Jardim Vermelho

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"Why I lost control
Of my heart and soul" - Lianne La Havas, Don't Wake Me Up

Sirenes. Vozes distantes. Um jardim Vermelho. Esse jardim.... Tão vermelho quanto sangue... Sangue. Encaro o jardim. Uma silhueta preta continua parada me fitando. Quero correr mas estou presa ao chão. Meu corpo não está em pé, não está deitado, ou sentado. Só permanece ali. Devolvendo o olhar contínuo da silhueta... Tudo está sumindo. O ferro está tomando meu olfato... O jardim...

Preto... E depois...

Ouço gritos e exclamações alegres... Vejo um parque. Um grupo de crianças... Dentre elas... Eu estou ali? Não... Estou aqui, embora alguém ali seja eu.Aquela cena é familiar. Há um ursinho no chão. Eu quero tirá-lo dali. Está sujo... A cena muda. Volto para o jardim.

Outras vozes surgem. A sirene ainda toca. Passos agitados. Mas só posso ver o jardim e a silhueta. Está úmido.

- Quando essa pessoa levantará?

Quem disse isso? Um jardim... Quem está deitado? Uma sombra se aproxima de mim e diz: "acorde".

Eu estou acordado. Está úmido. Gotas pingam em meu rosto. Que horas são?

"Hora de partir "... Um sussurro. A silhueta está próxima. Seus olhos estão brilhando. Parece sedenta e faminta atrás de sua presa. Sem poder fugir, estendo minha mão afim de tampar os olhos numa tentativa miserável de me proteger. Contudo, onde está minha mão?

A silhueta parou.

O som de sirenes também.

Sinto um toque familiar na mão que não existe.

O ursinho continua lá.

As crianças estão indo embora.

Não o deixem. Quando eu o fiz, chorei por dias. Aquele era... Meu ursinho? Ele ainda está me esperando.

Quanto tempo faz?...

Minhas lágrimas estão caindo. O que houve comigo? O jardim. Ainda estou nele. A silhueta está parada, porém, mais próxima. As sirenes pararam de soar. Bips constantes agora ecoam. E a minha consciência está funcionando erroneamente.

Permaneço deitada no jardim. Com aquela voz sussurrando "acorde". E a silhueta dizendo "hora de partir".

Esse jardim... Está perdendo a cor... A silhueta volta a andar. Os bips aceleram.

Espere!

Mais uma vez a silhueta para.

O jardim toma cor de novo.

Alguém me diga onde estou? Tento falar. Porém, minha voz não sai. Meu corpo continua paralisado. Entro em agonia. Começo a me debater interiormente. Meu corpo não me obedece. Viro meus olhos para baixo. Meu corpo não existe.

"Acorde!"

"É hora de partir."

Um jardim vermelho.

Onde estou?

"VOCÊ NÃO VAI ACORDAR... "

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