Brinco com minhas tranças e pinto minhas unhas,
Olho para meu quarto, para todas as minhas frases,
Penso no dia em que vou parar de ser hipócrita e vive-las,
Acho que esse dia está muito longe ainda, ainda sou uma prisioneira,
Estou presa nessa vida,
Estou presa nessa cidade,
Presa nessa idade,
Presa nessa mentalidade,
E agora enquanto pulo da minha cama,
Eu penso,
O que vou fazer quando eu chegar lá?
Só mais um ano,
Mais um ano para eu me livrar,
Mais um ano, e aí param de me torturar,
Será?
Estou agora caminhando até meu banheiro,
Puxo meu lápis de olho e pinto minha sobrancelha,
Estou me arrumando, tenho uma festa de aniversário para ir,
Será que ainda vou conhecer a pessoa a qual estou indo a festa,
Daqui aos dois, três, dez anos que estão por vir?
Pego o vidrinho e esborrifo meu perfume,
Tem cheiro cítrico,
É o meu favorito,
Será que ainda vou gostar desse cheiro,
Em janeiro?
São tantas perguntas que estão em minha cabeça,
Tantas mudanças que vão acontecer, mas ainda não aconteceram,
Eu anseio por essas mudanças, todos esses anos me corroeram,
Eu preciso sair desse inferno, estive muito infeliz mesmo que não pareça.
Estou entediada,
E estou atormentada,
Parada nesse presente do subjuntivo,
Alguém por favor entre em minha cabeça e acabe com esse ruído.
