Time Break

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"Yoon? Yoonoh?!"

"No banheiro." Jaehyun gritou a resposta.

"Eu posso entrar?"

"Claro que não."

"Nós somos próximos e, ainda assim, você tem vergonha." Bufou o mais alto que pôde para o vizinho escutar.

"Não é vergonha, coelho asiático. É bom senso!" Jaehyun saiu do banheiro coberto pelo roupão. "Você deveria adquirir um pouco disso."

"Eu tenho bom senso! Você que é envergonhado ou fresco, como preferir."

"Por que invadiu minha casa, Doyoung?"

"Não é invasão quando você entrega uma chave em minhas mãos dizendo que sua casa é minha casa."

"Eu nunca disse isso."

"Eu aumentei as palavras, calado!" Doyoung riu e deitou no sofá. "Deita aqui também."

"Direto ao ponto, por favor." Jaehyun deitou-se sob o braço de Doyoung.

"Sabe... fazem quase cem dias desde minha primeira noite aqui."

"Ah, lembro! A noite que você abriu um buraco em minha parede."

"Seja gentil, grosso."

"Quer que eu fale grande ou já está subentendido?"

"Enfim, Jaehyun!" Doyoung aumentou o tom de voz e depois riu. "O Winwin terminou as provas e você disse que o Yuta desistiu de duas cadeiras, então estive pensando em sairmos juntos para nos conhecermos e comemorarmos."

"Oh, isso seria ótimo. Quando o Winwin chega em Seoul?"

"Essa semana, eu acho." 

"Combinado. Não é necessário consultar o Yuta porque ele é um grande desocupado." 

O tempo passou relativamente rápido nos últimos meses para Yoonoh. Sua ficha apenas caiu quando Doyoung o convidou para comemorarem os cem dias sendo vizinhos, provavelmente em um soju bar qualquer em Hongdae.

Doyoung há dois meses atrás, ligava ou mandava sms para o vizinho pedindo ajuda por estar perdido nas redondezas de Hongdae, agora era um dos frequentadores assíduos do bairro. Grande parte de seus passeios em Hongdae tinham como foco os grupos covers de rua; Doyoung fez amizade com os membros de alguns grupos e eles normalmente saiam para beber depois das apresentações.

Como diversos grupos se apresentavam ao mesmo tempo, o ambiente ficava cada vez mais barulhento tornando impossível para Jaehyun acompanhá-los.

Restava esperar as ligações de Doyoung às três da manhã, completamente bêbado ou perdido. Na maioria das vezes, as duas coisas. Então Jaehyun o repreendia e dizia que seria a última vez que o buscaria, mas os dois sabiam que aquilo era mentira.

Mesmo que Jaehyun vivesse reclamando e perguntando o porquê de ser tão castigado com a presença do vizinho, ele estranhamente gostava de Doyoung.

Poderia fazer listas de coisas que gostava em Doyoung ou de fazer com Doyoung, tinham muitas coisas.

Gostava quando Doyoung o confortava todas as manhãs depois dos pesadelos; Gostava de quando ele aparecia no buraco da parede como um coelho curioso e perguntava qualquer assunto aleatório para que conversassem; Gostava quando ele gritava para chamar sua atenção; Gostava de quando Doyoung roubava sua comida e ria de boca cheia; Gostava da maneira que Doyoung acabava com sua privacidade e espaço pessoal sem perceber; Gostava quando ele ia até a biblioteca levar café ou simplesmente arrastá-lo para as estantes mais escondidas para passarem um tempo juntos; Gostava de quando Doyoung não assistia os episódios dos dramas e animes sozinho, esperando por ele; Gostava quando Doyoung comprava um mangá novo e fazia um pequeno ritual de grudar em si enquanto lia; Gostava de ouvir Doyoung cantando e tocando os mais diversos instrumentos; Gostava de quando saíam e Doyoung fingia ser seu namorado para que ninguém os atrapalhasse; Gostava dos cafés da manhã e das conversas sem sentidos que o acompanhavam.

