Desde o momento em que nascemos ate o momento em que morremos, fazemos escolhas. Algumas fáceis, outras, derradeiras e necessárias. Mas inerente a qualquer dificuldade ou vontade, fazemos escolhas. A vida nos da a oportunidade a cada dia de acreditar-se ou não na sua própria existência, ela oferece a escolha de se viver de forma realmente plena e satisfatória ou simplesmente acordar, levantar, banalizar cada ato, se deitar e dormir (repetidamente). Eu fiz minhas escolhas.
Escolhi que a cada vez que olhasse o mar revoltoso, pensaria nos teus olhos tristes; que toda vez que enxergasse a luz, lembraria do branco de seu sorriso; que toda vez que eu sorrisse, o motivo seria totalmente você. Escolhi que você era essencial pra mim como o sol é para os girassóis. Escolhi até que tudo que eu escrevesse seria sobre você. Não foi voluntário. - De fato algumas escolhas não são voluntárias -.
Eu já não ouço mais os pássaros nas manhãs de outono, nem sinto o cheiro das rosas no quintal com a chegada da primavera. - Afinal, quantos outonos já se passaram? Não importa mais -. O tempo se tornou inconveniente, todas as estações se tornaram rigorosos invernos. Os animais não correm mais pelas pastagens, tampouco as arvores florescem. Onde havia vida, só resta a falta que sinto.
Eu sei o nome dos teus pais, sei a cor dos teus olhos quando estão no sol, sei sua cor preferida e a data e as horas da primeira vez que o vi sorrir, sei qual é o seu filme preferido e sua música favorita, sei quais livros você gosta e quais você nunca leria novamente, eu sei todos os seus planos e todos os seus medos. Eu sei que te amei mais que a qualquer coisa. Você tampouco sabe o dia que em que sei foi.
Já não sei mais quem eu sou, todas as informações, lembranças ou saudades se perderam no emaranhado de você que meu cérebro se transformou - Me perdi completamente tentando te manter à vista. Você me arrancou todas as certezas, me mostrou que o mundo tem novas cores quando nos misturamos, que as palavras tem novos significados quando saem de sua boca. Mas me mostrou também que, em sua ausência, tudo volta a ser cinza, como um diabético perdendo sua visão por ser consumido por sua doença. Você é minha doença.
Só me perdi. Já não me lembro das formas, dos objetos ou das pessoas. Tudo o que sobrou foi você, mesmo você nem estando mais aqui. Mas isso?! Isso eu não escolhi.