Recomeço

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As folhas avermelhadas de outono já caíam do lado de fora da sala, enquanto Steve rabiscava em seu bloco de notas coisas aleatórias. Quando algo lhe chamou atenção.

- Eu sei que o primeiro dia é sempre confuso, por isso, eu quero que vocês entendam que fotografar não é algo ligado somente ao dinheiro, não pensem nisso somente como um trabalho. Fotografar está ligado a quem você realmente é. Junto com a foto vem os sentimentos por trás dela. Não é guardar uma imagem é guardar o momento. É quando você olha para uma imagem e lembra daquela época em que tínhamos mais inocência, nossos corações não estavam partidos, nossas ilusões estavam inteiras e fortes e o tempo estava congelado para sempre. Por isso eu quero que vocês me falem como foram suas férias e se vocês guardaram algum desses momentos em forma de fotografia.

Enquanto os outros alunos falavam sobre suas férias, o discurso do professor ecoava na mente de Steve. E ele enrolava seus cachos claros com o dedo indicador, e notou que não tinha lembrança alguma de suas férias.

- Ei garoto, e você?

O professor aponta para ele, que é automaticamente tirado do seus devaneios.

- Eu...Eu não me lembro.

- Isso mesmo, você não se lembra porque não fotografou, esse é o espírito. Ouviram turma?! Este garoto sabe como sentir o que é capturado em uma fotografia.

O sinal toca, todos saem da sala, mas Steve não vê motivo para isso. Ele espera todos saírem da sala, quando ele se levanta para ir à próxima aula, o professor vem em sua direção.

-Steve, esse é o seu nome certo?

-Sim.-Disse meio receoso.

O professor era jovem, muito atencioso e aparentemente apaixonado por fotografia, pelo jeito fervoroso que tratava do assunto.

- Eu gostei do modo como as lembranças tem um significado importante para você, sabe, as suas memórias criam sua personalidade. - O professor falava empolgado, enquanto um Steve confuso tentava entender a situação.

- Hum... que bom que gostou, ham... a maioria das pessoas não notam isso.

- Deve ser por que eles estão tão ocupados com suas vidas fúteis e insignificantes - disse o senhor jovem e em forma - mas é melhor você ir, se não vai acabar se atrasando para a aula prática do senhor Grey - Até mais! - Ele acenou e sorriu, para o simpático professor.

Enquanto isso...

Em outra parte da cidade Indie está estudando sobre as dificuldades da sua carreira, mas nada consegue fazer com que ela mude de ideia sobre seu futuro, seus olhos brilhavam ao ver os textos sobre furtos. Ela vai até a cozinha, amarrando as trancinhas em um grande coque. Após tomar 250ml dos 2L de água diários, seu celular toca.

- Alô?

- Oi Indie, sou eu, a Liv.

- Oi Liv, como vai?

- Vou bem, eu queria conversar com você, está ocupada agora?

- Não, sobre o quê?

- Hum, eu falo pessoalmente. Então, vamos tomar um café?

- Vem aqui em casa, eu faço o café.

- Chego aí em cinco minutos.

- Ok.

Enquanto o vizinho apara a grama, causando um grande incômodo a Indie, ela pensa sobre o que Liv queria conversar. Elas nem eram mais tão próximas, afinal elas mal se encontraram depois das férias, aliás, aquelas férias foram...foram... espera o que houve nessas férias?!

Pingos e mais pingos caíam, enquanto Indie andava pelo seu apartamento com sua toalha amarela enrolada em seu corpo. Enquanto tentava desesperadamente secar suas trancinhas com uma toalha de rosto, a culpa não era sua, nunca imaginaria que durante seu banho, alguém tocaria a campainha, tantas vezes.

- Calma! Já estou indo!- Ela grita da cozinha.

Ao abrir a porta, Indie se cala ao lembrar que tinha marcado o café com Liv.

- Me desculpe, não sabia que iria ficar com tanta raiva por conta do meu atraso, é que eu acabei parando para comprar rosquinhas de chocolate, me falaram que são suas preferidas. - Liv disse zombando da amiga.

- Me desculpe, fica à vontade eu vou me arrumar e já volto.

Liv observa atentamente cada detalhe da casa de Indie, como se fosse a primeira vez, tudo organizado, livros em ordem alfabética. Fica desconfortável, organização lhe causa enjoo. Indie volta a sala já arrumada, e Liv se pergunta o que ela está fazendo ali.

- Vou pegar o café! - Diz Indie, indo para a cozinha.

Após o café e o assunto acabarem, quase simultaneamente, o assunto volta ao ponto central.

- Então Liv, o que era tão importante, que não podia ser falado por Telefone?

- Você sabe, nossas férias.

- O que tem elas?

- Eu não me lembro de nada, a não ser o Sky chamando a gente para viajar juntos.

- Como assim? Não lembra de nada nadinha?

- Não, mas o que aconteceu nessas malditas férias afinal?

- Bom... na verdade eu também não lembro.

- Isso é muito estranho!

- É mesmo, mas porque você veio perguntar justo a mim?

- Eu achei isso em uma das calças que eu tinha levado para a viagem.

Indie observa, Liv tirando um colar de seu bolso, o colar que ela não estava encontrando em lugar nenhum da casa, que pertenceu à sua família.

- Como ele foi parar na sua calça?

- Eu não sei, mas tem um bilhete.

"Obrigado por ter passado esse tempo comigo, nós não temos nos visto muito depois das féria, guarde esse colar com você, para sempre lembrar da nossa amizade.
Ass: Indie "

- Isso foi durante as férias?

- Acho que sim.

Nesse momento Indie tenta formular um jeito de não ser grossa ao pedir seu colar de volta. Liv quer se livrar dele, medalhões de família não combinam com sua personalidade.

- Acho melhor você ficar com ele - Liv disse receosa.

- Obrigada.

- Nós precisamos falar com o resto do pessoal e perguntar se eles se lembram do que aconteceu.

- Sim vamos marcar com eles.

- Que tal quarta à noite, no café de sempre.

- Por mim tudo bem.

- Indie eu vou indo, tenho que ir pra faculdade, até quarta.

- Até quarta, bom primeiro dia.

- Obrigada.

Elas vão até a porta, mais confusas do que nunca, como elas poderiam esquecer de 6 semanas inteiras?

Todos recebem a mensagem, convocando à uma reunião no café. Mas em nenhum deles causou tanta inquietação quanto em Oliver.

Oliver neste momento está em seu porão, desolado, por algum motivo que não conhecia. Agora voltando para sua tela nova, após lavar os pinceis, ele prende seu cabelo e nota que seu cabelo está sujo com tinta azul, já que sua nova tela é sobre peixes, e mais uma vez ele fica confuso por estar pintando peixes, ele nunca pintou nenhum outro tipo de animal, mas esse quadro lhe trazia algo diferente, e ele gostava disso. Então em sua cabeça vem o rosto quase angelical de Steve, isso estava acontecendo frequentemente depois das férias, mas disso ele não gosta. Para afastar esses pensamentos ele toma mais um gole de energético. Seu celular vibra, ele vê a mensagem de Liv e  fica feliz, já estava com saudades de seus amigos e afinal as férias foram boas, não é?

6 Semanas que não lembramosOnde histórias criam vida. Descubra agora