Parte II - Se com pensamentos perdesse peso...

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— Correr? — Sim, Taís, correr! Você não está vendo meu tamanho? Gorda! Balão! Enoooorrme!

— Você não é gorda. — Levantei as sobrancelhas bufando. — Éééé... Você só está fortinha. Isso não é ser gorda! Por deus, Diana! É ser saudável!

Revirei os olhos.

Ela não entraria nessa comigo... Ela era magra da família 38. Taís, minha melhor amiga não iria entender, até porque ela nunca entendeu até mesmo quando éramos do colégio e eu pesava mais de sessenta quilos e era motivo de chacota por conta do excesso de peso para uma adolescente de treze anos. Eu não queria isso de novo. As lembranças da adolescência já são assombradas o suficiente para voltar a se tornar real.

— Tudo bem Taís, eu faço isso sozinha. Obrigada mesmo assim. — Desliguei o celular e falei para mim mesma: — Mas quando eu aparecer sarada e gostosa não morra de inveja. Pois é isso que vai acontecer, por bem ou por mau. Anote o que to falando...

Começaria no dia seguinte. Às seis horas. 

****

 Coloquei uma roupa adequada para correr e transpirar sem que manchasse minhas roupas que tinha custado os meus rins, prendi o cabelo em um rabo de cavalo, aderir o iPod à atividade física, fiz um breve alongamento como fui instruída pela Lídia, minha vizinha quarentona que vive correndo, e fui para a luta contra minhas gordurinhas á mais. Não tinha nem chegado no parque direito e minhas pernas já pediam socorro. Não estava conseguindo mais associar o impacto dos meus pés contra o chão, com a simples atividade de inspirar e expirar, fazendo com que o ar e sangue chegassem aos meus pulmões sem causar danos. Eu estava sem fôlego, uma pontada na cintura era sentida e a única coisa que conseguia pensar era que atividade física é tortura contra seres "acima do peso".

Vai Diana, você consegue...

Não seja bunda mole! Não tem nem dez minutos que você está nisso. Respire. Você consegue.

5, 6, 7,8...

Comecei a contar meus passos, vislumbrando o vestido daquela lojinha maldita cada vez mais a frente, como forma de inspiração e força para continuar.

"Eu consigo", repito para mim.

... 70, 71, 72, 73... 

"Eu vou entrar naquele vestido 40 e vou desfilar com ele".

... 90, 91, 92, 93...

"Todo mundo vai babar na minha espessura sexy e vão morrer de inveja pela minha saúde contemplada e meu corpo em forma"

... 145, 146, 147, 148...

"Isso é tortura, senhor!"

... 187, 188, 189, 190...

"Eu vou morreeeeeer".

Praguejei baixinho assim que avistei o parque que parecia, agora, aterrorizador. Arqueei o corpo e pousei as mãos no joelho observando meus pés e tentando recuperar o fôlego que faltava aos meus pulmões.

"Eu... preciso..."

— Parece que alguém não estar se saindo bem por aqui. Precisa de ajuda?

Uma voz forte soou acima de mim, antes de completar o pensamento de quê eu realmente precisava comer.

"E você pretende emagrecer como Diana, pensando em comida, até nas atividades físicas?" Dei uma risadinha me recriminando-me. 

— Preciso de muitas coisas, inclusive perder peso... — rir da minha própria desgraça.

O Vestido Perfeito (com uns quilinhos a mais)Onde histórias criam vida. Descubra agora