Elisa Peterson vivera sozinha durante cinco anos. Fechara-se cada vez mais num casulo de indiferença--controlando e confinando as emoções, enroscando-se como uma lagarta quando pressente o perigo. Mas não podia negar todos os instintos, especialmente sua admiração por homens bonitos. E o estranho de elevada estatura que apareceu a sua frente, quando ela entrava no salão, levou-lhe ao rosto fino e oval, emodulado por uma boina, um discreto sorriso.
Enquanto ele se aproximava dentre aos muitos convidados, ela viu que seu rosto, magro e bem delineado, estava sombrio. Ao comprimentar Elisa com um aceno de cabeça, disse com irritação.
__Era de esperar que a esta altura a anfitriã da festa já tivesse aparecido.
__Ela deve estar terminando de vestir-se com um de seus looks arrasantes--replicou ela, ajeitando o busto delicadamente no vestido preto e justo no corpo.
Ele não respondeu. Ela virou-se para a porta que dava para o jardim externo e olhou para o ambiente que a aguardava. Um vento soprou mansamente fazendo com que os cabelos dela ficassem rebeldes.
O clima do Outono exalava no ar, refletindo que a próxima estação aniquilaria os poros de quem não usasse um casaco mais confortável e quente.
Ela pensou no argentino que conhecera no Resort Copacabana anos antes, quando estava hospedada a trabalho. Ele tinha um jeito que chamou a atenção dela assim como aquele homem aproximou-se dela, sorrateiro e exato.
O garçom aproximou-se dos dois com uma taça de champanhe e os dois se entreolharam.
__Conhece Brigite a muito tempo?--Asher olhou para ela com um olhar mais atencioso.
__Posso dizer que desde que me entendo por gente--sorriu--Nós duas estudamos na mesma Escola em Nova Jersey. Nos encontrarmos em Nova York foi uma coincidência.
__Amigas de infância? Muito bom. Eu conheço o casal Morrison há dois anos. Fiz um trabalho para o Boris e ficamos grandes amigos.
Ela olhou ao redor e soltou:
__Não me apresentei ainda. Sou Elisa Peterson.
__Eu que fui mal educado. Meu nome é Asher. Asher Culler. Sou arquiteto e trabalho em um escritório em Manhattan.
__Eu sou uma simples escritora e trabalho para um jornal bairrista.
__Agora que estou lembrando de você. Elisa Peterson. Uma simples escritora? Você está entre as melhores escritoras do país e diz que é uma simples escritora? Nossa, quanta discrição!
Ela olhou para ele novamente e sorriu.
__Prazer Asher.
__O prazer é todo meu.
Brigite aproximou-se dos dois e falou com uma alegria tremenda:
__Lisa, que bom que você veio! Asher, meu amigo! Vejo que vocês já se apresentaram.
__Eu e o Asher estávamos falando de você. Mas como você está linda!
__Falando de mim? Vocês são uns amores. Asher vou te roubar a Lisa só um minuto. Quero apresentá-la ao diretor da Prince Editorial.
__As meninas fiquem à vontade.
Lisa ofegou quando foi retirada de perto de Asher. Caminhou de encontro a Brigite e foi apresentada a todos no rol de empresários sulistas que estavam presentes.
Depois de uma hora ela estava de volta ao mesmo ponto que havia deixado Asher, mas diferente daquele momento, foi até o jardim externo. O vento acoitava bruscamente, fazendo com que seu corpo arrepiasse e seu cabelo ficasse sobre o rosto. Viu que Asher estava sentado em um dos bancos de madeira. Ficou comprenetrada nele. Ela deu as costas para o vento e viu o olhar surpreso no rosto do estranho atraente.
__Lisa!--exclamou ele, deixando um sorriso tomar conta dele.
__Asher! O que faz aqui?
__Fiquei curioso em saber o que teria além daquela porta, depois que vi o seu olhar preso aqui.
__Verdade, eu fiquei muito curiosa com tudo isso.
__O que vai fazer depois da festa, Elisa?
__Tenho que terminar mais um capítulo de um livro.
__Vamos tomar um vinho e nos aquecer?
Ela tremeu e olhou para os olhos dele.
__Está me convidando para sair, Asher?
♡♡♡
__Encontrei um cantinho para nós--disse ele, conduzindo-a para a lareira.
Ela havia colocado o casaco, a boina sobre a guarda da cadeira. Apanhando o cardápio em cima da mesa e escolhendo um carpaccio de entrada.
