Live For Today

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Levantei mais cedo que o habitual. Tomei um banho rápido e me vesti com a primeira roupa que encontrei no closet. Desci as escadas o mais rápido e silenciosamente possível com o intuito de não acordar meu pai e de sair antes que ele levantasse. A noite passada tinha sido péssima e hoje minha aparência estava deixando isso explícito. Tampouco tinha conseguido dormir, passei a noite em claro criando teorias sobre a season finale de ' The walking dead ' na esperança de que isso fizesse com que o vídeo viral " Chupação de Audrey " sumisse da minha mente. Acho que consegui cochilar cerca de 20 minutos e só.
Já fora de casa pude perceber que nem havia amanhecido, tudo estava uma escuridão completa. Decidi ir caminhando afinal a primeira aula só começaria dali duas horas. Peguei o celular em mãos, estava desligado desde ontem e minha vontade era me livrar dele. Nem conseguia pensar em quantas mensagens ofensivas, odiosas e nojentas eu já teria recebido. Mas tudo o que se passava na minha cabeça no momento era a Rachel.
Liguei o celular sem me conectar a Internet, selecionei o contato dela e encaminhei :

" Entra em contato comigo o mais rápido possível ok? Vai ficar tudo bem. Amo você"

No caminho passei em uma cafeteria pra toma café da manhã e passar o tempo, assim que ingeri os primeiros goles do café expresso meu celular tocou, atendi apressadamente ao ler o nome de Rachel na tela

- Rachs? Oi, como você está? Você viu o vídeo? - as palavras corriam embaralhadas da minha boca, meu coração estava acelerarado.

- Como eu não veria, está em todo lugar.

-Eu sei. Você está bem? Seus pais assistiram?

-Estou me sentindo humilhada Audrey. Não vou a escola hoje, meus pais falaram durante horas, minha mãe nem me olha, não sei o que fazer. - Ela falava cochichando e pausadamente mas era nítido que ela estava chorando.

- Não se sinta assim. Você não tem que ter vergonha do que sente Rachel. Nada disso é errado tá legal? A gente vai resolver. Você consegue me encontrar? - por cerca de minutos eu só ouvia sua respiração forte. Depois de algum tempo ela respondeu

- Meus pais me proibiram de te ver. Eu acho que a gente até consegue,mas só se for a noite.

- Posso passar aí a meia noite? Posso te encontrar na varanda do seu quarto.

- Tudo bem, vou estar acordada. Preciso desligar tá? Amo você. - ela desligou sem que eu pudesse responder.

Guardei o celular e me levantei com o expresso em mãos, ficar sentada só me fazia pensar sobre o que me esperava na escola. Quando sai da cafeteria percebi que minhas mãos estavam suadas e meu batimento cardíaco acelerado, eu não conseguia parar de pensar na Rachel e me dei conta que me sentia culpada. Culpada de todas as formas possíveis, eu a havia colocado nessa situação. Ela insistia pra que nossa relação ficasse em segredo, aos poucos eu fui motivando ela a sairmos no meu carro e do meu quarto para irmos a parques e cinemas mesmo que mais longe do centro, sempre quis que tivessemos uma relação normal, com direito a passeios públicos. E agora isso. Não só me sentia culpada por fazê-la sair, mas algo em mim me dizia com certeza plena que o vídeo viral postado ontem era coisa de Nina Patterson. E se eu estivesse certa e a vadia da Nina tivesse filmado e postado, isso era minha culpa também. Afinal eu conhecia a Nina a anos e sabia que ela era capaz de acabar com a vida social de alguém em questão de minutos, ela vinha destruindo a minha desde a quarta série. Olhei no relógio e era 6:20, entrei de mal grado pelo portão do colégio que já estava começando a encher de alunos, puxei a câmera do bolso, gravar os acontecimentos do meu dia a dia já era um hábito e uma ótima maneira de me concentrar e ignorar quem estivesse ao redor. Hoje porém, ignorar parecia uma técnica bem impossível. Enquanto caminhava até o pátio principal a cada passo eu era apontada. Grupos de garotos nojentos com os hormônios a flor da pele gritavam " pagação de garota com garota ao vivo pago 50 dólares" " se você for lá em casa hoje a noite te apresento minha prima, ela gosta da sua fruta" caminhei o mais rápido possível, sem me permitir virar o rosto e meter um soco na cara dos imbecis, com a câmera na mão vi de relance o garoto magricela de cabelos castanhos correndo em minha direção.

- Olha só! A estrela do momento! - continuei caminhando e virei a câmera em direção ao rosto dele.

- Hoje vai ser excepcionalmente terrível. - eu disse voltando a câmera pra frente com desânimo.

- Ah O que? você adora terça-feira mexicana! - ele sorria e seus olhos cor de mel pareciam intrigados porém divertidos.

- Tudo bem Noah, desabafe.

- A Rachel? Sério? A antisocial da escola católica é sua amante lésbica e eu descubro isso pelo YouTube ? Que tipo de melhor amiga é você?

- Não fui eu quem fiz o vídeo!

- Sim, a qualidade inferior do vídeo deixou isso bem claro, mas agora se pudermos voltar a parte do lesbianismo... - parei de caminhar e fiquei de frente pra ele, ele parou também.

- Eu não sou lésbica! Assunto encerrado. - falei olhando pra ele, ele concordou com a cabeça sorrindo.

Um grupo de garotas que passavam apontaram pra mim e começaram a rir "ela acabou de olhar pra mim" disse uma, olhei cabisbaixa pro Noah e suspirei.

- Ei, tem alguma coisa que eu possa fazer?

- Pode retirar o vídeo?

- Na verdade ele já foi retirado. Provavelmente alguém denunciou ou algo do tipo.

- Ok, obrigada por tentar.

- Que se danem eles certo? - Ele socou levemente meu ombro e eu retribui. Seguimos andando em direção a sala de aula, esse provavelmente era um dos piores dias da minha vida mas eu senti um alívio fora do comum e um pesar imenso sair dos meus ombros só por saber que o Noah estava ali do meu lado e que eu sempre teria seu apoio.

Stranger Girl - Audrey Jensen Onde histórias criam vida. Descubra agora