Essas não eram nem ¼ das coisas que Jaehyun gostava em Doyoung. E por serem tantas coisas, Jaehyun mal conseguia organizar seus pensamentos ou expressá-los da maneira correta. Mas o pensamento de que Doyoung o entendia e retornava esses sentimentos traziam conforto imenso. 

Jaehyun sentia-se tanto arrependido quanto agradecido pela noite que Doyoung estragou sua parede e — não tão gentilmente — se aproximou dele.

Em todos seus anos de vida nunca havia conhecido alguém tão extrovertido, engraçado e compreensivo quanto Doyoung que aguentava desde as mudanças de humor até os piores momentos do mais novo.

Depois que Yuta e Youngho entraram para faculdade, Jaehyun sentia-se solitário como um abandonado no purgatório. Mas ele era o único culpado por aquilo, afinal não estudou o suficiente e ainda bebeu uma noite antes da prova de admissão.

Doyoung contou sobre como vivia em Hanam antes de voltar para Seoul. Em Hanam morava com o irmão, Donghyun, mas o mesmo precisou se afastar por problemas de saúde e seus outros dois amigos, Sicheng e Ten, estavam sempre ocupados com o ensino médio.

Doyoung e Sicheng costumavam ser inseparáveis para tudo; Doyoung mencionou que Sicheng era como um irmão mais novo ou um filho o qual ele não media esforços para proteger. A diferença de idade entre eles fazia com que Doyoung se sentisse extremamente responsável por ele, então estava sempre grudado no menor e o menor em si. Quando voltou para Seoul, foi como deixar uma grande parte de si para trás em Hanam. 

Porém, em Seoul, Doyoung havia conhecido Jaehyun e isso tirava um pouco do peso de estar sozinho naquela cidade. Eles tornaram-se próximos e decidiram manter o buraco que ligava suas casas que ficavam em lado opostos. 

As manhãs começavam com Doyoung acordando Jaehyun de seus pesadelos, depois tomavam café da manhã juntos, vestiam seus uniformes de trabalho e começavam o dia. Doyoung conseguiu um emprego de turno integral na cafeteria ao lado da biblioteca que Jaehyun trabalhava e isso facilitou bastante a amizade dos dois. 

Durante os intervalos e os finais de seus turnos ficavam juntos. Ou seja, como diria Doyoung: Estavam juntos desde o café da manha, depois o lanche da tarde até o jantar, suas três partes favoritas do dia tinham o melhor acompanhamento, Jung Yoonoh.

O turno de Doyoung terminava vinte minutos mais tarde que o turno do vizinho então Jaehyun sempre o esperava para que eles fossem embora juntos. Durante a semana eles não tinham tanto tempo quanto gostariam para estarem na companhia um do outro. Isso era a coisa que muitos avisaram para ambos quando decidiram morarem sozinhos: "Vida adulta".

Doyoung odiava ser um adulto e ter tantas responsabilidades, mas o lado bom era que Jaehyun passava pela mesma situação, eles não precisavam agir como adultos um com o outro. 

Quando retornavam para casa, permaneciam juntos fazendo coisas aleatórias como conversarem sobre qualquer coisa — Literalmente qualquer coisa —, lerem ou jogarem videogame.

Doyoung gostava muito de comprar novos mangás para que pudessem ler juntos. Afinal, nesses momentos Jaehyun não se importava com Doyoung o abraçando, apertando ou fazendo qualquer outra coisa. 

Jaehyun gostava muito de jogar videogame com Doyoung porque além das apostas que faziam frequentemente, enquanto jogavam deitavam no sofá um sob o outro e brigavam durante horas sobre quem estava carregando as missões nas costas sozinho.

Os cem dias juntos foram apenas o começo da amizade entre os dois. 

the_7th_sense_dojae.pdfOnde histórias criam vida. Descubra agora