CAPÍTULO I - O PRELÚDIO DE SVEN

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Os olhos de Sven estavam cansados, cansados do destino que as Nornes lhe haviam reservado. O velho viking estava ofegante, deitado de costas no leito de um lago congelado. Uma fina camada de gelo se formava nas extremidades dos fios de sua barba e de sua cabeleira loira.

Seu olhar estava fixo. Fixo naquela primeira estrela que teve a coragem de aparecer naquele tão desgraçado final de tarde, seus olhos começaram a piscar constantemente até que transbordaram em tristeza com as lembranças dos fatos que o levaram até àquele estado lastimável. Amaldiçoava, do fundo de sua alma o dia em que aquela velha vidente havia aparecido diante dele e previsto o seu futuro, prometendo-lhe a glória eterna, a fama e a riqueza, além de um lugar certo na mesa de banquetes dos Salões de Valhala, independente da forma que viesse a morrer. Tudo isso, caso cumprisse seu destino: ser capaz de encontrar as nove runas.

***

- Sven Svensson – proferiu a voz baixa e rouca da velha. – Você é o homem que os deuses falam.

Era quase impossível de se ver o rosto da anciã, a não ser por alguns fios brancos de seu cabelo, que saiam do capuz feito de trapos. Pelos brotavam de seu comprido queixo, sua pele enrugada dobrava-se como papel amassado.

Estava encurvada no meio do salão, sendo sustentada apenas por um apoio de madeira que servia como bengala.

Sobre uma tábua de madeira jogada no chão ela abaixou-se, jogou ossos de animais e gravetos de árvores em diversos formatos, começou a manuseá-los incessantemente com seus dedos tortos, como se os estivesse decifrando.

- Diga, velha! – A voz poderosa de Sven irrompeu o tilintar dos ossos que chocavam-se contra a tábua. – O que os deuses reservaram para mim?

Sven era um senhor de senhores, um Earl de Earls. Sua barba e seu cabelo comprido começavam a tomar leves tons de prateado, seus quase quarenta invernos lhe transformaram em um velho guerreiro, mas isso não o tornava mais frágil, pelo contrário, o Viking continuava a ter o mesmo olhar penetrante e intimidador de quinze anos atrás quando se tornou Earl Sven. Possuía olhos verdes profundos que obrigavam os fracos de espírito a desviarem de seu olhar.

- Sven Svensson. – A velha repetiu mais uma vez, desta vez sorrindo e mostrando apenas os três dentes que ainda mantinha em sua boca murcha. - Os deuses sabem que você é um líder entre líderes, e por isso te escolheram para buscar o paradeiro das nove runas.

Desde criança, Sven sempre sonhou em ser mais do que um simples guerreiro. Passou a vida toda buscando uma forma de escrever seu nome nas runas e na memória do mundo, podendo assim ter, quem sabe um dia, sua própria Edda cantada pelos bardos. Algo que seu pai, Sven, o Sem Medo quase conseguiu. Mas, infelizmente, a sorte nunca lhe sorrira com relação a isso, não por falta de competência, ele sempre foi um homem que não tolerava erros ou enganos, mas talvez, faltasse somente um pouco de boa vontade das Nornes, Senhoras do Destino dos Mortais e Imortais.

Pode-se imaginar o súbito interesse que despertou em seu interior quando uma velha veio até ele dizendo que os deuses falavam seu nome em Asgard, que o favoreciam.

Mas o nobre Sven estava sendo enganado. Loki, percebendo o tipo de ganância presente no coração do velho líder, colocou o plano em ação. O Senhor das Trapaças possuía motivos mais do que bons para se interessar por Sven, sabia que o Viking possuía sangue dos Aesires correndo em suas veias. Ele nunca soube, mas seu pai, Sven, o Sem Medo, havia vivido uma paixão com certa Valkiria muitos anos atrás, paixão esta que resultou em seu nascimento.

Loki se disfarçou como uma velha vidente, e previu que Sven estaria destinado à glória eterna, caso recuperasse o paradeiro das tais nove runas.

EDDAS DO RAGNARÖK: Wolfgard e a Prole de FenrirOnde histórias criam vida. Descubra agora