Mattheus me esperava próximo à pista de gelo no centro do shopping. Não posso acreditar que ele é um duende com uniforme verde e orelhinhas pontudas, dando balas e pirulitos às crianças que saem todas sorridentes da casa do Papai Noel.
— Não acredito! Que ridículo, Matt. Você realmente aceitou usar...?
Sou interrompida por seu velho abraço de urso, daqueles que você não consegue nem respirar direito de tanto amor. É o que eu preciso depois de toda aquela aventura traumática.
— Feliz Natal para você também, minha deusa grega! O que houve com sua cara?
— Acredita que uma louca me derrubou na mesa de degustação? É rabanada, você sabe...
Ele não me deixa terminar, pois sua boca me surpreende. Sinto-a contra minha pele melada, algo que me faz rir às alturas.
— Canela é uma delícia. Incrível o quanto a tornou mais doce.
Pressinto que fiquei vermelha. Nunca sei como reagir aos seus elogios.
— Enfim — continua, entregando balas para os pequenos. —, o que queria dizer?
— Você sabe que odeio o Natal, Matt, porque mistura tudo o que eu mais odeio. Nunca ganhei um presente descente em dezenove anos e não foi diferente ontem à noite. Meus lugares favoritos sempre estão fechados ou lotados, sem contar que tudo o que minha mãe prepara fica com gosto de nozes. Até o namorado do meu irmão sabe disso, mas o restante parece não ligar!
— Digamos que também não sou especialista em presentes. Talvez seu pai tenha se esquecido ou... ah, quer dizer, eu me importo, digo, eu ligo!
A voz dele falha por um momento. Detive-me no silêncio, ao lado de um boneco-de-neve falso, pois não quero atrapalhar seu emprego.
— Achei que fôssemos sair.
— Por quê? Eu disse que trabalharia o turno inteiro, pelo menos por hoje.
— Esquece.
Será que Matt não percebeu minhas indiretas? Fazia bastante tempo desde a última vez que saímos, tipo, quase como um casal, o que me trazia paz nos dias difíceis.
Pensei que seguiríamos juntos. A hora de me confessar chegaria, mas era arriscado. Uma amizade de dez anos não pode acabar por causa dos sentimentos de uma menina tão chata quanto eu.
Quando uma duende se aproxima dele, meu sangue esquenta até o máximo. Saia de perto dele!, grito por dentro, mas meu melhor amigo não podia nem desconfiar.
— Ho, ho, ho!
Ouço uma voz suave por trás de mim, depois uma mão amistosa envolve meu pulso com ternura. Assusto-me ao ver o Papai Noel mais animado do mundo me convidando a entrar na dança com direito a flocos de neve com gosto de açúcar e auto-falantes iluminados.
Tento me soltar, em vão, pois o velho senhor já havia clamado por várias crianças que começavam a cantar as mesmas músicas e cantigas bobas de Natal. O ritmo do Papai Noel dançarino, contra todas as minhas expectativas, me contagia aos poucos. Até mesmo o grupo de duendes ao fundo tentava alguns passos de dança.
— Vamos, querida! — Incentiva o bom velhinho. Outro sorriso me preenche durante o pequeno baile nada ensaiado. — Diga, o que quer ganhar nesse Natal?
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Athena e a teoria das cascas de noz | COMPLETO
Short StoryTalvez Athena seja uma jovem muito chata. Além de ter odiado o presente dos pais e ido ver o melhor amigo trabalhando no maior shopping da cidade sem permissão, ela odeia o Natal: tudo, desde as imensas filas no Starbucks até as malditas nozes em to...