A caçada atras do gato não havia terminado e não iria terminar tão cedo. Pedi para uma amiga me ajudar com isso, como ela conhece muita gente, foi fácil de conseguir. Ela me ligou e perguntou se tinha como ir buscar na casa dela a noite, aproveitaríamos para conversar e desabafar sobre a vida.
Eu tinha algumas amigas muito importantes, mas a maioria com o tempo, você perde o contato ou os interesses mudam, algo que eu sempre tentei conservar eram boas amizades. Era como se eu fosse uma peneira, 'amizade' que não me servia era descartada.
Estava atendendo um cliente, uns 53 anos, estavam pensando em comprar um carro para a filha, que seria o primeiro dela. Ele não parecia ter muito dinheiro, então enquanto conversávamos tentei descobrir algumas coisas, não por ser enxerida ou querer saber de mais, mas quando você já não tem muito dinheiro, geralmente você está comprando um carro com anos de economias e meu atendimento muda, tentando oferecer o carro mais barato e com uma boa qualidade, não que eu não faça isso aos outros, mas quando você sabe como é guardar por muito tempo dinheiro para conseguir algo, você necessita de alguém que te venda algo que não vá dar tantas despesas extras.
No meio da conversa meu chefe me chama. José o nome.
Ele estava meio pálido e afoito. Se sentou e pediu que eu me sentasse.
Está indo tudo bem?
Sim, por quê? As vendas estão boas, quer dizer, razoavelmente... Mas melhores que mês passado.
Sim, mas digo sobre sua vida. Como as coisas estão?
Bem... Bom, nada mudou sabe, continua tudo igual, mesmos dias, mesmas pessoas, mesmos lugares.
Você está feliz?
Não sei se a palavra certa seria feliz. - Esbocei.
Ele abriu um sorriso largo, bem largo e levantou, puxando as calças teimosas que insistiam em alcançar o chão.
Eu tenho uma ideia. Não sei se será a mais sensata mas gostaria de tentar. Você gosta de cozinhar e eu gosto de cozinhar, acho que deveríamos abrir um restaurante, aqui do lado, há uma sala para alugar, seria pequeno.
Com que dinheiro? - Falei.
Eu tenho umas economias, posso dar a primeira entrada e você me ajuda com um pouco todo mês, posso te dar um aumento também.
Ele deu um pulinho para a direita e falou: eu até já posso ver, as pessoas terão três opções, comprarem um carro ou comerem uma comida deliciosa e ou fazer os dois.
Ou não fazer nenhum!
Tudo bem, admito que pareci pessimista, mas finge que isso aqui é um filme e vamos voltar um anos atrás.
Imagine José e eu, tentando vender árvores de natal, porque ele conseguiu comprar muitas de um amigo que iria vender um terreno. Imagina também que foi um desastre, ninguém comprou. Minto! Uma mulher comprou, das 45 árvores que tínhamos.
Voltando.
Ah, vamos lá. Tentei pensar positivo. - Para você não se perder, José falou isso.
Eu realmente quero, mas não vai dar certo. Somos em dois, teríamos que contratar mais pessoais, ou seja, mais dinheiro.
Olha, não pense agora, vá para casa e veja se não é uma boa ideia, de uma chance. Eu peço. - Ele disse enquanto se sentava novamente.
Tudo bem, vou pensar.
ISSO! - Ele disse.
Voltei para minha mesa, onde organizei dezenas de arquivos e fui para casa as 21:00. Chegando em casa lembrei que tinha que passar na casa da minha amiga, liguei para ela e disse que me atrasaria, mas que já estava a caminho - a mentira mais contada, vamos admitir -
Cheguei no prédio dela, era um dos mais altos daquele bairro e tinha tudo que um bom condomínio deveria ter. Chegando ao andar dela, apertei a campainha e sem muito hesitar ela abriu quase que em seguida a porta. A cumprimentei com um abraço forte e pude sentir que ela estava tremula, nervosa, preocupada com algo.
Avistei o gatinho, que dormia no sofá. Sentamos perto uma da outra, como sempre fizemos, mas isso pareceu a incomodar. Ela se aproximou, sem fazer contato visual, botou a mão em minha perna, bem mais a cima do normal que uma amiga colocaria. Levantou a cabeça e olhou no meio dos meus olhos. Bem lá no fundinho, encarando vagarosamente meu rosto, me olhou como se pedisse paciência e que eu entendesse. Ela parecia muito confusa. Eu não entendi o que estava acontecendo até ela tentar me beijar. Foi estranho, porque eu nunca tinha imaginado. Fui com o corpo um pouquinho para trás e ela começou a chorar. Tocou novamente a minha perna e coloquei minha mão sobre a dela.
Ela disse, bem baixinho: Me desculpa, tá?
Tudo bem, não tem porque se desculpar.
Ela se levantou. Esfregou as mãos no rosto com força, como se quisesse sair de si mesma.
Ela disse: Eu não deveria ter feito isso, mas, eu gosto de você, acho que deixei passar dos limites, mas não sei o que fazer.
Permaneci sentada, mas fui mais perto dela. Peguei sua mão.
