Capítulo 2

5 0 0
                                    


- Senhorita? Acorde.

Gabriele acordou. Estava ainda dentro do ônibus, mas ele não estava mais em movimento. Havia chegado à rodoviária da cidade vizinha.

- Que horas são? - perguntou ao motorista.

- Agora são duas e meia da manhã.

- Já chegamos? – perguntou.

- Não, estamos ainda na segunda cidade. Por causa da forte chuva tive que reduzir a velocidade. Só te acordei para ver se você queria comer alguma coisa, não vamos poder parar na próxima rodoviária, ela está inundada.

- Ah sim. – ela se posicionou na poltrona e olhou para fora. - Não estou com fome, mesmo assim obrigada.

- Não há de que.

O motorista saiu do ônibus e Gabriele percebeu que era a única que ainda estava ali. Estava com medo de ir para fora, a notícia já poderia ter se espalhando por meio da internet e da TV, ela não queria ser reconhecida, mas ela precisava ir ao banheiro. Felizmente esse ônibus tinha um banheiro, ele era pequeno, mas bem ajeitado. Havia um espelho e uma bela pia. O vaso não era muito funcional devido ao espaço, mas servia.

Gabriele se olhou no espelho e mesmo não querendo, a noite de ontem veio como um surto. Viu-se novamente naquele maldito banheiro da casa onde morava com sua mãe e com seu padrasto. Ele ameaçava Gabriele de morte por ser intrometida. Sua mãe se posiciona na frente dele, em sinal de proteção a filha. Um soco a acerta na bochecha.

A mãe caída no banheiro, o padrasto pegando Gabriele pelo braço, deixando marcas. A arremessando contra a parede. Mais um tapa e mais um soco. Aquilo tudo era demais para a cabeça de Gabriele. Sua mãe não merecia tal agressão.

Quando voltou a si, as lágrimas estavam rolando pelo seu rosto, ela não queria mais se lembrar do que aconteceu, mas era inevitável. Ela teria que conviver com aquilo pelo resto de sua vida. Era o seu fardo. A sua cruz.

A raiva em seu peito era incontrolável, ela estava muito agitada, sentiu vontade de quebrar tudo. Olhou de novo para o espelho e viu seu longo e loiro cabelo, igual da sua mãe.

"Mãe!" pensou com tristeza, acompanhado de soluços de choro.

- AHHHHHHHHHHHHH. – gritou.

Abriu com toda força a porta do banheiro e foi direto para sua bolsa. Pegou o canivete que havia ganhado quando participava das escoteiras da escola e foi para frente do espelho. Posicionou-o na metade de uma mecha de cabelo e a cortou no meio, que ficou na altura do queixo. Fez isso até seu cabelo ficar em um tamanho só.

Quando todos voltarampara o ônibus, Gabriele já estava em sua poltrona de novo. O capuz de seucasaco escondia a prova de seu surto. Seus olhos olhavam fixamente para a janelado ônibus. A raiva já estava controlada e suas lágrimas haviam se secado.     

Rota de Fuga (Conto)Onde histórias criam vida. Descubra agora