Um já foi, durante muito tempo, dois. Assim como nós dois já fomos, durante muito tempo, qualquer número variável, a resultante da soma de todos os infinitos.
Feito de inconstância, sou embarcação sem porto, sempre a deriva, destinado a nunca ancorar. Me perdi quando finalmente o vi velejando pala longe.
Você me deixou a porte de suas âncoras, tudo o que eu tinha que fazer era mante-las firmes e seguras, confiou a mim teu apresso, mas, sem surpresas, não fui capaz de segura-las, não consegui manter-me firme diante do que sentia, deixando-o a deriva. Desde então tenho tentado me reencontrar, mas a cada passo, perdido, só encontro mais um pouco de você.
Tenho tentado esquecer, mas a cada deslise abro os olhos e estou em sua cama, em cima de seu corpo. Cometemos o erro com o mais ordinário sorriso, com a mais forte pegada. Como dois copos que se pertencem, como a brasa e o fogo, mas já não são mais donos de si próprios. Dois corpos extremamente carnais, feitos da mesma vontade, feitos do mesmo desejo. Dois corpos que se transformam em único corpo num compasso ritmado, consumando o mais prazeroso pecado, que no final, se transformam em dois corpos confusos em busca de amparo e que se separam e se perdem novamente após cada noite escondida, prontos a uma infeliz manhã.
Só percebi que você havia se tornado minha bússola, quando sua embarcação já havia zarpado. Sinto muito pelos dois corpos hoje terem se tornado apenas dois corpos, é que tenho a péssima mania de sempre começar minhas histórias pelo final.