Encontro inesperado.

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Como sempre fazia quando precisava ficar sozinha, Lily foi para a pequena lanchonete Sabor do Biscoito. Era um nome estranho, mas tudo lá era aconchegante, até mesmo o chiado dos hambúrgueres ou o apito da cafeteira.

Aquele era o lugar que Lily procurava como refúgio. Todos os funcionários já a conheciam e ela era sempre acolhida. Gostava de se sentar no ultimo banco onde era mais escuro. Antes havia uma placa de neon com "café" escrito nela, mas um dia um homem que havia sido deixado pela noiva uma semana antes do casamento fora curar a ressaca da primeira noite de solteiro e tropeçou no pé da mesa. A caneca de café saiu voando e atingiu o neon que piscava. Aquele acabou se tornando o lugar mais gostoso de toda a lanchonete porque ninguém gostava de sentar lá, não dava pra ver a porta nem ninguém que chegava.

Levou uma hora caminhando, chegou assim que começou a garoar. Já estava escuro como noite, a tempestade seria forte. Muita gente estava entrando com medo da chuva. Aproveitavam para sentar e pedir alguma coisa para comer. Era bem familiar e todos estavam felizes mesmo com seus problemas. Todos com sorrisos no rosto e apenas alegres e conversando. Lily os invejava de certa forma. Ela estava sempre pensando em como ajudar a mãe e conseguir tira boas notas. Foi direto para seu banco e se sentiu à vontade, ficou olhando a garoa vagarosamente se transformar em chuva e a chuva vagarosamente se transformar em raios, trovoes e uma tempestade de dar medo.

Agora que estava mais calma longe de Petros e de toda aquela confusão de casa, queria muito Mey ali. Ela sabia animar até a pessoa mais triste. Talvez por isso ela nunca tenha ido a um velório. Esse é o único momento em que devemos deixar as pessoas terem os sentimentos que quiserem. Afinal o velório é apenas um ritual para os vivos. As flores, as lagrimas e todos os pedidos de desculpas são apenas formas de as pessoas tirarem o peso da culpa das costas.

Uns três anos antes, a tia de Mey, irmã da mãe dela, morreu em um acidente de carro. Todos foram, até Mathieu, mas ela ficou na casa de Lily por uma semana, não chorou nem se lamentou apenas disse que agora finamente sua tia estava em paz e sem os problemas de saúde que todos sabiam que ela tinha. Ela ao invés de ficar triste parece que se sente aliviada.

Lily estava tão distraída que não percebeu que alguém havia sentado no banco em sua frente. Na verdade demorou um pouco até que visse aqueles, que já estavam se tornando familiares, par de olhos a observando com tanta curiosidade.

Notando sua presença, ela se endireitou no banco. Até ali esse garoto tinha que aparecer.

- Não sei se percebeu – Disse tentando ser o mais grossa possível - Mas essa mesa já está ocupada.

Lily falhou miseravelmente em sua tentativa de mandá-lo embora. Em vez disso Jeff deu apenas um meio sorriso cheio de si e disse:

- Bom tem dois bancos então, suponho, que seja para duas pessoas.

Ele tinha a voz meio rouca que Lily não tinha ouvido direito na sala de aula. Não bastava ele se mostrar completamente insuportável no primeiro dia ainda tinha logo que dar de cara com ele no seu lugar preferido.

- Para duas pessoas que se conhecem, são amigas e não para duas pessoas que se viram por algumas horas apenas. Você está me seguindo?

Era uma pergunta ridícula e Lily sabia. Era obvio que ele não a estava seguindo. Que coisa mais paranóica.

- É pra falar a verdade segui você sim desde que saiu da escola até sua casa. Depois vi você tomando banho e aí te segui pra cá.

- Eu não tomei banho antes de vir.

Lily o encarou e seu sorriso aumentou. Ela não devia ter dito aquilo, era tudo que ele queria ouvir. Ela precisava sair dali Jeff era hipnotizante. Seu cheiro era familiar, mas ela nem sequer conseguia saber o que a lembrava ou do que era. Para falar a verdade já era um grande avanço ela se lembrar de respirar.

IncontestavelOnde histórias criam vida. Descubra agora