Era mais ou menos três e cinquenta quando o maior medo de Gabriele se tornou realidade. A estrada estava escura, ninguém era doido suficiente para dirigir pela estrada nessa tempestade, todos dentro do ônibus podiam ver muito bem as cores da sirene da polícia se aproximando do ônibus e podiam ouvi-la também.
O motorista encostou o ônibus no meio fio.
"Estou ferrada. Muito ferrada." Pensou Gabriele.
Os cochichos dos passageiros logo se tornaram altas conversas.
- O que será que aconteceu?
- Ah não! O motorista, estou atrasado para meu voo.
-Deve ter acontecido alguma coisa na estrada.
Gabriele começou a tremer, não poderia ser pega, não queria ser presa.
As janelas do ônibus estavam abertas. Gabriele estava sentada no fundo, ninguém podia vê-la e para sua sorte, as luzes não tinha se ascendido ainda.
Não podia pensar muito. Iria vigiar os policiais e quando fosse a hora iria pular.
Poderia dar errado? Poderia. Mas sua estratégia estava toda montada. Ela iria pular do ônibus e iria atravessar a linha do trem, que estava a direita da estrada. Sua fé era muito grande e estava torcendo para que viesse um trem para os policiais não conseguirem passar para o outro lado ela poder fugir.
"Ainda bem que eu vim de tênis"
Quando os policiais saíram da viatura e começaram a se dirigir para o ônibus, Gabriele foi para o lado esquerdo do ônibus (que não era esses ônibus que a janela só abre trinta centímetros, o ônibus tinha janelas enormes). O único desafio foi tentar pular sem fazer barulho e sem balançar demais o ônibus, que balançou um pouco, mas os tênis ajudaram muito na hora de abafar o som. Gabriele deu a volta por trás e esperou os policiais entrarem no ônibus.
Sua lanterna já estava em suas mãos, só a usaria se eles a avistassem.
A deixa foi dada e Gabriele saiu em disparada para a linha do trem. E com toda a certeza, os policiais a avistaram.
- Olhem, ela esta fugindo. – gritou um dos policiais, que Gabriele pode reconhecer com sendo uma voz de mulher.
- Vamos, vamos. – gritou outro policial.
Pela janela parecia fácil o caminho até a linha do trem, mas vários obstáculos que Gabriele não tinha percebido dificultaram a sua fuga. Sua lanterna estava acesa e mesmo assim ela não fazia muita ideia para onde estava indo. Mas não parou de correr, não podia parar de correr.
- Ei, você ai, pare! – ouviu a policial gritar.
- Não conseguirá fugir. – gritou outro policial.
Ela ouviu um apito soar e um alívio tomou conta de seu peito. O trem estava vindo. Podia sentir as vibrações das linhas do trem. Ou imaginava que podia. Correu mais rápido ainda. Estava cansada, mas não podia parar.
- Usem a arma de choque.
"O que?" Gabriele começou a se desesperar, seu corpo começou a desacelerar, estava quase cedendo. "Não! Estou quase conseguindo. Só mais um pouco."
Os faróis do trem iluminaram os trilhos, ele estava se aproximando.
Gabriele estava quase chegando perto da linha do trem quando um disparo a assustou e fez ela tropeçar e cair no chão.
- A acertamos?
- Acho que não.
Eles não a acertaram, mas estavam quase se aproximando. Gabriele ouviu a buzina do trem. Ela não tinha mais tempo para pensar. O trem estava se aproximando.
Ela se levantou e continuou a correr.
- Gabriele pare! Ou teremos que atirar em você. – disse a policial.
Tudo o que aconteceu agora, para Gabriele, foi como câmera lenta. O trem e ela pareciam dois carros correndo na mesma velocidade, na rota de um ponto em comum. Naquela hora, Gabriele não pensava em outra coisa a não ser sua mãe. Sua fonte de inspiração, que teve os piores últimos dias de sua vida.
Seu padrasto era um dragão terrível que mantinha uma princesa acorrentada em seu castelo e que havia assassinado vários príncipes que tentavam resgata-la. A noite passada, porém, foi como uma libertação. Não havia príncipes montados em cavalos brancos para socorrer a princesa acorrentada. A princesa achou sua própria força e se libertou, mas o dragão foi muito traiçoeiro e fez de refém a única coisa preciosa na vida da bela princesa. Sua coroa. Era ela quem sempre lembrava a princesa de quem ela era e da força que ela tinha. A princesa foi valente enfrentando o dragão, mas não o suficiente para derrota-lo, então a coroa mostrou toda a sua fúria e o derrotou por um descuido dele, mas infelizmente, para a pobre princesa, o reinado havia acabado. E a coroa ficou sozinha.
Se vocês estão se perguntando se Gabriele era a coroa, eu os respondo, sim, Gabriele era a coroa. Naquela noite, vendo o corpo de sua mãe no chão do banheiro já sem vida, sua fúria veio à tona e quando seu padrasto notou que Gabriele apontava uma arma para sua cabeça, seus movimentos foram lentos comparados à rapidez dos dedos de Gabriele.
"POW'"
Um raio. Um tiro. Uma pancada.
Quando o trem acabou de passar, o corpo de Gabriele estava estendido sobre os trilhos, desfigurado e ensanguentado. A notícia da jovem menina que pulou na frente do trem depois de matar a mãe e o padrasto, chocou todos na sua cidade natal e estava estampado em todos os principais jornais do mundo todo. A freira, que a deixou entrar na igreja minutos antes de ela pegar um ônibus e fugir, disse que a menina não aparentava ser assassina muito menos suicida.
- Parecia uma boa menina, estava amargurada earrependida de alguma coisa. Ficou alguns minutos, talvez dois, e quando selevantou para sair perguntei se já ia, ela disse que iria perder o ônibus,estava atrasada. Achei que iria viajar, mas pelo visto estava montando sua rotade fuga.
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Rota de Fuga (Conto)
Mystery / Thriller"A noite passada, porém, foi como uma libertação. Não havia príncipes montados em cavalos brancos para socorrer a princesa acorrentada. A princesa achou sua própria força e se libertou, mas o dragão foi muito traiçoeiro e fez de refém a única coisa...