Prólogo

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...

Eles olhavam entre si, freneticamente. Mal podiam acreditar que era aquilo... Não daquela maneira.. Não ali. 

"Caramba, tudo aquilo pra ver isso? Era só isso que precisávamos?!!" começava a falar, quando foi interrompido.

"Não começa agora! É claro que não deve ser só isso... não.. não pode ser..." disse segurando as lágrimas. Ela ainda acreditava que seria alguma coisa bem diferente daquilo ali o que a faria voltar a viver. A verdade é que ela já não tinha mais tanta esperança assim.

Os quatro estavam em volta da coisa, observando, mas ninguém se atreveu a tocar. Porém Caleb, com toda a força que ainda restava, chutou aquilo o mais longe possível deles. Lia olhou para ele, mas ninguém falou nada. Todos estavam, naquele momento, sentindo a mesma coisa. Não eram mais quatro desconhecidos, eram um só.

Olhavam em volta, e tudo ia desmoronando aos poucos. Eles sabiam o que estava prestes a acontecer, mas continuaram ali parados, e ao invés de correr, pela primeira vez se juntaram, abraçaram-se e cada um foi fechando os olhos. Até mesmo Bento, que não acreditava em nada daquilo, fechou seus olhos. Já não eram mais precisas as palavras, nem explicações ou qualquer outra coisa. Já estava mais que claro.

E enquanto tudo caía à volta deles, o único som que conseguiam ouvir era o bater uníssono de seus corações. O único som que qualquer um conseguia ouvir era esse. Então, por um minuto inteiro, todo mundo ouviu, sentiu, viveu aquele momento. Os batimentos não eram apenas sons, eram ondas que derrubavam tudo em seu caminho.

Os que dormiam a mais tempo acordaram assustados, porém não era medo o que sentiam. Mesmo assim, antes de começar a rotina, ficaram um tempo sentados na cama pensando no que havia acontecido. Aqueles que tinham acabado de dormir deram um pulo na cama, mas alguns segundos depois já se entregavam novamente ao sono. Entretanto, ninguém jamais esqueceu desse momento, mesmo sem entender o que havia acontecido.

Os quatro, porém, permaneceram ali juntos, sem acordar ou pestanejar, e por uma fração de segundos ficaram ali sozinhos. Foi o suficiente pra que ouvissem. Então, ela abriu os olhos e viu a coisa se transformando em papel. Foi Tereza que percebeu, e se apressou para pegá-lo e ver o que havia escrito.

Caleb, Bento e Lia olhavam para ela, ainda ali parados em meio ao caos. A poeira e os escombros pareciam não existir para eles, e a voz de Tereza soou alta e clara, e logo após a leitura as lágrimas vieram aos seus olhos. Era a primeira vez que viam-na chorar.

Depois disso, o dia das pessoas foi cheio de comentários sobre os sonhos que tiveram, e todos se surpreendiam por ter sonhado com as mesmas coisas. Os mais fanáticos diziam que foi um teste do governo, ou falavam que foi algo divino. Cientistas de todo o mundo não conseguiam entender como isso foi possível e em todos os canais de notícias o "sonho universal" era a matéria principal.

Ninguém conseguia entender, e muito menos explicar, mas, nesse dia, o impossível que disseram no dia anterior já não parecia mais tão impossível assim.

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