Pedro atravessa a porta de madeira do ancoradouro como um foguete e se detém para ligar alguns interruptores. Ouço as lâmpadas fluorescentes estalando e zumbindo em sequência enquanto uma claridade dura inunda a ampla construção de madeira. De cabeça para baixo, noto um iate impressionante flutuando docemente na água escura da doca, mas só o vejo de relance, pois ele logo sobe uma escada de madeira me carregando para o andar de cima.
Ele para no portal e liga outro interruptor, acendendo agora lâmpadas halógenas, que são mais suaves com regulador de intensidade, e estamos em um sótão de teto inclinado. A decoração é em estilo Nova Inglaterra: combinação de azul-marinho e creme com traços de vermelho. Há poucos móveis, dois sofás e é tudo que consigo ver.
Pedro me coloca no chão de madeira. Não tenho tempo de examinar o ambiente, pois meus olhos não conseguem desgrudar dele. Estou com medo... Observando-o como alguém faria com um predador raro e perigoso, esperando o bote. Ele está ofegante, acabou de atravessar o gramado e subir um lance de escada me carregando nos ombros. Os olhos verdes estão inflamados de ódio.
— Por favor, não me bata. - sussurro, implorando.
Ele fecha a cara, revirando os olhos. Pisca duas vezes.
— Não quero apanhar de você, aqui agora. Por favor, Pedro, não me bata.
Num rasgo de coragem, tento abraçá-lo, mas ele se afasta para evitar meu contato. Sinto-me mal.
— Você não sabe o quanto estou irritado com você... De novo. - ele sibila.
Aquelas palavras. Estas palavras rapidamente me ferem e o olho com pena. Ele se aproxima de mim.
— Quero muito te dá umas surras. - sussurra.
Abaixo a cabeça. Engulo em seco, mas, por uma mínima coragem, consigo erguer a cabeça e o encarar. Sua ideia, porém, está me assustando bastante.
— Não me bata, Pedro...
— Cala a boca! - grita, e assusto-me com seu tom. — Quando você ia me contar sobre a faculdade em São Paulo?!
— Não sei... Eu... - encontre a aplacaras certas, rápido! — Na verdade, eu simplesmente não sabia como contar.
Seus olhos queimam os meus. E saber que ele está super irritado me deixa com medo.
— Eu iria contar, juro, mas é que... Você nunca tocou no assunto.
Suas sobrancelhas franzem, em confusão. De repente, Pedro me carrega novamente colocando em cima de uma mesa próxima. Acho que estava atras de o tempo todo e nem percebi. Suas mãos acariciam meu queixo, fazendo-o olhá-lo.
— Tudo que ocorrer em sua vida, Anita, em cada momento que preechê-la, eu quero que me conte, certo? Qualquer detalhe. Qualquer situação que você participar. Nem se for uma besteira. - sussurra, e as palavras saem como um mantra entrando diretamente em minha mente.
Seus olhos queimam de raiva sob os meus, inocentes.
— Certo. Eu prometo. - digo.
Ele torna a me encarar. Resolvo me levantar da mesa. Encaro sua boca e sinto uma louca vontade de beijá-la.
— Ainda estou com raiva de você. Não se aproxime de mim. - diz, e decido me afastar.
Lágrimas brotam meus olhos. E, surpreenderes-te, não sei o porquê de está chorando. Ele acaba escutando meus soluços.
— Engole o choro... - ele manda, mas não consigo. Faço de tudo para acabar com aquela cena ridícula que estou fazendo, porém é como se estivesse fazendo aleatoriamente, sem controle nenhum pelo meu corpo. — Engole o choro, porra!
Acabo recebendo um tapa forte passando pelo meu rosto, no qual vira-se para o outro lado. Meu corpo todo é levado pela sua força e me seguro na mesa por trás para não cair no chão. Coloco a mão direita por cima da bochecha, que está ardendo muito, para tentar relaxar a dor. Agora sim há um motivo para o choro.
— Engula o choro, Anita. - fico em silêncio e solto um suspiro. Limpo as lágrimas rapidamente. — Pensei que confiava seriamente em mim, como eu confio em você. Mas vejo que nosso namoro não está equilibrado, principalmente pela confiança. Estou sendo um tolo nesse relacionamento e é você que está perdendo a chance de continuarmos.
Vejo-o saindo do nosso caminho, voltando à casa dos pais, e coçando a nuca por trás. Apesar de está sentindo uma dor terrível pelo forte tapa, meu coração acelera-se seriamente ao vê-lo indo embora, ao vê-lo se afastar de mim... Corro em sua direção, apressadamente.
Meus pés estão doendo tanto pelo salto.
Ele está andando lento, por isso, consigo alcançá-lo. Ao me aproximar dele, toco em suas costas, fazendo-o parar de caminhar. Fico em sua frente e seguro firme seus ombros, olhando seriamente em seus olhos. Ele continua sério e me olha friamente.
Ao parar de correr, percebo que estou bem cansada. Psicologicamente e fisicamente.
— Espera... - respiro fundo mais uma vez, e regia. Cabeça para olhar melhor a ele. — Não fique zangado comigo de novo, por favor. Quero que nossa relação continue como antes, como as últimas hora ano jantar.
— Como?
— Desculpe, amor. Desculpe mesmo por não ter contado nada a você sobre minha viagem. É. verdade mesmo, deve ser horrível saber que a namorada vai embora da cidade na frente de todos. Desculpe-me. Eu iria contar, eu juro, só que nunca tocamos nesse assunto. Desculpe-me, Pedro, por favor, aceite minhas desculpas.
Ele fica em silêncio alguns instantes. Diante toda a minha insistências. Com aquele silêncio, começo a perceber que sou mesmo a culpada de toda essa confusão que está acontecendo. Como não pude contar algo tão importante da minha vida a ele? Bem, mas ele nunca quis tocar no assunto da minha faculdade. Mesmo assim, foi vacilo feio!
— Tudo bem. - é tudo que sai de sua boca. — Vamos.
Ele torna a caminhar de volta à casa, sem me esperar e sem dar nenhuma manifestação sobre as minhas palavras. Talvez ele as considerou legalmente. Corro atrás dele.
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Talvez Um Dia
RomanceA doce Anita, ao completar 20 anos, ainda está na fase de amadurecimento emocional quando vive uma relação de cabeça para baixo com a mãe. Tendo um namorado, no qual a relação é extremamente abusiva, tenta seguir em frente com seu "grande amor", mes...