Prólogo

41 6 5
                                        

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.


                                                                                          A Deusa na Torre

Do topo da Torre da existência, Sophia observava o Universo além.

A vista oferecida pelas alturas não era nada sequer visto por olhos humanos. Não havia sol se pondo ao horizonte, o mar revolto quebrando-se em ondas, muitos menos lindos campos verdejantes para deleite do olhar.  Não, nada disso. A vista oferecida era nada mais nada menos que o próprio Espaço Sideral.

A imensidão negra povoada por estrelas estendendo-se até o infinito, onde cometas realizavam seu percurso ardente, deixando atrás de si, como um rastro que rapidamente desaparece após seu surgimento, caudas brilhantes e luminosas, em um festival de luzes multicoloridas. Nas proximidades, milhares de asteroides, grandes e pequenos, recobertos por depressões e saliências em toda sua superfície, fluíam juntos e em harmonia, uma correnteza pétrea que, de tão comprida, não se sabia ao certo onde começava e para onde ia, em um desfile eterno de rochas cosmológicas. Planetas grandes como Saturno, recobertos por anéis, com satélites e luas orbitando ao seu redor, pairavam ao longe, imersos em seu próprio movimento de rotação. Sóis reluzentes emitiam seus raios luminosos, fulgurantes bolas de fogo espalhando calor e luz.  Contudo, a temperatura não fazia a menor diferença para Sophia.

Seu captor, Logos, a aprisionara, tecendo em torno do Topo da Torre um halo invisível, como uma redoma, que a impedia de sair para qualquer lugar. Um domo oculto e sufocante, implacável como as grades de uma cela, enclausurando-a, por maior que fossem seus gritos e inúteis tentativas de escapar. Felizmente, o ambiente em seu interior era morno e aprazível, apesar dos inexoráveis raios solares que ricocheteavam em sua superfície e eram enviados de volta, impedindo-os de esquentar o ambiente além do suportável.

Sophia levantou-se de sua poltrona de veludo vermelho e caminhou até a borda da cobertura, no ponto onde o piso convertia-se nos quilômetros de rocha castanha, portadora da mesma textura e aparência de um caule de árvore, da qual a Torre era construída, de maneira que se assemelhasse a um gigantesco arvoredo, erguendo-se até onde a arquitetura jamais ousara ir: ao pico do Universo. Sophia baixou o olhar, observando, melancólica, o minúsculo planeta de cor arroxeada aos pés da Torre.

Aquele pequeno mundo fora sua criação. Sophia, munida de seu poder transcendental, tecera e construíra o planeta que, de tão pequeno, nem mesmo equivalia a um centésimo do tamanho de uma lua nanica. Sua atmosfera era totalmente enevoada, a bruma dotada de cor lilás encobrindo toda a superfície do corpo celeste, sua natureza opaca impedindo qualquer vislumbre dos acontecimentos sobre o solo do planeta. Era como as cortinas fechadas logo antes de um espetáculo, impedindo que os espectadores contemplassem as surpresas escondidas no palco. Também fora onde a base da Torre fora construída e depois erguida, e mesmo essa base também era mantida fora do campo de visão pelo nevoeiro no céu do astro. Este só era interrompido no ponto onde a Torre colossal o cortava, ascendendo infinitamente até seu topo, onde Sophia fora aprisionada. Apesar de ser um mundo pequeno, e ainda imperfeito, a julgar pela atmosfera enevoada, ela não o construíra sozinha. A tarefa revelou-se de uma dificuldade e complexidade ímpar, e após várias tentativas frustradas, invocou por ajuda de um dos Aeons de Pleroma. Um deles, de nome Logos, apiedou-se dos pedidos da Deusa e decidiu emprestar suas habilidades e força para ajuda-la.

Sob a NévoaOnde histórias criam vida. Descubra agora