Eu apertei meus olhos, irritado com as luzinhas piscantes. Aquela boate estúpida com certeza não era meu lugar.
Evitando a pista de dança como se fosse a morte, eu me escorei no balcão do bar e pedi qualquer coisa, desde que fosse bem forte.
Um cara bêbado se aproximou de mim com aquele olhar de quem me comia com os olhos. Eu o dispensei e engoli o copo de vodka no segundo em que o bartender me serviu.
Só bebendo para aguentar essa desgraça de lugar.
Eu bati o copo na mesa, tossindo para o cheiro horrível e gosto pior ainda. Droga, como eu queria ir embora. Duas da manhã de sábado e eu ali, me embebedando como um adolescente enquanto meu Netflix e meu sofá macio me esperavam, em casa. Nunca mais deixaria Rosier me convencer de nada. Eu precisava superar o Érico, mas esse não me parecia o jeito certo.
Mais um cara veio babar pra cima de mim. Que saco. Eu nem era tão atlético assim, e sentei justamente para esconder minha bunda, que diziam ser a melhor parte do meu corpo. Talvez fosse meu cabelo? Rosier sugeriu que eu escovasse as mechas ruivas para trás e expusesse meus olhos verdes, e eu obedeci como um cachorrinho. Que diferença fazia a cor dos meus olhos naquele subsolo escuro fedendo a gelo seco?
Eu fechei os botões de cima da camisa e me levantei, deixando o novo pretendente falando sozinho. Esses caras não eram feios mas... O Érico talvez voltasse, não é? Nós terminamos há apenas três meses. Nesse tempo eu hibernei na mansão do Rosier como um imprestável, até ele me convencer, sei lá como, que amassar uns caras era a chave da felicidade.
Não sei porque eu ainda escutava o Rosier, mas pelo menos entrei na única boate que ele me proibiu de frequentar. Eu conseguia ser um pouquinho rebelde.
Eu vasculhava meus bolsos pela minha carteira, quando bati o ombro em um cara e quase me arrebentei no chão. O cara segurou meus braços antes que eu caísse.
"Cuidado aí, bonitão." Ele lambeu os lábios, deixando os longos cabelos loiro escuro caírem sobre o rosto. Seus olhos se afiaram para mim como agulhas, brilhando azuis mesmo naquela escuridão multicolorida. "Ei, te vi no bar, antes. O da bunda gostosa. Posso dar umas mordiscadas, lá no fundo?"
Eu abri a boca em indignação. De todas as cantadas, essa foi de longe a mais rude. Ainda assim, meu coração disparou. O rosto do cara era lindo, talvez o mais bonito daquele lugar, mas a calça jeans enorme e o capuz do moletom preto sobre a cabeça lhe davam um aspecto de meliante. Um estudante de Direito não se envolvia com gente perigosa.
"Talvez depois" Respondi, chocado comigo mesmo. Eu deveria ter empurrado esse idiota e livrado meus braços que, pensando bem, ele não havia soltado desde que tropecei. Suas mãos firmes nos meus bíceps faziam meu peito disparar, algo em mim desejava que ele me puxasse contra o corpo dele, e me apalpasse todo.
O cara desceu os olhos por mim e subiu de novo, me encarando sedutoramente. Um olhar lindo, do tipo que arqueava acompanhando o sorriso. A forma como ele lambeu os dentes brancos e perfeitos me aqueceu de um jeito estranho. Talvez fosse a bebida. Sim, com certeza era a bebida.
Quando meu coração já relampejava, ansioso por um contato mais próximo, o cara soltou meus braços e recuou alguns passos, me mandando uma piscadinha.
"Me procura, quando mudar de ideia." Ele desapareceu na pista de dança, em meio à multidão.
Meu corpo pareceu pegar fogo, e eu senti o instinto primal de perseguí-lo e me jogar aos seus pés. Mas assim que ele desapareceu de vista eu percebi a estupidez em tentar isso.
Confuso e assustado com minhas próprias atitudes, eu esfreguei os braços onde ele havia me segurado. Certo, isso foi estranho. Um motivo a mais para eu desaparecer dali.
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O Beijo do Incubus (Romance Gay)
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