Ditados parecem ser as coisas mais belas já feitas por pessoas apaixonadas ou inspiradas em algo. Mas será que todos esses seres inspiradores conseguem inspirar realmente as suas vidas?
Era isso que todos os dias Nicolas pensava. Será que todas as pessoas realmente eram tão felizes da forma quanto demonstravam?
Suas manhãs eram todas iguais de segunda a sexta, com exceção do final de semana que mais a frente contarei.
Com sua mochila alçada em apenas um lado de suas costas, caminhava de cabeça baixa por todo o trecho até a escola. O percurso não era tão comprido, levava cerca de vinte minutos a pé e Nicolas adorava ir caminhando, inclusive nos dias de chuva.
Enquanto fazia seu percurso, todos os dias o ônibus escolar passava por ele e as crianças mais novas se penduravam nas janelas e começavam a caçoar sem propósito algum. "Coisas de crianças", pensava Nicolas, mas ao mesmo tempo se lembrando que quando tinha a mesma idade delas não tinha tais atitudes. Não que Nicolas quisesse ser assim, mas desde mais novo adotou uma personalidade mais séria, o que lhe deixava mais adulto devido suas atitudes.
Os primeiros períodos daquela manhã passaram rápido e do lado de fora da janela dava para ver que seria um dia de sol forte. Os colegas de Nicolas já estavam se combinando desde o primeiro período para irem ao lago perto do fim da tarde.
"Eu levo o energético", disse um, "E eu levo a vodka", respondeu uma garota morena de olhos azuis que para Nicolas era a garota mais linda da sala, mas que tinha péssimos gostos para escolher homens. Estela era seu nome, provavelmente algum nome de origem italiana que remetia a palavra estrela.
No final da aula Estela costumava embarcar no carro de vários homens diferentes, um para cada dia na semana. Se ambos sabiam da existência um do outro Nicolas não sabia, mas no fundo gostaria de saber sabe-se lá o porquê.
Já era horário do intervalo e a maioria se direcionava para o portão da escola para observar o tráfego e a construção de um prédio do outro lado da rua. Esse era o momento em que os construtores reduziam seus esforços apenas para espiarem as lindas aluninhas daquela escola, o que deixava o diretor muito irritado já que a maioria delas era de menor e poderia sobrar para ele se alguma delas abandonasse a aula para dar uma fugidinha até a construção.
Nicolas evitava tumulto e ia quase todos os intervalos para o seu refúgio, a biblioteca, e lá ficava caminhando entre os corredores observando livro após livro, todos empoeirados. Gostava de observá-los e caminhava como se estivesse a procura de algum tesouro. A cada pouco parava e observava algum livro em específico como se tivesse escutado uma voz dentre as páginas lhe chamando.
Todos os dias lembrava de como era aquele local. A alguns anos atrás quando ainda ninguém usava o celular para espiar as redes sociais ali virava ponto de encontro de vários alunos em potencial. Discutiam sobre seus sonhos, trocavam sugestões de leitura, faziam os temas extraclasse, conversavam sobre filmes e seriados que passavam na TV e combinavam sobre o que aprontariam nos finais de semana. Mas agora aquilo estava vazio e parecia abandonado.
No final do corredor havia uma cadeira e nela um livro com capa dura. Como não tinha muito o que fazer por ali resolveu sentar-se nela e folear o tal livro para ver qual o seu conteúdo. Após ler alguns trechos percebeu que se tratava de um livro de romance cujo autor detalhava minuciosamente todos os detalhes da cena entre os personagens.
Enquanto se perdia entre um parágrafo e outro escutou passos apressados vindo do corredor ao lado. Levantou-se rapidamente e tentou disfarçar sua presença caminhando novamente pelo corredor e ao final deste acabou trombando com alguém.
Era uma garota, um pouco mais baixa que sua estatura que parecia assustada e ao mesmo tempo com vergonha por ter esbarrado em Nicolas. Ambos se olharam sem falar uma palavra durante alguns instantes e sem ao menos um pedir desculpa ao outro a garota voltou a andar apressadamente. Andava em direção a cadeira que continha o tal livro de capa dura sobre ela, pegou-o e desapareceu novamente entre os corredores da biblioteca. Nem seus passos se ouviam mais.
Nicolas não entendeu o motivo de toda aquela pressa, mas ficou curioso por nunca tê-la a visto na biblioteca e nem mesmo na escola. Ainda mais porque a garotava parecia ser interessante e ao mesmo tempo muito atraente. Tinha maquiagem preta ao redor dos olhos que combinavam com a cor de suas íris que eram de um negro profundo. O cheiro do seu perfume parecia ser de feromônio puro, pois uma breve esbarrada já o fez ficar atraído por ela.
Não demorou e Nicolas voltou a si e abandonou seus pensamentos. Não via a hora daquele dia acabar. Estava muito quente.
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Diário de Nicolas Salvatti
RomanceSer diferente em um mundo onde todos são iguais parece ser mais difícil do que se pensa. Nicolay só queria poder expressar suas ideias e seu verdadeiro jeito ao mundo, mas ficar recluso era sua única alternativa, até que uma garota aparece em sua vi...