dear time

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[26/12/2016]

Querido tempo,

Soube que passou em casa, mas eu não estava presente; os últimos dias no colégio foram importantes pela quantidade de faltas que tive no decorrer do ano - porém ser obrigada a passar horas a mais entre aqueles portões não foi tão ruim.

Não até você resolver encher minha garganta ao partir atrás de mim:

Olha, tempo, que coisa legal! Chorei com o rosto em meio aos braços por perceber o quanto passou.

Molhei a folha do caderno ao lembrar de ti.

Por me arrepender.

Por entristecer.

Por não lhe aproveitar.

Sei que, infelizmente, é impossível voltar atrás e pausar os ponteiros do relógio obrigando o "tic-tac" a se calar, tão menos fazer-me renascer apenas para realizar meu maior desejo: voltar à infância e reviver aquele aniversário que marcou este coração - hoje reconstruído inúmeras vezes.

Ah, tempo, daria tudo para conseguir algum poder surpreendente e criar aquela máquina tão desejada dando-me chance de mudar sua antiguidade. Idiotice ou egoísmo? Que seja. Considere! Momentos finalizados por caos às vezes nos cegam: a alegria é ofuscada por só conseguirmos lembrar da tristeza.

Pois bem, também entendo que nada é eterno, mas tudo possuí certo propósito e meu "tudo" - até agora - foi repleto deles.

É, tempo, nunca o vi na rua ou no barzinho da esquina, mas quando minha mente volta ao passado acabo lhe entendendo como ninguém. Tuas idas e vindas - por mais que invisíveis - podem nos tomar e, principalmente, mudar quaisquer pessoa. Disso tenha certeza, pois sou a prova viva: olhar para a Ana daquela fotografia tirada em 2010 trouxe saudade. A de 2015? Vontade de rir.

Céus, como esta menina pôde ter sido tão ingênua nos meses passados?, andei pensando.

Mas talvez ainda seja.

Sobre o arrependimento? Ele está presente em quase todo caso: fui horrível durante o último dia da escola antiga, por exemplo, ao prometer para minha melhor amiga que voltaria na próxima semana com a tentativa de termos uma boa despedida - isso enquanto chorava abraçada a mim.

Eu iria embora e disse que teríamos mais de você, todavia não cumpri minha promessa.

Foi da boca para fora. Me arrependo.

Ah, desculpe, estou sendo confusa? É que ora lhe considero um filho da mãe por parecer tão egoísta quanto eu, e ora percebo que a culpa deve ser despejada em minhas costas. Ora desejo mais de ti. Ora desejo que voe. Ora desejo que volte.

Ora... te odeio, mas te agradeço.

Caro tempo, podes ser a coisa mais complicada, injusta e maldosa existente no mundo trazendo saudade, dor e desamor, contudo não podemos nos esquecer de que, se não fosse por ti, nossas almas não teriam ganhado tantas aulas nessa sala chamada vida.

Talvez eu não seria eu se, por um acaso, tivesse o dom de controlá-lo

Mágoas são necessárias? Sim! Alegrias também acabam chegando. Ambas são automáticas, opcionais e juntamente dependentes de cada um.

Só espero, querido inimigo, equilíbrio misturado a esperança para continuar seguindo seus passos aleatórios.

Com amor,

Ana.

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Nota: acho que essa foi uma das coisas mais verdadeiras que já escrevi. A fiz por conta do desafio da flordobrasil. É muito bom, sério! Escrevam uma cartinha também <3

dear time, dear loveOnde histórias criam vida. Descubra agora