- Tulipas Brancas -

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Quão longe eu caminhei?

Se eu olhar para trás de mim, encontrarei uma trilha de lágrimas

Eu estava machucado, e machuquei outros em troca

E agora eu finalmente alcancei o lugar onde você se esconde.


Mitch olhou para a ligação que seu celular indicava estar recebendo. Viu o nome de Chad na tela e perguntou-se o que ele iria querer naquele dia. Prestando atenção mais no semáforo que acabara de ficar vermelho do que no aparelho irritante, desbloqueou a tela, permitindo que a voz do baixista chegasse aos seus ouvidos.

- Onde você está agora? - foi o que ouviu. Bufou, descrente. Agora ele, um homem adulto de 27 anos, tinha que ficar dando satisfação sobre onde estava? Antes que pudesse soltar um típico xingamento, o caçula da banda continuou: - Howl queria saber se você vai aparecer para o jantar.

Ah, claro. O jantar. Mitch já estava quase se esquecendo dele, se não estivesse com tanta raiva que tivesse sido marcado naquele dia. Era mais um motivo para não estar com a mínima vontade de ir, apesar da insistência de Howl e de Belle. A garota estava visitando Londres mais uma vez naquele ano. Desde que eles começaram a namorar "da forma certa" no Natal passado, tanto Howl como ela ficavam na inda e vinda entre os dois países, o que Mitch achava uma perda de tempo. Para quê todas as formalidades quando os dois já tinham sido casados e dividiram uma casa por três meses, ele não tinha ideia. Muito mais fácil e econômico se simplesmente voltassem a morar juntos como tinham feito antes.

Normalmente ele não julgava muito o relacionamento dos amigos, inclusive achava nele fontes ótimas para piadinhas e dizeres desconfortáveis, só pelo prazer de provocar. Mas marcar um jantar em grupo para comemorar o sucesso do último single da Compass~ bem naquele dia o deixava incrivelmente irritado.

Porque mostrava que, com exceção dele, todos estavam se esquecendo. E que talvez só ele, pra começo de conversa, se importava. Mitch nunca deixaria de se importar, muito menos se esqueceria algum dia, seus fantasmas o assombrando para sempre. Ele sabia que tinha que suportar isso sozinho, por mais que não quisesse, por mais que quisesse dividir o peso com alguém. No começo, dividia com seus amigos, que o rodeavam como torres de proteção e que impediam qualquer coisa de acontecer a ele. Achou que com o passar dos anos ficaria mais fácil, mas não haviam se passado tantos anos assim. E seus amigos já o abandonavam, suas torres já ruíam, e ele se via sozinho enfrentando algo que ainda não estava pronto.

- Mitch? - ouviu a voz hesitante de Chad, como se este ainda não tivesse certeza que o baterista estava na linha. O sinal acabara de ficar verde e Mitch acelerou, já avistando seu destino na esquina seguinte.

- Não sei se vou ter tempo. Se der, eu apareço. - foi o que respondeu, suspirando. Havia dito que tinha um compromisso, e ainda assim nenhum deles lembrara?

- Certo. - e Chad desligou. Ele estacionou na frente do estabelecimento, soltou o cinto e saiu do carro, encarando a floricultura que permanecera inalterada por todos aqueles anos. Trancando o carro com um aperto do botão, entrou em seguida na loja, sendo recebido pela mesma senhora de sempre.

- 300 tulipas brancas, não é? - ela conferiu o pedido depois de ele dizer seu nome, recebendo um aceno dele em concordância. A senhora achou graça. - Primeiro foram 100. Depois 200. Agora 300. Por quanto tempo pretende continuar fazendo isso? Ou você vai falir os campos de tulipa, ou vai nos sustentar para sempre.

Mitch riu, não que estivesse com vontade. Cem flores no primeiro ano. Duzentas no segundo. Trezentas no terceiro. Pretendia, no mínimo, chegar a mil. Não era nem perto do que ela merecia. 10 anos não seria o suficiente.

Uma Noite em Vegas - CONTOSOnde histórias criam vida. Descubra agora