Você me disse tanta coisa. Você me fez tantas promessas. Você me amou de tantas formas. E agora, tudo que tenho comigo é metade de um maço de cigarros e o meu novo isqueiro vermelho. Pois é, eu não esperei você me presentear com um. Estou aceitando aos poucos que suas promessas não serão mais cumpridas e que, se um dia voltarmos a conversar, dificilmente tudo será como antes.
Estou numa praça bonita, mas não consigo ver beleza em nada que não envolva uma mensagem sua dizendo o quanto me ama. Ou planejando sobre quando a gente for se ver.
Eu sei, uma hora ou outra eu vou ter que aceitar que você foi embora. Talvez, pra sempre. Mas ainda estou em período de luto. Você me dava forças, você era a minha droga diária – todo mundo tem um vício – e eu amava te tragar. Eu amo você, ainda.
Nos conhecemos tem dois anos praticamente. Sempre senti algo diferente em tudo que você fazia. Naquele dia em que você me contou um pouco da sua vida e me pediu pra persistir, enfatizando o quão importante pro mundo eu era, algo dentro de mim me deu vontade de continuar. Como se eu tivesse tomado um remédio, uma pequena pílula azul que me desse tesão em viver novamente. Mas, acho que depois de um tempo, o efeito se acaba. E ele acabou agora.
Eu realmente nunca planejei isso tudo. Se eu pudesse escolher, me desculpe, mas eu nunca escolheria você para me apaixonar tão perdidamente. São tantos empecilhos. E, diferente do que você disse, é difícil. É muito difícil. Você sempre discordava comigo quando eu dizia, mas acho que, se pudéssemos nos falar agora, você finalmente concordaria comigo.
John, estamos a 600 quilômetros de distância agora. E mesmo sem nunca ter olhado diretamente nos seus olhos, sei que você foi e sempre será o amor da minha vida. Aquela coisa de alma gêmea que eu nunca quis acreditar, aquela coisa de par perfeito, do fio vermelho, das vidas interligadas desde antes do nascimento.
Eu não como faz 2 dias. Se você pudesse ler isso, talvez me xingaria dos pés a cabeça. Eu também não tomo mais meus remédios, não ando estudando para aquela prova e não faço nada além de fumar e chorar. Não exatamente por você, mas por tudo que esses dias significaram pra mim. Hoje, eu tenho a certeza que nunca mais serei o mesmo. Foi uma queimadura profunda, um corte vertical. Foi tudo o que eu mais temia.
Dói saber que você preferiu a mentira. Dói saber que a prudência e maturidade foi segunda opção pra você. Mas o que mais dói em mim não é ter sido escondido, ter sido trocado, nem mesmo deixado de lado e acobertado por suas calúnias ridículas que nem ao menos sentido fazem. O que mais dói em mim é saber que agora, estou sozinho. O que mais dói em mim é ter que enfrentar essa dor toda calado, sem ninguém para simplesmente me dizer para respirar enquanto choro. Sabe, John, eu conseguiria passar o resto da minha vida sem beijar seus lábios. Mas não sei se consigo passar mais um dia sem ouvir tua voz.
Na última vez que você me ligou, meu coração estava duro. Tenho que te confessar uma coisa: por mais que você estivesse chorando e desesperado, eu me senti, por alguns segundos, feliz. Feliz por ouvir a sua voz, feliz porque você estava vivo, feliz porque minha cabeça preocupada poderia descansar em paz.
Naquela mesma ligação, eu não entendi suas palavras. Mas eu gosto de acreditar que, logo depois de você dizer, aos prantos, "eu tenho que ir", você também disse "te amo". Eu não consegui responder. Você desligou logo depois. Mas, se um dia você chegar a ler isso, saiba: Eu também te amo.
-x-
- Você realmente tem que ir agora?
- Eu vou dormir um pouco. Mas vou pensar em você, dormindo.
- Isso é possível? – Eu ri, com o coração apertado. Não queria me despedir, não queria ter que voltar a minha rotina chata e esperar horas para submergir para meu alívio: conversar com John por telefone.
Nos conhecemos há dois anos, por uma ferramenta social chamada Omegle, sabe, aquele que você fica conversando com desconhecidos e acaba fazendo algumas amizades improváveis e aprendendo sobre histórias malucas. Pois bem. Eu e John somos ingleses, entretanto, eu vivo em Londres e ele em Luxemburgo, capital.
Eu sou estudante de Literatura da UCL (University College London) e estou no meu segundo ano de estudos. Tenho 20 anos e quero lecionar para colégios e, quem sabe um dia, uma faculdade renomada. Não sei exatamente como vai ser meu futuro, mas, ultimamente, não imagino ele sem Lennon.
Estamos perdidamente apaixonados. Depois de tanto tempo nos admirando apenas como amigos decidimos nos entregar ao sentimento que mantínhamos guardado por todo esse tempo. Eu tinha medo de sentir qualquer coisa por John.
Primeiramente, porque ele é casado, possui uma esposa e dois filhos.
Em segundo lugar, porque moramos longe e nunca realmente vimos um ao outro.
Em terceiro lugar... Bem... Eu não tinha certeza se John gostava de rapazes.
Foi há alguns meses atrás, depois de um tempo afastados, que John me confessou em uma ligação que sempre havia me olhado de forma... Diferente. Que, basicamente, era apaixonado por mim. Aquilo mexeu com a minha cabeça durante uns dias, mas logo percebi que tudo fazia sentido e que eu não precisava de me privar daquilo tudo... De ser, finalmente, feliz.
Tenho depressão, diagnosticado desde os meus 14 anos de idade. 3 remédios controlados, 7 tentativas de suicídio e 4 internações. Hoje, moro sozinho, e o meu maior medo são minhas próprias atitudes destrutivas.
- É completamente possível, meu amor. Você é a majestade dos meus sonhos! Eu te amo, ok?
- E você é o meu príncipe! – Ri, novamente, sentindo uma espécie de energia mágica e boa vindo do outro lado da linha. – Eu te amo! Bons sonhos!
Ele desligou, depois de fazer sonoros beijinhos. E antes que eu pudesse me despedir por texto, recebi notificação de uma mensagem.
"Tu me disse algo que me desmontou por inteiro. SOCORRO!" - Johnny
"O que eu disse???? Que eu te amo????"
"O que disse antes do eu te amo!!!" - Johnny
"PRÍNCIPE???"
"É! Você não imagina o quanto isso me desnorteou..." - Johnny
"HAHAHAHAHA, MEU PRINCIPE!"
"MEU DEUS, NÃO ME DEIXA ASSIM TODO BOBO! Vou dormir, mas com um sorriso no rosto! Te amo!" - Johnny
-x-
Naquele dia – talvez você nunca saiba – seu contato mudou de "John Lennon" para "Príncipe". E até hoje, não corrigi esse nome. Talvez ele fique pra sempre, é que eu não tenho coragem de apagar o passado próximo tão rapidamente como você fez.
Porque sei, que no meu reino, você terá sempre lugar na realeza.
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smoking.
RomanceÀs vezes é preciso aceitar que as mais belas histórias de amor foram interrompidas, e talvez o mundo nunca saiba que é possível sentimento tão puro.