Onde tudo começa!

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Me pego com um medo até então novo, o frio na barriga estava mais forte do que nunca, sentia como se a minha garganta fosse explodir de tanta vontade de chorar, sentia como se eu fosse me afogar em tantos sentimentos mal resolvidos, sabia que o certo a fazer era entrar no avião sem olhar para trás, mas não conseguia entender como uma coisa dita certa parecia tão errada.

Olhando pela janela, vi todas as luzes que a pouco iluminavam o meu caminho se tornado alguns pontinhos a longa distância, não conseguia pensar em nada racional, parecia que cada pensamento meu voltava à estaca zero, sentia um vazio tão grande no meu peito que parecia que jamais seria preenchido outra vez, revirando a minha bolsa achei um remédio que dava sono e não pensei duas vezes, precisava me desligar de tudo aquilo, pelo menos, eu teria algumas horas de descanso.

Acordei totalmente desnorteada, estava confortável demais para levantar a cabeça e comer.

- Você não vai comer?

Levantei assustada quando percebi que estava dormindo no ombro de alguém.

- Desculpe, não queria te assustar, só achei que você poderia estar com fome, então tomei a liberdade de pegar um prato pra você também - apontou para um prato na mesinha dobrável.

- Obrigada, e me desculpa, deve ter sido desconfortável viajar assim. - disse com um pouco de vergonha coçando a cabeça.

- Não se preocupe, já tive os meus momentos também - sorriu como uma forma de me consolar.

- Juro que não sou de dormir assim nos outros o tempo todo, eu só apaguei - disse terminado de engolir a comida.

- Come com calma - ele disse rindo e eu confirmei com a cabeça.

Terminei de comer e fiquei conversando com o rapaz que estava do meu lado, ele era uns dois anos mais velho que eu, muito bonito e simpático, ele me explicou que foi transferido de assento e quando chegou para se sentar do meu lado eu já estava dormindo, e com a turbulência eu acabei caindo em cima dele, por isso tinha me deixado lá.

- Você não parecia muito bem então eu não quis atrapalhar, quando eu precisei de um ombro para descansar tive um e achei e poderia retribuir de alguma forma.

- Não foi um dia fácil na pra falar a verdade, mas pelo menos eu consegui descansar um pouco antes de voltar pra vida real - sorri. - Ah, qual o seu nome ? Estamos conversando e eu nem sei isso sobre você.

- Por que não deixar no mistério ? Você não me fala o seu e eu não falo o meu, assim não corremos o risco de nós machucarmos.

- Hum, gostei da ideia, mas então nós precisamos de um apelido, afinal são muitas horas juntos, o que acha ?

- Okay, deixa eu pensar - colocou a mão no queixo - Você vai ser a dorminhoca - eu ri - E eu posso ser o travesseiro, o que acha ?

- Não pensaria em nada melhor - rimos.

Continuamos conversando pelas próximas horas, ele era um rapaz muito bonito, era tão pálido que sua pele chegava a parecer transparente, cabelos pretos e olhos na castanhos, tinha um sorriso muito bonito e ótimas piadas, ele provavelmente percebeu que eu não estava bem e por isso me distraiu durante toda a viajem.

Chegarmos ao nosso destino, fomos nos falando até pegarmos as malas, e enfim tivemos que nos despedir.

- Foi um enorme prazer conhecer você senhora dorminhoca - disse se curvando como uma forma de fazer uma piada.

- Devo dizer o mesmo, senhor travesseiro - abaixei um pouco.

Ele acenou e se virou, olhei uma ultima vez aquele homem alto e sua bela camisa branca até ele desaparecer na multidão.

- Meu primeiro amigo aqui e eu provavelmente nunca mais vou ver ele - soltei um suspiro e uma risada - parece que começamos bem.

Peguei a minha mala e fui procurar um táxi, mostrei o endereço e ele me levou, passei a viagem toda com o mesmo aperto no coração, não sabia se era saudade, ansiedade, raiva... só tinha certeza que teria que recomeçar, chegamos no endereço desejado, tinha um jardim na frente do prédio, uma fonte com alguns bancos rodeando ela na parte esquerda e um jardim cheio de flores e árvores na direita, peguei as minhas malas e fui em direção à entrada, o porteiro me acompanhou e mostrou o prédio, era um lugar simples e bem velho, típico da cidade. Depois de me familiarizar com todo o prédio e porteiro me levou até o meu andar e me entregou a chave, estava tão curiosa para ver tudo mas me peguei travada na frente da porta, com receio de que algo acontecesse aqui, mas uma hora ou outra eu deveria entrar, disso eu tinha certeza.

- Já passei por coisas piores - apertei a chave na mão - Eu vou conseguir, dessa vez eu vou recomeçar e vai dar tudo certo, eu só preciso de um pouco mais de coragem. - coloquei a chave na fechadura e abri - Enfim em casa.

Capítulo sem título 1Onde histórias criam vida. Descubra agora