Animus Furandi Circus

Alea iacta est *

Meus queridos espectadores, se aproximem! Vou lhes mostrar um ocorrido, um fenômeno desconhecido para vocês...permitam-me explorar o inexplicável!

O circo estava lotado, cheio naquela noite. Nada que já não fosse normal. O ser humano é assim: nojento, asqueroso por natureza e o natural seria sentir atração pela degradação. Voilà! Aqui estamos, no âmbito da desgraça humana...o circo de horrores! Temos várias atrações pra você meu caro...a menina deusa Samita, vinda diretamente do Nepal com seus 4 braços! Acreditavam ser a reencarnação de uma deusa, até que ofereci dinheiro para que seus pais não tivessem que comer restos...trágico! Nosso querido Dajo, o homem que tem seu corpo perfurado por espadas e não morre! Nossa desejada Josephene, com quatro pernas funcionais e duas vaginas! (Caso tenham interesse, podemos agendar visitas intimas!). Ella é apresentada como a Mulher Camelo, com pernas que dobram para trás! E por ultimo, mas não menos importante, Isaac, o homem esqueleto da pele elástica! Mas o melhor, meus caros, sempre acontece nos bastidores.

Assim como disse, naquela noite estava tudo lotado, o ultimo número já havia sido apresentado e agora, vamos a procura de espíritos que se julgam corajosos... 

 - Temos um grande número esperando por aquele que se julgam capazes de realizá-lo! Porém é um show limitado apenas a poucas pessoas...exclusivo. Sabem como funciona...existem pessoas especiais, "escolhidas a dedo" eu diria. Por isso hoje irei escolher alguns de vocês e podem decidir participar ou não! Mas não se preocupem se não for escolhido: um dia pode ser você. Pois bem, vejamos...Você com a jaqueta de couro, isso! Venha cá! Hm...Você com o cabelo comprido...isso mesmo garota dos olhos negros! E você, com a pele cor de canela...sim, será perfeito! Digam seus nomes!

- Joane - a menina estava ruborizada...quão fofa era!

- Lucca - assim que parou em frente ao publico, fechou sua jaqueta e colocou as mãos no bolso, medindo a pequena Joane de cima a baixo.

- Pierre - oh...que jovem admirável! Vi a bondade em seus olhos, mas por quanto tempo?

- Ok, temos nossos ganhadores da noite! Palmas para eles!

O som expandiu-se sob a tenda toda, sendo audível até o centro da cidade onde o circo estava acampado. O mestre de picadeiro os dirigiu até uma outra tenda, atrás da principal e tão grande quanto ela, porém suas cores não eram de um carmim e azul cobalto vivo como da tenda que até então ocupavam: era uma tenda feita de lona velha, desgastada, sem o brilho ou a cor dos circos. A entrada da tenda foi aberta, e dentro não se encontrava os palanques naturais para os espectadores se sentarem, mas sim uma única e pequena tenda. Ao redor não haviam luzes que clareassem o interior, mas apenas pequenos focos de luz feito com velas já utilizadas pela metade, o que dava um cheiro de cera velha no ar. Após os jovens entrarem, ficaram parados em frente a tenda menor que havia no centro do picadeiro, e confusos observavam o redor como uma presa que busca uma fuga. 

 - Dentro desta tenda encontram-se pequenas apresentações menores, cinco pra ser mais exato. Divirtam-se.

A jovem Joane parecia confusa, encontrava-se ali, com três homens - aliás, dois, já que o mestre de picadeiro os havia abandonado ali -, sem saber do que se tratava. Mal sabia ela que ninguém tinha conhecimento do que havia ali.  Os meninos se entreolharam, voltaram seu olhar para a jovem de olhos negros e então se viraram.

- Uh...prazer em conhece-los, sou Pierre...vocês acreditam nessa história toda? Digo...sei lá, acho estranho tudo isso.

- Prazer em conhece-lo. Bem...nunca ganhei algo na vida, você já? 

- Não...

- Então pois bem. Não é como se algo fosse acontecer. Nós damos uma olhadinha e caímos fora, não é sempre assim?!

- Ah, sei lá. A menina parece assustada...você vem?

- Ah, eu? vou sim...sou Joane.

-  Lucca... Bem, então vamos...chega de papo que quero ver logo o que tem ai. 

Lucca, que até então estava apressado, sem se tocar de nada, segura a tenda para o alto, permitindo que Pierre e Joane entrassem na sua frente. Com o cair da cortina, tudo ficou escuro. Apenas respirações podiam ser ouvidas no silencio que se instaurara. Aos poucos as respirações se dissiparam, esvaíram-se junto com a coragem que até então era aparente e apenas uma coisa podia ser ouvida: a sua própria respiração.

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 *Latim. "A sorte está lançada"