Capítulo 01

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  Poucas pessoas compreendiam a sensação boa que São Paulo me fazia sentir.
Na verdade poucas delas entendiam o meu gosto por cidade grande, por àquela coisa de pessoas correndo por calçadas antes mesmo das sete da manhã, os inúmeros carros e aquela imensidão de prédios e arranha céus espalhados até onde a vista conseguia alcançar.
Para uma menina de interior, nascida e criada em meio à natureza mudar para uma cidade grande era pra ser assustador, no começo até digo que sim, mas as descobertas, a liberdade e o conhecimento tornaram dali a minha casa, e tudo que vivi em meio aquela loucura fizeram de mim a mulher que sou hoje. Ou quase isso.

-
Mais devagar, por favor. - apoiei meu corpo contra a árvore e segurei meus joelhos.
Meus pulmões ardiam, meu coração saltava descompassadamente e minha garganta implorava por água.

- Ah não seja tão fraca, não faz nem dez minutos que estamos correndo. – o Homem vestindo um conjunto esportivo estava parado com as mãos na cintura recuperando o folego do que ele chama de leve corrida.

Pisquei confusa.
 
- O que? Parece que já passou dos trinta minutos faz tempo.

Ele riu e se jogou deitando sobre a grama.
Hmmm aquilo significava que haveriam pausas.

- Se corresse comigo todas as manhãs tenho certeza que não ficaria morrendo assim. – ele tirou a garrafinha do cinto que ficava em sua cintura e me entregou.

Um gemido profundo escapou, quando o liquido gelado desceu pela minha garganta.
Hmmm Maravilhoso.

- Digamos que eu prefira uma hora a mais de sono Pai.

Eu nunca fui atleta, não gostava de esportes e fugia da academia. Já meu pai sempre foi o oposto, sempre tão ativo e preocupado com a saúde, ele não tinha nenhum vicio, amava esportes e todos os dias desde minhas primeiras lembranças via meu pai fazer suas corridas matinais. O que era uma vergonha pra mim e mamãe, que passávamos a maior parte do tempo dando apenas o apoio moral e nada de físico.
Mas naquela manhã foi diferente, eu me mudaria em poucas semanas pra Londrina, e queria passar todos os momentos que perderia com eles por pelo ou menos um ano. Troquei minha cama pela corrida no parque, mas antes eu tivesse pensado melhor ou em algo que eu não morreria nos primeiro dez minutos.

- Como andam os projetos da inauguração? – disse ele.
Apoiei os braços sobre os joelhos.

- Tudo certo fechei um contrato com uma equipe de divulgação de rua, pelas referencias vai ser bom trabalhar com eles.

Ele assentiu.

- Marcio disse que consegue indicar alguém de lá pra te ajudar com a administração do primeiro dia.

Marcio era o gerente da Anzook de São Paulo, a primeira casa noturna que abrimos quando chegamos a São Paulo há alguns anos. Depois de anos com os cuidados em apenas uma, meus pais que comandavam uma empresa de produções artísticas e eventos decidiram crescer a marca, abrindo uma filial.
E eu aos meus 21 anos, formada em publicidade e propaganda fui designada por ele a cuidar de um dos nossos negócios.

- Ótimo, vou falar com ele hoje então. – me levantei puxando ele comigo. - Você fez a reserva das datas dos artistas que eu pedi pra lá?

Ele bateu as mãos na bermuda tirando as graminhas.

- Pedi. - dele deu de ombros iniciando a caminhada. - Você tem certeza sobre aquela relação?

Assenti determinada. Era minha primeira experiência sozinha, eu havia estudado tudo, prestado atenção e aprendido com ele cada passo dado em todos os negócios da família. Eu não falharia, nem decepcionaria nenhum dos dois.

- O retorno vai ser o esperado, confia em mim. - olhei em seus olhos.

Ele sorriu daquele jeitinho que eu sabia ser o sorriso de alguém que não só confiava, mas que estava com muito orgulho por tudo que me ensinou até ali. 

SETE TONS DO AMOROnde histórias criam vida. Descubra agora