02 de Dezembro de 1999
São Luís-MA/Brasil
Após pensar em mil maneiras de como começar este relato, finalmente me conformo em saber que,simplesmente não há uma forma correta ou ao menos, uma forma lógica, para tornar crível o que tenho a revelar. Assim, decidi apenas datilografar os acontecimentos que me trouxeram até aqui. E é através dos mecanismos já gastos desta máquina de escrever, que VOCÊ, a quem o destino escolheu, irá testemunhar o quão pequenos somos diante da verdadeira face do universo.
Espero que já não seja tarde demais...
OBS: Como encontrou este lugar? Alguma escavação? ELE pediu ajuda a você? Por favor, diga tudo, menos que foi sua intuição!Isso só revelaria o grande poder de influência da criatura.
E Mais uma coisa: no caso de encontrar meu corpo (ou o que sobrou dele), por favor, queime-o!
Enfim, meu nome é Gustavo Souza Dias e amanhã completaria 78 anos. Não sei em que ano você lê isso, mas garanto que o mal encerrado atrás daquela enorme porta de ferro continua vivo, ansioso pela liberdade. O poder de decidir libertá-lo ou não, logicamente é todo seu, mas peço que ao menos termine de ler meu testemunho.
* * *
Meu inferno teve início no momento em que conheci o Sr. Elyphas, em Outubro de 1945, nesta capital. Lembro bem daquele dia.
Como todo jovem recém formado em Direito, eu procurava desesperado por emprego. Por meses perambulei pelo país, sem êxito, até que os últimos centavos de minha herança chegaram ao fim e fui obrigado a permanecer em São Luís. Meus pais há muito estavam mortos e os poucos familiares que me restaram se preocupavam mais com os resultados da Segunda Guerra do que ajudar um parente distante.
Conheci a fome e as noites frias da capital maranhense. Houve dias em que o lixo me fornecia alimento e minha sede era extinta nas fontes das praças, local utilizado também para as poucas vezes que tomava banho. Apanhei, bati e até matei por comida, numa agonia que durou quase um ano. Desejei a morte inúmeras vezes... até que um dia ELE apareceu.Como sempre, eu estava catando lixo em busca de comida, num dos muitos becos do centro quando a limousine dele se aproximou. Senti um frio na espinha e ao mesmo tempo uma inveja crescente, antes mesmo de seu chofer abrir a porta. Ele desceu do carro importado com sua roupa cara e seus sapatos de grife, que eram um contraste com aquelas ruas lamacentas e pobres. Além de mim, havia mais dois mendigos: Um idoso que chamávamos de "Tilt" e um outro jovem, de nome André.
O homem de terno se aproximou e estendeu a mão, oferecendo comida e um lar. Sua lábia era forte. Discursou como um verdadeiro político, oferecendo glória e dinheiro. Que escolha teríamos senão a de aceitar? Não pensei duas vezes, antes mesmo de ele fechar a boca entrei na limousine seguido por André e o velho Tilt.
Já no caminho ele nos disse que estava procurando um sucessor, e que se quiséssemos teríamos o mundo sob os pés. Bastava apenas passar em alguns testes e selar um "acordo".-Dê meia volta e exploda TODO esse lugar MALDITO!-
Algum tempo depois, já bem distante da cidade, a limousine finalmente estacionou. Ao descermos estávamos em frente a uma caverna. Uma enorme pedra bloqueava a entrada e, "JURO POR DEUS" (mesmo sendo ateu) que o Chofer apenas deslizou a pedra para o lado, sem esforço algum. O homem de terno prosseguiu para o interior da caverna e insistiu que muitos tesouros além de força física nos aguardavam.
QUANDO LEMBRO DAQUELES DOIS... POBRES COITADOS!
Entramos na caverna seguidos pelo chofer, que recolocou a pedra, bloqueando a entrada para sempre. Pelo menos é o que desejo enquanto uso essa máquina de escrever. Já estou enclausurado aqui há anos, mas aquele horrendo Grão Duque, tem suas cartas na manga. E se realmente há alguém LENDO isso...ou, talvez você realmente seja minha última esperança.
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O GRÃO DUQUE
Short Story"Ali, do outro lado da Porta, há uma imensidão de tesouros. Há também a luxúria e a soberba, o poder, a onisciência e a capacidade de obter seus desejos mais profundos. A resposta de todas as coisas lhe aguardam, mas tais tesouros, são apenas para a...