A Senhora dos Gigantes.

NAKS

  Quando eu descobri que a sombra falava, fiquei encantada. Pois assim que eu falei com ela, ela falou comigo.
  Muito ela me disse e me explicou que era raro alguém que conhecesse o mundo e sua linguagem. Perguntei a ela o que era a linguagem do mundo. E a resposta foi encantadora. Assim como eu lhe escrevi minha história com palavras, da mesma forma os deuses haviam escrito o mundo. Todas as formas falavam o idioma em que haviam sido escritos.
  Fiquei fascinada com as visões que me penetravam a mente. Eu estava em uma rocha lá em baixo, conversava com o mar e ele se acalmava. Pedia para a chuva parar e ela assim sucedia. Conversava com as nuvens e elas mudariam de cor. Talvez para a linda cor do mar.
  Pedi então a sombra que envolvesse meu corpo como um manto, protegendo-o da chuva. Ela me disse que se alegraria com isso e me envolveu. Era fria, mas mantinha meu corpo seco, e logo percebi que em mim, havia calor. E assim, o frio começava a se tornar insuportável. Minha sombra, como a chamei depois, me ouvia atentamente e deslizava por meu corpo, a fim de manter secas as partes que eu gostaria. Em dado momento até pedi para que ela me escondesse o rosto, mas sem conseguir enxergar o mar, senti-me triste. Pedi então que minha face ficasse a mostra, para sofrer com a chuva. E assim minha sombra fez.
  Conversamos por dias e ela me contou muitos segredos sobre o mundo e a criação. Segredos esses que eu escreverei se for necessário, pois como aprendi, as palavras tem poder.
  Então um dos meus carcereiros, aquele de pele dourada subiu e me olhou surpreso. Ficou contemplando meu corpo e começou a passar a mão pelas minhas pernas, que estavam embebidas nas profundas sombras da noite. E em seguida, saiu apressado.
Subiu com mais seis seres, somente um eu ainda não havia visto, um ser de pele brilhante como a do relâmpago e olhos azuis, muito azuis, e a mim ele dirigiu sua voz grave:
- Garota, o que fizeste? Corrompeste a escuridão para lhe acariciar o corpo? Entende o quão ruim isso é?
"Ele mente minha senhora, diz ao Céu e a Terra que seus atos são justos pois teme ofender Nezel, o senhor do céu."
Quando ouvi o nome de Nezel, uma onda de imagens passou pela minha cabeça, foram tantas que senti uma dor latejante na parte de trás da cabeça, mas antes que eu pudesse refletir sobre o que havia visto, houve uma tensão e então caí no chão. As correntes foram cortadas.
O chão era frio e meus membros ardiam, eu havia ficado muito tempo pendurada, maldição.
- Agora, eu irei libertá-la de seu estado decaído. - E levantou na mão um objeto fino e comprido, azul como seus olhos. E nesse momento eu senti medo, mas havia algo mais, uma pulsação, uma força, o desejo. De sobreviver.
A arma desceu sobre minha cabeça.