Chuva

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Acontece que numa terra Muito, Muito Longe, na floresta de Trankir Oltir, na cidade kirim de Borrieror, na arvore de número 3, vivia um kirim chamado Byr Ninguem. Era um jovem desastrado e bem famoso em Borrieror pelas muitas confusões em que se metia.
Certa manhã, Byr acordou disposto a ter um dia perfeito, longe de confusão desta vez. Iria até o rio, tomaria um banho, pescaria, depois colheria algumas frutas e voltaria para casa para o seu café da manhã. O resto do dia seria para descançar no conforto do seu lar. O jovem queria aproveitar ao maximo suas férias que acabara de receber da padaria do Sr. Zen Paciencia. Levantou-se da cama, vestiu-se, pegou sua toalha, uma sexta e a vara de pesca e saiu.
A cidade de Borrieror se estendia por quase toda a floresta e por conta disso, era dificil achar um lugar para descer. As escadas ficavam distantes de sua casa e o rio era mais distante ainda. Byr lamentava-se todos os dias por morar naquela velha casa que herdara de seus pais, pois sendo longe de quase tudo, dificultava na hora de ir a qualquer lugar. Mas como todas as manhãs saía pra trabalhar nessas condições, sair para pescar e tomar banho não seria algo tão ruim.
Atravessou duas pontes a sua frente e uma a sua direita, passando em seguida pelo centro da vila em que morava. Seguiu reto e foi parar na frente de uma casa abandonada. A vizinhança dizia que ali morava uma mulher com sua filha e certo dia a mulher ficou doente e enquanto a menina colhia os ingredientes para o remedio, foi atacada por um humano. As pessoas diziam que as duas ainda assombravam a casa. Byr não acreditava naquilo, é claro, mas não conseguia deixar de sentir um arrepio quando passava por ali. Andando mais em frente, finalmente chegou à escada mais proxima de sua casa. Teve certa dificuldade pra descer com tudo aquilo, mas despois de alguns minutos estava no chão da floresta. Pegou o caminho entre as arvores, sempre atento a qualquer sinal de hostilidade. Caminhou alguns minutos contemplando a luz do sol e o canto dos passaros. O dia estava lindo, mas seria mais se não fosse por conta do que encontrara ao chegar no rio. O nível da água estava muito inferior ao normal e o rio claramente secaria em algumas semanas. Tomou nota de avisar isto ao líder quando voltasse e tendo tirado as vestes, tomou um banho na água que ainda era profunda o bastante para um mergulho gelado. A água era tão cristalina que se podia ver os peixes a nadarem ao seu lado e por mais de uma vez Byr assustou alguns peixes que viam seu cabelo vermelho vivo e achavam se tratar de alguma criatura bestial.
Após banhar-se, Byr secou-se com sua toalha e vestiu-se novamente. Estava agora pronto para conseguir alguma comida.
Preparou a vara, sentou-se na beira do rio, agitou a isca e antes de lançar ao rio, foi interrompido pelo som de um trovão. Foi um som tão alto, que Byr jogou a vara pra longe no susto. Não parecia ter vindo do céu. Este som vinha de trás de um arbusto e se repetia, se afastando rio acima. Byr poderia deixar isto pra lá, afinal, barulhos estranhos na floresta nunca eram coisa boa, mas sua curiosidade falava mais alto. E esquecendo ali mesmo, tudo que tinha trazido, saiu arbusto adentro pela beira do rio a seguir o "trovão que corria".
Após correr aproximadamente 1 km, Byr ouviu algo que o fez tremer e se arrepiar. Um choro de desespero de uma criança vinha de não muito longe dali. O choro trazia tanta agonia que partia o coração. Mas afinal, oque diabos estava havendo? Byr não aguentou ouvir aquilo, e se enchendo de coragem, correu em direção ao choro, e ao saltar um arbusto, se deparou com a ultima cena com a qual esperava se deparar em toda sua vida.
Do outro lado do rio, uma menina de aparentemente 5 anos chorava desesperadamente enquanto tentava se agarrar as pedras para não ser levada pela correnteza, enquanto do lado do rio em que Byr estava, uma enorme leoa branca se aproximava lentamente da menina. Em seus olhos, todo o instinto assassino que um felino poderia ter. O horror percorreu cada centimetro do corpo do jovem kirim, que imaginou a leoa estraçalhando o corpo da pequena menina entre seus dentes.
Afastou de subito este pensamento, e disposto a impedir que se tornasse real, encheu-se de coragem e após dar uma pequena distancia da margem do rio, correu para pegar impulso e saltou até a outra margem, quase escorregando em um pedra. Sem perder tempo, correu até a menina torcendo pra que a leoa não fosse tão rapida e pegou-a pelos braços levando-a rapidamente ao colo. Tendo ela segura em seus braços, disparou floresta a dentro o mais rapido que pode enquanto ouvia as suas costas o som da leoa cruzando o rio e novamente o som do trovão. Foi então que compreedeu que a leoa fazia aquele som. Isso não fazia sentido, e ele sabia, mas era a única explicação já que não haviam nuvens no céu.
Correu o mais de pressa que pode e fez alguns caminhos aleatorios entre as arvores numa tentativa de despistar sua perseguidora. Não demorou muito até ver uma caverna perto dali e entrou com a menina para se esconder. A menina, estava palida e seus cabelos negros desgrenhados. De seus olhos da cor do mel, escorriam lagrimas de um choro incontrolado.

