"Deus! Perdoe-me de todos os meus pecados, eu não pensei com clareza e acabei agindo por impulso. Não queria ter feito aquilo, o senhor sabe disso. Eu sei que haverá consequências, grandes consequências, mas me perdoe. Por favor. Dê-me seu perdão!"
Gabriele levantou a cabeça, colocou-a em seus próprios braços que estavam apoiados no banco da frente e olhou para a imagem de Jesus Cristo na cruz. As lágrimas que antes estavam escorrendo pelo seu rosto agora escorriam pelos seus braços também. Ela queria chorar mais alto, queria arrancar todo esse sofrimento de dentro do seu peito. Mas não podia. Não dentro da Igreja.
Com as mãos em sinal de oração e a cabeça apoiada nelas, mais uma vez, em silêncio, pediu perdão a Deus.
A tempestade lá fora estava diminuindo. A freira que a deixará entrar estava varrendo a igreja da cidade. Gabriele podia ouvir o barulho da vassoura limpando o chão de madeira.
Passou a blusa no rosto e se levantou. Não podia demorar mais, o ônibus partiria daqui a cinco minutos.
A freira a olhou se levantar e perguntou:
- Já vai?
- Sim, o ônibus saíra da rodoviária daqui a cinco minutos. Não posso perdê-lo.
- Vai viajar? Eu gostava de viajar quando tinha sua idade. - a freira apoiou o braço no cabo da vassoura. - Que bom que veio a casa do senhor antes. Aproveitou para pedir proteção? É sempre bom, principalmente quando está chovendo muito forte.
- Não, eu esqueci. - disse Gabriele limpando as lágrimas de seu rosto.
A freira a olhou com piedade. Parecia amargurada com alguma coisa.
- Não tem problema, eu peço para você. Agora vá, senão vai perder sua viagem. Que Deus te abençoe.
- Obrigada...
- Irmã Camélia. - disse estendendo o braço para Gabriele.
- Gabriele. - o sorriso da Irmã Camélia a fez sorrir também. - Obrigada.
A igreja ficava perto da rodoviária. Isso era bom, quase ninguém veria ela.
***
- Os documentos da senhorita, por favor. - a calma do atendente estava fazendo Gabriele ficar nervosa. O ônibus partiria em menos de um minuto e ele não estava ajudando. - Quinze reais e cinquenta centavos. Vai pagar em dinheiro?
- Sim.
- "Passageiros da aviação Londorne do horário das onze horas e quarenta e cinc..."
- Aqui o troco e a passagem. Obrigado.
- "... da plataforma quatro, e uma boa viagem.".
Gabriele pegou o troco e a passagem, e saiu correndo. Ela podia ouvir o barulho das suas coisas se mexendo dentro da mochila. Rezou para que a garrafa de água não abrisse e molhasse tudo.
Felizmente o ônibus não havia partido ainda.
Da janela ela podia ver a sua cidade. Da rodoviária até a praça central havia um pequeno morrinho para você descer. A concentração de casas era mais forte perto da praça, já que o comercio era todo ao redor dela. Era uma cidade pequena, porém bonita. Mas chovia muito.
Os pingos de chuva escorriam pela janela, Gabriele ficou tão concentrada nos pingos que nem percebeu que o ônibus já estava em movimento e por estar tão cansada de tudo que aconteceu hoje, acabou adormecendo.
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Rota de Fuga (Conto)
Mystery / Thriller"A noite passada, porém, foi como uma libertação. Não havia príncipes montados em cavalos brancos para socorrer a princesa acorrentada. A princesa achou sua própria força e se libertou, mas o dragão foi muito traiçoeiro e fez de refém a única coisa...