Suicídio Duplo

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Sabe quando tudo dá errado a sua volta? É horrível, eu sei. Mas pior ainda é quando tudo dá errado há anos. É todo aquele clichê de filme romântico, não conheço toda minha família, tive que morar em orfanatos até ter idade suficiente para poder criar a minha irmã. A melhor oportunidade que já tive na minha vida foi poder ser alfabetizada, e terminar o ensino médio com 16 anos.

Entrei numa faculdade, curso de direito, 5 anos exaustivos, consegui um emprego num escritório de advocacia, mais dois anos até obter reconhecimento e assim fui ascendendo cargos, até me tornar uma das principais executivas.

Tudo isso em 27 anos de existência conturbada.

Subi na vida por tudo, e consegui cair por nada. Uma sombra se pôs na minha frente, e eu já não conseguia enxergar o futuro, nem o que havia conquistado de bom no meu passado. Estava completando 27 anos, e só havia uma ideia na minha mente, cometer suicídio.

Queria entrar para o Clube dos 27, quem sabe não conheceria finalmente o Jimi Hendrix, Kurt Cobain ou até Amy Winehouse, mas eles são lembrados, deixaram um legado, eu jamais poderia fazer história, talvez um dia de luto na empresa, somente.

Cheguei em casa, cansada, era noite, tirei minha roupa, fui direto ao banheiro, tentando não fazer barulho suficiente para acordar Amélia. Peguei uma bebida no meu armário, agora estava tudo fora do lugar, minha vida havia se tornado uma tragédia, até as bebidas haviam se espalhado pela casa, e o pior de tudo, estavam quentes.

Me droguei com tudo que pude, sentada no chão, chorando desesperadamente. Cortei todo meu corpo e agora havia muito sangue espalhado por todo canto, preparei minha banheira, tomei remédios para dormir profundamente, a quantidade suficiente para não ter forças para resistir à engolir tanta água ou procurar ajuda pelos meus ferimentos.

Estava tão drogada que consegui perder rapidamente todos meus sentidos, o universo parecia modificar segundo minha percepção, não sabia em que dimensão me encontrava.

Lá estava eu na banheira, e também fora dela, como uma segunda personagem, um espírito, estava empurrando o meu corpo, que não resistia, mas agora parecia livre de cortes. Meu espírito não parou, bebi muita água, enchi meus pulmões. Tornei-me roxa, e meus olhos continuavam abertos, porém sem o menor sinal de vida, eu estava me encarando e refletindo no que eu havia me transformado.

Eu me matei, mas continuava viva fora da carne, não sabia o que diabos havia acontecido, o meu espírito ainda mostrava forma definida, olhei-me no espelho, e tudo começou a ficar embaçado, senti que finalmente alcançaria a paz eterna.

Acordei de manhã, ainda viva, vivíssima, carne e espírito reunidos, tinha que achar a pistola, acabar com isso.

Eu sou uma assassina.

Tinha uma irmã gêmea.

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⏰ Última atualização: Oct 03, 2017 ⏰

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