01. Um café, por favor

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Primeiramente: eu odeio nozes.

O próprio título já deve ter me dedurado. Não entendo como gostam tanto delas, porque o gosto é idêntico ao de terra (colocar no açúcar não resolve, acredite), além de fazerem a maior sujeira pela casa inteira. É, foi uma indireta para você, maninho!

Segundamente: eu odeio o Natal com todas as forças.

Não vejo por que enfeitar uma árvore feia com bolinhas que sequer param nos galhos certos. É a época dos parentes chatos fingirem que não se odeiam. As mais estranhas comidas são postas aos montes na mesa, sem me esquecer da pior parte (não citando o especial do Roberto Carlos), a troca de presentes.

No caso, eu dei algo maravilhoso para meu irmão ontem. Comprei o relógio de corrente prateada que ele tanto queria desde o começo do ano. Acabei levando, pelo menos, uma meia hora de agradecimentos. Não era à toa: o seu antigo parecia ter sido feito no século passado.

A desgraça veio depois. Meu pai me deu um par de meias.

Meias. MEIAS LISTRADAS. EU TENHO CARA DE LOUISA CLARK?

Mesmo que eu as esteja usando agora por baixo das botas, ainda não acredito que ele foi capaz de me trair daquela maneira. Tínhamos comprado o relógio juntos, ele viu que dei um duro danado para arranjar dinheiro. No mínimo, foi uma calúnia.

O desenho de linhas azuis e pretas não sai da minha cabeça. Caramba, estou parecendo um palhaço de circo, só levando tortas na cara enquanto todos riem (risada sem noção com direto a barulho de porco no final).

Ao contrário do ódio por essas peças banais, eu amo café e chocolate, tanto que, depois de minha decepção natalina, saí bem cedo com o carro da mamãe (sem permissão, que rebeldia!) até o shopping mais popular da cidade. Tinha um motivo para isso: o Starbucks de lá é muito grande e serve todas as coisas que você imaginar. Como amante nata de seus exemplares, nada melhor que...

Hoje não é meu dia. Caramba, a fila corta metade do shopping. Por que todo mundo deu de tomar um expresso logo hoje?

Não iria gritar com mais ninguém, pelo menos não no meio da praça de alimentação. Seria micão total, mais do que minha cara de decepção quando vi que todos os presentes eram bons, menos o meu.

Decepção ao cubo! Beleza, a terapia foi por água abaixo, então tenho que tentar arrumar alguma coisa para me animar, senão acabarei por piorar minha paranoia.

Ouço o celular apitar. Parece que meus pais ainda não se deram conta do ocorrido. Assim que percebo ser o número do meu melhor amigo na tela, controlo o coração palpitando.

— Feliz Natal, minha deusa grega!

— Cale a boca, Matt.

— Espere, o que houve? Não teve coisa boa ontem?

— Não, foi péssimo. Acredita que meu pai me traiu? Ele me deu UMA MEIA!

— Calma, não é o fim do mundo. Minha irmã me deu uma cueca bem feia, por sinal.

— Não é essa a questão. Eu gastei um dinheiro suado, escolhi com todo o amor. Fala sério, e ele nem viu direito o que comprou!

Mattheus não visualiza a mensagem por alguns segundos. Ah, eu adorava ganhar essas discussões, ele sempre ficava vermelho depois de eu me gabar pela vitória.

— Aposto que meu presente será o melhor. Nem vai se lembrar de que houve um par de meias nessa história.

— São meias, Matt! Ah, você está no shopping agora?

— Bom, eu disse que aceitei o trabalho dessa temporada.

— Que bom, estou aqui!

— Droga, Enna, achei que te pouparia de me ver desse jeito!

— O quê? Você não ia só servir alguns doces?

— Ah, mais ou menos... melhor vir ao centro de eventos.

— Me espere. Estou curiosa!

Bom, não foi de todo o mal receber o pior presente do século. Matt sabe mais do que ninguém das coisas que gosto: talvez eu ganhe chocolates, uma caneca nova de How I Met Your Mother ou aquela camisa de The Walking Dead que vi em nossa loja favorita semana passada.

Ele nunca me decepcionou. Tenho certeza de que será inesquecível.

***

Inesquecível vai ser o tapa que vou dar na cara daquela mulher.

O dia estava péssimo. Na hora em que decido cortar caminho pelo supermercado, me vejo cercada por uma multidão à procura de uma nova safra de castanhas e nozes importada (ah, eca!) inserida em uma promoção relâmpago de fim de ano, mas acho que aquela senhora não viu que eu estava tentando passar. Acabo arremessada contra uma mesa de guloseimas, caindo de cara em um prato cheio de rabanada. Sem contar que desarrumei todo o cenário.

Sinto o caldo escorrer por meu pescoço, a canela me fazendo espirrar feito louca. Ao menor sinal de ardência em meus olhos, começo a lacrimejar tanto que o gerente vem ao meu encontro para me socorrer e ajudar a limpar a bagunça.

— Odeio nozes, Natal, rabanada, meias listradas. Caramba, eu podia odiar dinheiro, para variar!

Saio furiosa do supermercado. Era nítida a diversão estampada na face dos que presenciaram a cena. Como sou sortuda, é capaz de o Faustão me chamar no programa dele para contar sobre essa gafe.

Se bem que eu gosto de assisti-lo nas noites de domingo. Um cachê extra pelos meus micos não seria tão ruim.

***

Olá, pessoas da Terra!
Eu adoro o Natal, ao contrário de minha querida nova filha. Athena é simplesmente muito chata! O conto terá três capítulos (ou dois, ainda não decidi) e espero que vocês gostem tanto quanto eu!
Um bom Natal e um próspero Ano Novo!
(Papai Noel passou, deixe seu like e ganhe um presentinho 🎁)

Athena e a teoria das cascas de noz | COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora