Capítulo 2 - Fogo

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Está muito frio. O inverno aqui é rigoroso. Entro na floresta e caminho em direção ao lugar em chamas. Espero que mamãe e vovó estejam num sono profundo.

A floresta é muito escura. Mesmo com a luz do luar, a escuridão prevalece. Raramente alguém entra aqui. Os moradores contam várias histórias de coisas estranhas que acontecem dentro dessa floresta. Comigo, nunca aconteceu nada.

Há uma movimentação estranha no matagal. Parece que alguém está correndo. Deve ser coisa da minha cabeça. Espanto qualquer tipo de medo, abaixo-me e pego algo que brilhava no chão. É um medalhão dourado, pendurado em uma corrente também dourada e no meio, havia um tipo de uma pedra de cor avermelhada.

Analiso com muita atenção. Guardo-o em um bolso da capa e continuo a caminhada. Dois homens correm em minha direção, ambos vestiam uma capa longa e preta.

— Ali está ela, vamos capturá-la! — Eles saltam. O pulo deles deve ter atingido mais ou menos uns oito metros de altura. Aquilo não era algo que um ser humano normal conseguiria fazer.

Fugir. Essa era minha única saída. Pego meu arco e uma flecha e preparo para atirar em um deles. Acerto bem no alvo, o coração, e ele cai morto e no mesmo instante paro de correr.

— Agora somos só nós dois! — Digo e dou um leve sorriso.

Ele salta novamente. Pego a última flecha que me restava e atiro, sem mirar. A flecha passa pela frente de seu rosto e atinge uma árvore logo atrás dele.

Ele corre em minha direção e me atinge com o cotovelo, fazendo escorrer sangue de meus lábios. Ele coloca as mãos em meu pescoço e tenta um sufocamento. Tento retirar suas mãos de meu pescoço mas ele aperta mais forte ainda.

Seu rosto era todo deformado. Havia argolas na boca, nariz, sobrancelhas e orelhas. Suas unhas eram grandes e afiadas. Cortariam minha garganta facilmente com um simples golpe. Viro-me e jogo-o para o lado, pego o arco e atinjo seu rosto. Ele tenta me segurar novamente, mas esquivo-me com rapidez, seguro  sua cabeça e com muita raiva faço um movimento e quebro seu pescoço. Ele cai de joelhos. Chuto suas costas e seu corpo desaba sob o chão.

Miseráveis. O que eles queriam de mim? Por que me perseguiam?

O caminho ainda é longo, preciso continuar. Coloco meu arco nas costas e sigo em frente.

A fumaça invade a floresta. Existe uma multidão e parece que estão em festa. Pessoas rindo, batuques e bebidas. Me escondo atrás de uma árvore.

Observo e percebo algo: todos tinham a mesma aparência. O que era aquilo? Um exército? Um tipo de clã?

Foco na fogueira à minha frente. Havia uma pessoa ali, seu corpo estava tomado pelas chamas! Que desgraçados, porque estavam fazendo aquilo?

Um daqueles homens, provavelmente o líder deles, chega perto da fogueira e abre um sorriso.

— Hoje é um dia de festa. Mais uma bruxa está morta! — Todos caem na gargalhada. — Não podemos deixar que esses seres pratiquem suas magias aqui no vilarejo. É nosso dever protegê-los. Mas ainda não acabou. Existem duas bruxas vivas, muito mais perigosas do que todas que já matamos. Quase capturamos a bruxa mais nova, mas ela fugiu e matou dois de nossos irmãos.

Recuo um passo. Piso em algo no chão que causa um barulho. Eles percebem e todos olham em minha direção.

— Têm alguém ali. Vão ver quem é e não deixem que sobreviva!

Todos obedecem a ordem daquele homem. Uns saltam sobre as árvores, outros rastejam como cobras, e outros correm tentando me capturar. Algo me acerta em cheio, meu corpo desaba sobre a neve, perco meus sentidos e minha visão fica turva.

Acordo em minha cama. Me assusto, tento me levantar mas a dor me impede. Mamãe e vovó me olham e sorriem. Alguém entra no meu quarto, eu reconhecia ele.

— Não! Não pode ser, o que ele está fazendo aqui?

Ele sorri pra mim. Desmaio novamente.


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