Três | Drowning

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LUKE:

Acho que o cara lá de cima gosta de mim, enquanto estou fazendo massagem ela começa a tossir água, a viro de lado como já vi muitas vezes os caras fazerem na praia, ela continua tossindo água e eu fico lá alisando suas costas, e falando palavras de tranquilidade em seu ouvido , e como se estivesse saindo de uma bolha finalmente noto que as pessoas ao nosso redor estão aplaudindo, algumas com celulares na mão, os salva-vidas finalmente nos alcançam, ela está com os olhos fechados, eles me afastam dela bruscamemte e começam a checa-lá, me fazem um monte de perguntas que não entendo e não sei como responder, até que um dos salva-vidas a vira de frente e parece reconhece-la, o escuto murmurar "Marine" e vejo que manda alguém ir até a pousada onde estou hospedado. Não sei quanto tempo ficamos ali aguardando a ambulância, mas quando ela finalmente chega não sou capaz de deixá-la sozinha, quem quer que ela fosse, algo me prendia a ela, não sei se o fato da responsabilidade do acidente ser minha.

Quando estou acompanhando ela ser levada pra ambulância, um cara cutuca meu ombro, olho pra trás e vejo que ele está com minha prancha na mão e mais uma prancha rosa quebrada, ele diz algo que não entendo, tento fazer uma mímica para ele ficar com elas, não consigo pensar nisso agora. Acho que ele me entendeu ou percebeu meu desespero, acena positivamente e volta pra areia com as pranchas embaixo do braço.

Quando vou tentar subir na ambulância, o mesmo salva-vidas que pareceu reconhece-la coloca a mão no meu peito me parando, não gostei desse cara, ou eu subo nessa merda por bem ou por mal, cerro minha mãos em punho, ele pergunta alguma coisa, provavelmente quer saber o que sou dela, e agora?! Quando vou responder escuto um grito e vejo Caio vindo correndo na rua desesperado, começo a ligar as coisas, as semelhanças entre eles, a irmã surfista que ele disse ter, o salva-vidas a reconhecendo e apontando pra Pousada. Puta que pariu, o que eu fiz? Ele corre em minha direção, olha pra dentro da ambulância e vê sua irmã lá, começa a chorar, os salva-vidas falam algo com ele e ele se vira em minha direção e pergunta:
- "É verdade?" Não sei o que falaram com ele, como poderia responder. É verdade que sou o culpado de quase matar a irmã dele?
Antes que eu consiga responder ele me abraça. Não consigo reagir, por que o cara tá me abraçando? Eu sou o culpado!
-" Obrigada cara, obrigada por ter salvado minha irmã!" Engulo em seco, eu posso ter salvado a irmã dele, mas fui eu que a coloquei nessa situação em primeiro lugar, nada mais justo. Queria argumentar mas esse não é o momento, ela precisa de cuidados, de ir a um hospital fazer exames para termos certeza que está tudo bem.
Quando estão fechando as portas da ambulância eu seguro e digo pra Caio:
-" Preciso ir com ela, me ajuda. Esses caras não estão deixando!"
Ele olha pra mim sem entender muito bem mas não me questiona, se vira para o pessoal da ambulância e fala algo, eles me deixam subir, Caio antes de partir fala:
-" Não se preocupe, vou correr em casa pegar os documentos dela, meu carro e estou logo atrás de vocês!"
Assim que as portas se fecham vejo uma enfermeira trabalhando na minha menina. Na minha menina? Que merda é essa cara, você nem sabe o nome dela! Foda-se. O sentimento de apropriação falou mais alto. Ela é linda, mesmo assim deitada pálida, coberta de areia, com os cabelos bagunçados e uma máscara de oxigênio no rosto. Ela usa um pequeno biquíni branco que mal cobre sua intimidade, com blusa de lycra justa estampada, sei que o momento não era o mais propício mas não posso deixar de admirar seus seios fartos mesmo tapados pela camisa, seu abdômen liso, e suas pernas longas e torneadas, até os seus dedos do pé pintados de rosa são lindos. Meu amigão começa a dar sinais de vida. Merda Luke, se controla!

Assim que chegamos ao Hospital eles entram correndo com ela e me indicam a sala de espera, uma enfermeira vem até mim com um prancheta, mas depois de perceber que não consigo compreendê-la, deixa a prancheta com a papelada na minha mão. O jeito é aguardar Caio chegar pra resolver isso. Ele não demora muito. Assim que chega preenche todos os dados necessários e entrega de volta a enfermeira. Vem em minha direção e se senta ao meu lado se vira pra mim e pergunta:
-" Como tudo isso aconteceu?" Agora é a hora, o cara vai querer me matar, acho que terei que mudar de pousada depois de contar tudo. Relato exatamente como tudo aconteceu, e ele não parece se abalar quando digo que foi minha culpa, ele apenas presta atenção e assente. Quando termino ele diz:
-" Ainda bem que foi você, Marine não tem jeito, não é a primeira vez que ela se envolve nesses acidentes com outros surfistas, mas nunca chegou a esse ponto. Deve ser porque ficou presa e não conseguiu voltar à superfície como você relatou, ela é uma excelente nadadora, mas disse, ela teve muita sorte de ter sido você." Depois que ele diz isso fico mais tranquilo, a culpa começa a pesar menos, espero que ela pense igual quando nos conhecermos.
-" Fico muito feliz de ter conseguido ajuda, teve um momento onde realmente achei que não conseguiria, nunca senti tanto medo." Ele deu dois tapinhas nas minhas costas e ficou em silêncio, talvez refletindo o risco de quase ter perdido a irmã. Depois de alguns minutos ele diz:
-" Não sei como vou contar isso aos meus pais."
-" Você ainda não contou pra eles?" - pergunto
-"Não, eles vão surtar, e provavelmente vão proibi-la de surfar por todo o verão! E se isso acontecer ela arranca minha cabeça. Vou esperar para conversar com a ela, ter certeza que ela está bem, para decidirmos como contar." Assinto, ele é quem sabe, não são meus pais.
Caio se vira pra mim me entregando uma sacola e diz:
-" Quase esqueci, trouxe isso pra você, imaginei que fosse precisar, são minhas, espero que caibam." Abro a sacola e vejo uma camisa, uma bermuda e um par de chinelos. Na correria nem percebi que ainda estava só de John e descalço. Agradeço e sigo em direção ao banheiro para me trocar. Ficou tudo um pouco apertado porque sou mais forte que Caio, mas vai ter que servir por ora.

Uns 30 minutos depois um homem de jaleco branco aparece, deve ser o médico, nos levantamos apressados. Ele troca algumas palavras conosco, tento entender mas não consigo, mas pela sua expressão e de Caio acredito que esteja tudo bem com Marine. Marine, amei seu nome, combina perfeitamente com ela.
O médico se virá e faz sinal para o seguirmos, Caio caminha na minha frente, o médico abre a porta do quarto onde provavelmente Marine está, não sei se devo entrar, acho melhor esperar e fico no corredor, Caio nota que não estou entrando e diz que não irá demorar, faço sinal positivo e ele entra fechando a porta.

INTO THE OCEANOnde histórias criam vida. Descubra agora