Senta aqui. - Falei
Ela sentou sem pensar, como se estivesse aliviada, como se esperasse algo de mim.
Eu disse: Eu tô aqui, entende? Mas eu não vou te enganar, não vejo problemas nisso, mas eu não sinto isso por você, tudo bem?
Ela me olhou com um ar de recém esperança destruída, mas sorriu com o canto da boca.
Disse: Eu sei. Mas eu senti que deveria tentar.
Ficamos conversando um pouco, sobre tudo e como nossas vidas estavam, quando nós duas estávamos mais calmas, fui para casa.
Fiquei logas horas pensando no que havia acontecido, era difícil para ela, imaginei. Adormeci vendo algum programa de TV, não sonhei nesta noite.
No dia seguinte, fiz tudo como sempre faço, a unica coisa que mudou, foi que acordei varias vezes a noite e as 5:00 horas já estava em pé. Trabalhei como sempre trabalho, ouvindo José falar de suas ideias mirabolantes, os clientes reclamando do preço dos carros, meus pais me ligando para reclamarem de suas vidas e se já não bastasse, estava frio, mas um frio ruim, de doer os dedinhos, de deixar o rosto congelado e te tirar toda e qualquer vontade de fazer algo. Sai do trabalho as 7:30, todas as quintas eu saia bem mais cedinho. Parei em uma padaria próxima ao meu trabalho e comprei um chocolate quente e uns bolinhos de aveia e mel, comi quanto olhava meu Instagram. Fui para casa, quase cheguei congelada, porque sabe como é bicicleta. Tomei um banho, fiz uma pipoca, assisti a um documentário sobre a Terra, peguei no sono.
Meu primeiro flash de lembrança me fez enxergar que eu estava atrasada para algo, outras pessoas ao meu redor, que no sonho eram próximas a mim, estavam no mesmo barco. Havia um caminhão e precisávamos entrar nele e sair dali, uma das mulheres que estavam ali, entrou no caminhão e fez com que ele ficasse em uma decida, como se já não bastasse, conseguiu trancar a porta na calçada, que era mais alta. Não me perguntem, nada faz sentido.
Tentamos entrar e quando conseguimos, essa mulher tentou me matar.
Pulamos dessa cena para em frente a um local, como se fosse uma fábrica gigante, mas antiga. Estava um dia nublado, haviam muitas árvores ao redor. Algo me dizia que lá dentro, um bebê estava. Não me lembro o que esse bebê representava e nem como sabíamos que ele estava lá, mas tínhamos que o salvar. Entramos. Era tudo bem antigo. Mal cuidado, com infiltrações nas paredes, manchas enormes e escuras no chão. Íamos caminhando pelo local e eu senti que alguém estava nos observando.
Chegamos até a sala onde o bebê estava, na sala, só o bebê e um telefone estrategicamente colocado ao lado do berço. Ligamos para uma moça que frequentava esse lugar para cuidar dos doentes, sim, haviam pessoas ali. Em menos de 2 minutos, foi bem menos que isso, porque parece que quando sonhamos não conseguimos calcular a hora como na vida real. Estávamos todos olhando para a janela, de frente ao berço, do lado do telefone. Tínhamos uma visão da porta, ela chegou, tocou o interfone e entrou. Acho que não tivemos um encontro com ela, chegou uma moça, outra moça, tamanho normal, nos ameaçando. Eu comecei a correr, inclusive tinha algo correndo comigo, não tive uma visão do que era. Corri descontroladamente pelo lugar. Pelas salas vazias e sujas, até chegar em uma cozinha de hotel, enorme. Várias pessoas trabalhando ali, todas me encararam com raiva, pareciam deformadas, corri pelos cantos, pelos meios, me esquivando de todas elas, das panelas quentes. Depois encontrei todos que estavam comigo. Voltei a correr, até chegar numa saída, era um pátio enorme, com um corredor de bancos até o final do pátio, esse corredor era coberto com um telhadinho bem fino, como se fosse um lugar onde os caminhões fizessem entregas de comidas ou entregas de qualquer coisa. Eu estava do lado da porta, e ela, a moça que nos havia ameaçado, do lado de fora mais longe de mim. Pisquei os olhos e trocamos de posição, ela foi para onde eu estava e vise versa. Me ameaçou - ela gostava de fazer isso -Disse que enforcaria aquele que estava do meu lado. Não pude ver o que era ou quem era, fiquei em um pico de medo e adrenalina e quando estava tentando resolver tudo aquilo, tudo ficou preto e eu apareci dentro de um carro, um carro pequeno, apertado, com duas mulheres na frente, um cara do meu lado tagarelando e uma criança do lado dele, todos estavam rindo. Estavam feliz, eu não os conhecia. Estava calma. Fiquei um tempo nesse carro, deixando que me levassem para onde pretendiam. Fui percebendo que nada disso tinha haver com o outro acontecido,estava em outro sonho. Então terminou.
Acordei. Fui vem que horas eram, DUAS DA MANHÃ. Fiquei feliz que poderia dormir mais. Mexi um pouco no celular até pegar no sono.
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