Asher acenou para o garçom e falou em bom tom:
__Um vinho tinto, por favor!
Os dois se entreolharam e ela resmungou:
__Asher, não posso me demorar.
__Lisa você está ansiosa. Por que não relaxa?
O garçom serviu o vinho e ele apanhou a taça e levantou para ela. Ela olhou para ele por cima da taça, seus olhos refletindo o apreço pelo sabor da bebida.
Reparou nas linhas firmes de sua boca, o princípio de uma ruga entre os olhos. A pele era esticada sobre as maçãs do rosto salientes; ele possuía um nariz forte e reto, e um rosto quadrado. Parecia com uma das esculturas dos gregos, pensou ela, observando a maneira como ele retribuia seu olhar. Seus olhos não vagueavam pelo salão, mas concentravam-se nela, com um contato firme e confiante. As chamas do fogo iluminaram seu rosto, suavizando o contorno duro. Mas eram os olhos que a fascinavam. Eram verdes, como as águas rasas que cercam um recife, sombreados por cílios negros. Por que os homens tinham os cílios mais grossos? E o cabelo! Crespo, ondulado, os fios grisalhos correndo entre os pretos como prata fina e cheia de veios numa mina escondida. Sua pele estava corada devido ao vento cortante--era uma pele atraentemente marcada pelos anos e pela vida. Era mais velho do que parecera na festa, mas sua aparência. A idade era tão generosa com os homens--e tão impiedosa com as mulheres, refletiu Lisa.
O sorriso inconsciente e tristonho que passou pelo rosto dela ao pensar daquele modo trouxe um meio sorriso ao homem que a observava com a mesma atenção.
__Você é bem interessante quando está viajando nos próprios pensamentos--disse ele--A maioria das pessoas ficariam contrangidas com estranhos.
Uma pontinha de malícia surgiu nos olhos dela.
__Quando um pedaço de homem fica ao seu lado, depois cai a seus pés, é de se esperar que se viaje sozinha mesmo.
Ele sentiu o riso crescer dentro dele. Não ria espontaneamente há dias, e era uma sensação agradável. Seu olhar dirigiu-se para o cabelo dela.
__Por que você estava sozinha na casa dos Morrison?
__Vamos dizer que é uma questão de opção.
__Não deve andar por aí sozinha. É uma mulher atraente.
__Obrigada--respondeu ela--Mas não me sinto atraente assim. Uma mulher também não precisa estar pendurada em um homem para ficar bem.
__Não quis dizer isso, senhorita.
__Imagino senhor Asher. Eu sou divorciada a cinco anos e meu ex marido está na Califórnia. Prefiro agora ficar sozinha, isso agora é normal para mim.
__Ele não sabe a besteira que fez deixando-a sozinha.
Os olhos dela tentaram enxergar além das palavras, além da íris verde e da pupila negra, procurando ler o que havia ali dentro, procurando ler o que havia ali dentro.
Mas discerniu apenas o que ele permitia.
Nos olhos dela cresceu a malícia que ele havia visto antes:
__Acho que ele começou a se tocar disso tarde demais. Mas se quer me fazer um elogio fique sabendo que não estou pronta para nenhum tipo de relacionamento que não seja entre amigos.
__É uma pena, senhorita Lisa, porque eu já estava pensando em convidá-la para mais um jantar.
__Senhor Asher, vejo que é um homem versátil com as palavras e encantador.
Ele era um homem acostumado à reação que sua aparência provocava nas mulheres, e sabia que ela não pretendia nada mais do que um simples cumprimento, mas para ele o jeito dela era erótico, íntimo. Excitava-o, e ele fitou-a nos olhos.
Ela corou.
E então ambos riram.
Ela possuía um jeito tão franco, despretensioso, pensou ele. E ele era intrigamente mutável. Na casa dos Morrison, sobressaltada com o vento, parecera frágil, carente de proteção, mas quando ela aceitou o convite para um vinho, ela mostrou-se mais arisca do que ele imaginara.
O garçom aproximou-se com mais uma garrafa de vinho e ele pegou as duas taças e levantou um pouco, uma a uma, fazendo com que o seu gesto ficasse notório diante dos olhares no salão.
Elisa estava se divertindo. Fazia anos que não flertava com um homem. Nem ao menos sabia quem era ele, e isso tornava tudo mais interessante. Assim ela bebeu vagarosamente o vinho e sorriu para ele.
__Asher Culler, estou curiosa quanto a você.
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Um Vinho Tinto, por favor!
RomanceElisa Peterson esbanjava riqueza e independência e vivia uma carreira fabulosa como uma escritora de sucesso. Mas com o fim do seu romance mais recente tinha fechado o seu coração para o amor...até conhecer Asher Coller. Em uma festa na casa dos Mor...