah deixasse eu dormir na casa dele. Se eu me jogasse da escada talvez quebrasse uma perna e tivesse de ir para o hospital. Nenhuma dessas soluções pareciam duradouras. A verdade é que mais cedo ou mais tarde eu teria de enfrentar meu pai e quanto mais rápido fosse, mais rápido eu estaria livre. Desci as escadas e o segui para a cozinha sentando na cadeira mais próxima.

Stranger Girl - Audrey Jensen Onde histórias criam vida. Descubra agora