Prólogo

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Inglaterra, novembro de 1471.
Era por volta das dez horas da noite, a lua estava quase toda coberta por nuvens carregadas e assombrosas que cobriam o céu, anunciando que uma tempestade voraz e destruidora estava a caminho, mas mesmo assim, a lua cheia ainda iluminava aquela noite fria. Rajadas do vento frio e cortante balançavam as árvores do cemitério de ColdMine que se retorciam sem relutância. Ao lado de um túmulo de mármore estava Charly. O garoto estava aflito, com cara de medo e preocupação. Provavelmente por causa da tempestade.

O brilho da lua prateada iluminava seu rosto triste que encarava o local onde seus pais estavam enterrados, seus olhos negros como a noite se fixavam em uma gravura que estava em cima do túmulo. Um homem robusto em pé com os braços em volta da cintura de uma mulher magra de cabelos longos e cheios de modo que suas mãos descansavam sobre a dela em sua barriga. Pareciam felizes, e estavam, pois ali não era somente duas pessoas, mas três. Pingos d'água grossos e gelados começam a cair, mas nem mesmo a chuva atrapalhava os gélidos pensamentos do rapaz.

Algo barulhento atrás dele como se fosse um pássaro gigante pousando chamou sua atenção. Ele salta para trás vendo a silhueta de um garoto de aparência estranha em pé o observando ao seu lado calmamente. Seus cabelos pretos e bagunçados balançavam ao vento na mesma frequência que as tiras de sua camisa branca se misturavam a água da chuva. Todo o seu corpo era marcado por uma roupa justa, o jeans carvão rasgada e suja marca suas pernas. Charly sentia uma energia negativa saindo daquele garoto a sua frente, algo que ele desconhecia. Sabia que ele não era normal.

A água da chuva escorria sobre os dois garotos de cabelos lisos e pretos respingando em seus rostos que os encarava fixos. Os olhos de Charly se estreitaram e mantiveram firmes na pessoa a sua frente como se estivesse lendo minuciosamente os movimentos do garoto.

- Quem é você? - Charly rasgou o silêncio entre eles e perguntou ao garoto.

- Eu preciso de você Charly. - Respondeu calmo e passivo. Charly sentiu um tom sarcástico em sua voz, como se ele estivesse segurando um sorriso em seus lábios. Ele sentiu uma ponta de medo gelar seu estômago, mas não deixou que tomasse conta de si. Repetiu intrigado.

- Eu perguntei quem é você! - Vociferou Charly entre os dentes, embora já suspeitasse qual seria a resposta. O garoto mantinha seu olhar firme e penetrante em Charly sem se importar com a pergunta.

- Eu sou um anjo do inferno. - Disse enquanto um sorriso cínico de canto de boca se alinha em seus lábios.

Charly sentiu o ar pesar e suas pernas tremerem. Maldito!

Pensou.

- Eu não sou da linhagem dos anjos caídos, dos nefilins, dos anjos do inferno, nem dos desertores, não venha atrás de mim criatura, não sou o que procura!

O jovem anjo do inferno soltou uma gargalhada diabólica carregada de sarcasmo que ecoou no cemitério a dentro. Ele debochava da cara de espanto de Charly e de sua tentativa de se livrar do seu destino.

- Ora, não tente me enganar seu híbrido imundo! - Os olhos do garoto brilhando de desejo. Seu sorriso maléfico agora estava estampado em seu rosto.

Charly arregalou os olhos ao ouvir as últimas palavras dita pelo garoto ficando em estado de choque paralisado de medo. Seus olhos o analisavam procurando alguma brecha para se livrar do jovem anjo do inferno, mas era inútil, no momento não havia brechas, ele era muito cuidadoso.

- Tu és o meu servo e servirá a mim daqui pra frente seu imundo. É assim que as coisas têm que acontecer. - Mais uma vez nasce um sorriso cínico de canto de boca sustentado pelo sarcasmo do jovem anjo do inferno.

O anjo cuspia as palavras na cara de Charly enquanto o garoto tentava processar as informações. As bochechas de Charly foram esquentando, mudando de tom, ficando vermelhas e trêmulas da raiva que sentia pelo insulto do anjo.

Charly empunhou sua espada de dois gumes feita pelo seu falecido pai e ameaçou o jovem anjo na tentativa de se livrar da sua detenção feita pela vida.

- Vá embora e procure outro para ser seu servo. Não terei piedade! - Falou dando ênfase a espada que segurava.

- Sua raça foi feita para nos servir, aceite isso e tudo será mais fácil! - Disse o anjo ignorando o aviso e se aproximou de Charly sem temer a espada que estava em sua mão, enquanto Charly recuava em pequenos passos para trás até perder o equilíbrio e cair de joelhos no chão cheio de folhas podres das árvores.

- Você ainda não entendeu.

Falava o anjo calmamente ao se aproximar de Charly que tentava em vão sair do chão, agora tomado por um medo desconhecido que gelava até a alma.

- Seu pai era um anjo do inferno e sua mãe uma nefilin, por isso você é um híbrido, o único que pode ser meu servo que em breve vai saciar todos os meus desejos.

Charly sustentava os olhos acima de suas têmporas para manter o contato visual e espreguejava o anjo enquanto ele falava cada palavra calmo e maliciosamente.

- Eu me vingarei, farei com que pague por tudo que me fizer passar criatura miserável!

- Até lá, você será meu!

Então o anjo virou-se de costas e começou a se despir. Os olhos de Charly avaliava cada pedacinho do corpo perfeitamente cuidado do anjo no momento em que as asas longas e negras se abriram. Geralmente os anjos do inferno não tinham aquela forma, eles eram mais assustadores e com cheiro difícil de suportar. Com certeza ele não é um anjo do inferno comum.

- O que vai fazer? - Retrucou Charly tremendo de raiva, seus olhos lacrimejando por causa da chuva e da raiva.

- Vou me apoderar de seu corpo e vou usá-lo como eu bem quiser até o dia em que tudo estará em seu devido lugar.

Revelou o anjo do inferno tirando as  suas vestes deixando seu corpo nu.

- Seu desgraçado! Eu juro sobre essa chuva que me vingarei de ti!

O jovem anjo segurou com força cravando suas unhas na pele do braço direito de Charly e o ergueu até a altura de seu queixo sustentando seu olhar frio nos do rapaz assustado e acudo e ordenou.

- Conjure as palavras do ritual de possessão!

Charly conhecia o ritual, sabia as palavras do juramento e sabia que se não conjurasse, o anjo do inferno o mataria e ele nunca mais poderia se vingar pelo o que ele fez essa noite.

- Eu, Charly Epiteno de Varsilio, me entrego de corpo e alma a aquele que diz ser meu Senhor.

As unhas do anjo do inferno cresceram e perfuraram a carne do braço de Charly arrancando um grito de dor do garoto.
O sangue quente descia e pingava no chão, enquanto o anjo levava a sua boca e deixou que pingasse cinco gotas do sangue e bebeu.

O ritual estava feito e os gritos de dor de Charly foram se acabando até que o anjo tomou posse de seu corpo.
Charly não estava mais ali naquele corpo, mas sim um anjo demoníaco do inferno com desejos obscuros e maldosos a serem realizados.

O anjo caiu no chão e começou a gritar de dor, se retorcia no chão gemendo e gritando enquanto suas asas renasciam reluzentes em seu novo corpo.

Bom galerinha, é isso ai, nosso ponta pé inicial.
Espero que gostem, deixem seus votos e comentários abaixo.
Aceito opiniões e sugestões de todos.

Ainda tem muita coisa pela frente para acontecer....

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