Capítulo 4 - Vingança

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— Não, não precisa ir até a floresta. Facilitarei as coisas para você, querida!

Reconheço aquela voz. Viro-me e aquele mesmo homem está ali, parado na porta. Ele sorri, e vejo que falta um dos seus dentes inferiores.

— O que você fez? Maldito! Eu irei matá-lo!

— Calma garotinha, preciso te contar algo.  Há muitos anos atrás, existia aqui no vilarejo um homem. Ele era alto, forte e aparentava ser um homem bondoso. Ele morava aqui nessa casa, com sua mulher, sua sogra e sua filha. Sua vida era bem tranquila, pelo menos era o que acreditávamos, até que um dia numa noite de luz cheia, aquele mesmo homem se transformou em um monstro, metade homem e metade lobo. Os moradores entraram em pânico. Seu pai saiu correndo de casa e foi para a floresta, pois assim que amanhecesse ele voltaria a forma humana. Mas algo horrível estava para acontecer. Um grupo de crianças, meninos e meninas, brincavam próximo à floresta, e não sabiam o que tinha acontecido naquele momento. Uma menina, com um vestido branco igual a neve que cai lá fora, foi a última vítima de seu pai. Ela havia entrado na floresta para buscar a bola que eles brincavam, e seu pai ainda transformado fez aquela garota em pedacinhos, como eu fiz a sua mãe. — Retiro minha faca. — Espere, ainda não acabei. A mãe da garotinha, quando encontrou seu vestido ao lado de seu pai na floresta, tentou matá-lo. Ele correu e se escondeu em sua casa, foi então que atearam fogo e o queimaram vivo.

— Isso não explica você ter matado minha família! Elas não tem culpa de meu pai ser um monstro, assim como você é. Qual o motivo de tanta matança?

— Vingança.

O homem em minha frente começa a se contorcer e se transformar em um terrível lobo. Retiro minha adaga mas ele salta sobre mim e me derruba. Suas patas prendem meu ombro ao chão, fico imóvel. Minhas pernas estão livres. Faço um movimento brusco e chuto sua barriga.

Coloco meu joelho por cima de seu peito e posiciono minha adaga em seu pescoço.

— Lamento pela garota. — Corto sua garganta e o sangue respinga em meu rosto.

A criatura volta a forma humana. Seu olhos começam a se fechar e ele ainda pronuncia algumas palavras.

— Ela era minha filha. — Ele está morto.

Levanto-me. Estou sozinha agora. Minha avó e minha mãe morreram. Meu pai era um lobisomem, ou melhor, um assassino. Pego alguns pertences, alguns alimentos, coloco dentro de uma bolsa. Visto-me com roupas quentes. Arrumo meu arco e algumas flechas e vou embora.

Antes de partir, observo minha casa. Continuo a caminhada e em alguns minutos meu lar encontra-se em chamas. As pessoas tentam conter o fogo, mas nada adianta.

E mais uma vez a história se repete. Fogo, destruição e vingança.

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