- Por favor, não chore pequena, vai ficar tudo bem. - Disse Byr, para tentar acalmar a menina - Aquela leoa não vai nos encontrar aqui nesta caverna.

E assim que terminou tal frase, um trovão soou na entrada da caverna trazendo de volta o desespero da menina que agarrava com força as vestes de Byr. O jovem kirim por algum motivo, lembrou-se de quando era pequeno e ficava assustado, e lembrou-se que sua mãe o acalmava com um forte abraço. Tinha que tentar. Abraçou forte a menina, oque interrompeu seu choro e com uma voz suave lhe disse:

- Tenha calma minha criança. Tudo vai ficar bem. Eu não deixarei que te façam mal algum. Preciso que fique aqui por mais 5 minutos. Eu vou atrair a leoa para longe e então você deverá fugir. Deve encontrar kirins perto do rio. Diga a eles oque aconteceu.

A menina, ainda com lagrimas nos olhos, concordou com a cabeça e largou as vestes de Byr. O kirim, então, levantou-se, e se enchendo de coragem, foi até a entrada da caverna onde a leoa o aguardava. Mais um rugido e ele teve certeza de que ela rugia como o trovão.
Após uma boa olhada na situação, Byr começou a entrar em panico, pois a leoa bloqueava a entrada da caverna. Não havia como passar sem ser pego. Byr pode sentir sua coragem se esvair como gelo no forno. Suas pernas se paralizaram e nada passava pela sua cabeça.
A leoa se aproximou lentamente com seus olhos fixos nos de Byr. Tinha uma incrivel aura de superioridade. Uma intimidação quase tangivel. Ela chegou proximo a ele. Seu focinho batia na altura do rosto do kirim. Ela deu uma baforada que estranhamente tinha cheiro de terra molhada e lambeu-o. Byr ficou confuso. Não sabia oque pensar. A leoa estava sendo...amigavel. Enquanto ele procurava respostas para aquela estranha atitude da leoa, uma forte luz irradiou de dentro da caverna atras de Byr e então a leoa deitou-se ali. Uma mão palida e estranhamente molhada tocou o ombro do kirim, que se virou para ver a menina, agora crescida, que sorria para ele. Ela vestia um vestido cinza como uma nuvem tempestuosa e parecia emitir luz própria. Ela então disse com uma voz doce e tom sereno:

- Byr Ninguem. Eu sou aquela que rega as arvores desta e de todas as outras florestas. Sou quem enche os rios e molha a terra. Eu sou Amana. A personificação da chuva.

- Ah minha senhora... - Disse Byr, se ajoelhando enquanto seus olhos se enchiam de lagrimas.

- Não se ajoelhe minha criança. Não quero que me adore. O teu valor já foi provado. Eis que estava eu cansada de apenas regar o mundo, e decidi tomar para mim um povo o qual eu pudesse proteger. Ora, dentre os povos deste mundo, os kirins parecem ser os que mais precisam de proteção, então decidi testa-los. Se alegre, tua bondade e coragem salvaram teu povo.

- Eu não tenho palavras para agradecer, minha senhora. Como posso retribuir?

- Você já retribuiu ao ter a coragem de se arriscar contra Beka para salvar uma menina indefesa.

- Beka?

- Este é o nome de minha leoa. Seus rugidos causam os trovões que abalam a terra.

- Compreendo, minha senhora.

- Agora vá, minha criança, e conte em casa tudo oque viveu aqui hoje.

Tendo, Amana, dito isso, uma forte chuva caiu relaxando todo o corpo de Byr enquanto a mulher sumia, bem como Beka.
Byr permaneceu alguns minutos ali digerindo aquela experiencia, e depois, com um sorriso no rosto, voltou para Borrieror onde foi recebido de braços abertos pelo povo. Todas as famílias estavam as portas de suas casas aplaudindo e dando vivas. Byr não sabia como, mas de algum jeito todos sabiam das boas novas.
Na porta de sua casa, o Líder Exilander Pesqueiro o aguardava com uma medalha de honra.

- Byr, meu garoto, Amana apareceu para toda a cidade e nos contou tudo. Todos os kirins do mundo serão eternamente gratos.

- Obrigado Líder. Eu...apenas cumpri a lei.

- A partir de hoje, por enfrentar Beka frente a frente, você será conhecido como Byr Leão.

E após dizer isto, pôs em Byr a medalha de honra. E eles viveram felizes até a semana seguinte, mas isso fica pro proximo capitulo.

As Aventuras de Byr LeãoOnde histórias criam vida. Descubra agora