Capítulo 2

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A manhã seguinte estava cinzenta e gelada, como tinham sido todas as demais desde o fim de novembro. Ao colocar os pés para fora da cama, tateando à procura dos chinelos, tive a sensação de que o chão de madeira do meu quarto era feito de gelo. Sabia que era bobagem não usar minhas meias de dormir gigantes quando Alex passava a noite aqui, mas não estávamos juntos havia tanto tempo assim e eu achava que ele não estava preparado para elas, por isso preferia ficar sofrendo.
Como uma idiota.
Março era o oposto de julho. Tinha sufocado de calor desde que colocara o pé para fora do avião; e agora, no entanto, às vezes me perguntava se algum dia sentiria calor de novo. O verão quente e grudento tinha se transformado em um outono fresco e ameno, que foi substituído rápido demais por temperaturas abaixo de zero e tempestades de neve. Por mais lindo que fosse ver tudo coberto com um metro de neve, eu já tinha aprendido que aquilo não era a "novidade". Quando nevava na minha cidade, tudo parava. Minha mãe esperava espalharem sal pelas ruas para a neve derreter e ia a pé até o mercado usando galochas, caminhando no meio da rua para comprar quantidades desnecessárias de comida enlatada e oito galões de leite, que venciam antes que ela conseguisse convencer meu pai a beber tudo dentro do prazo de validade. Quando nevava de verdade em New York, as esyradas congestionavam, o metrô parava; mas a vida não.
E enfrentar o vento cortante com o rosto úmido de chuva e neve não ajudava muito a ter a vida glamourosa que minha família na Inglaterra imaginava que eu estivesse vivendo. E também podia ser porque meus e-mails e telefonemas raramente mencionavam o fato de eu estar andando pra cima e pra baixo há meses com um nariz vermelho igual o da rena do Papai Noel, enrolada em casacos, parecendo o bonequinho da Michelin.
Abri uma fresta da cortina para ver como estavam as ruas. Pelo menos não tinha nevado durante a noite. O céu, porém, estava cinzento e ameaçador e, lá embaixo, as pessoas caminhavam empacotadas como se estivessem a caminho de uma expedição no Ártico

- Que horas são?- gemeu Alex,rolando até perto de mim e fechando novamente a cortina.

- Sete e meia- suspirei, deixando que ele me puxasse de volta para a cama, meus pés desaparecendo sob o cobertor. Alex parecia uma bolsa humana de água quente. Por mais gelado que estivesse o apartamento, ele estava sempre quentinho. Além do óbvio, essa era uma das razões pelas quais eu mais gostava de tê-lo na minha cama.- E por mais que não queira, tenho que me levantar.

- Sabe, eu digo para as pessoas que é maravilhoso ter uma namorada escritora- resmungou Alex quando me afastei de novo-, porque ela não prescisa acordar cedo para ir para o trabalho todo dia. E veja só você aí, saindo da cama às 7:30...

- Não posso fazer nada - respondi, finalmente me desvencilhando para enfrentar o chão gelado de novo. Vesti minha camisola de flanela enorme e encarei-o de volta. Ele estava com os olhos fechados e as cobertas puxadas até o nariz. - Você diz mesmo para as pessoas que tem uma namorada escritora?

- Hum - Alex se enrolou sob as cobertas, escondendo a cabeça quando acendi a luz. - O que mais eu possa dizer? Que é uma refugiada britânica que não pode voltar pra casa porque quebrou a mão de um cara?

- Bobão - peguei a toalha pendurada perto do aquecedor e fuo para o banheiro. - Você pode dizer o que quiser. - "Desde que diga que sou sua namorada", pensei comigo com um enorme sorriso.

O edifício da Spencer Media ficava na Times Square, um dos lugares de que eu menos gostava em Mahattan. Mesmo naquele dia, em uma manhã gelada de março, às 8:50, as ruas estavam repletas de turistas usando luvas de lã finas demais para aquele frio e carregando copos de café do Starbucks e câmeras digitais. Nunca tinha pensado que um casaco alcocheado da North Face fosse uma peça necessária no guarda-roupa, até tentar sobreviver ao mês de janero em New York vestindo apenas um sobretudo lindo Marc by Marc Jacobs e uma jaquetinha de couro fina da H&M. Jamais, na minha vida inteira, passei tanto frio. Agora entendia que tinha que deixar de lado meu recém descoberto interesse em moda e pôr tantas roupas quanto era humanamente possível antes de sair se casa. Era uma loucura.
Passei por um bando de estudantes que se revezavam para tirar fotos do grupo, cada vez um deles se fazebdo de fotógrafo, e pensei na quantidade de fotos de turistas que eu tinha invadido desde que começara a trabalhar para a The Look. Devia haver milhões de fotos no Facebook com uma certa garota mal-humorada aparecendo no fundo, suspirando com impaciência.
A vista do escritório de Mary no 42° andar do edifício quase fazia valer a pena a caminhada pela Times Square. Quanto mais alto subia, mais incrível New York parecia. No chão, às vezes perdia a noção de onde estava ao observar as marcas conhecidas-H&M aqui, HSBC ali-, mas lá no alto, cercada de arranha-céus, vendo as águas ao redor da ilha, eu sabia que só podia estar em Manhattan.

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⏰ Última atualização: Feb 12, 2017 ⏰

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