Valentina entrou no quarto com a respiração ofegante, os lábios rosados e cheios de malícia se abrindo em um sorriso leve e quente como a brisa de verão. Era uma tarde de outubro e o outono despontava em seu esplendor alaranjado do lado de fora do palácio, época perfeita para que os dois amantes secretos flutuassem pelos corredores escuros do palácio em busca de esconderijos. Aquele affair proibido por seus pais tinha sido uma distração para a princesa fazendo iluminar aquilo que tinha tudo para ser um "annus horribilis".
A princesa certificou-se que a porta estava trancada, sentou-se no chão e suspirou profundamente querendo poder prolongar os poucos minutos diários que compartilhava com seu amor. Demorou bastante pra notar o franzino envelope deixado na penteadeira, a cera que o lacrava brilhava doentiamente sob a luz do sol que penetrava pelas frestas da cortina. Dirigiu-se até ele e sentiu um arrepio percorrer-lhe a espinha quando leu a assinatura, o remetente da carta era seu pai. A cera vermelha intacta contendo o brasão da espada e do cervo provando que era totalmente verídica. Valentina já havia recebido dezenas de cartas do rei, convites para enfadonhas conversas sobre pretendentes e longos passeios nas alamedas e jardins do castelo. Todavia, esta carta era tão diferente das outras a ponto de ser capaz de assustá-la, afinal até então acreditava-se que reis mortos não enviavam cartas.
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Outubro
Historical FictionA rainha não lembrava do dia exato, porém sabia que havia sido em outubro quando recebeu a carta que mudaria sua vida. De princípio sentiu-se ameaçada por aquele envelope de papel com cera vermelha que repousava sobre a penteadeira de carvalho, entr...