Uma abordagem sutil

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O que define um herói? Quero dizer, o que alguém precisa fazer para ser reconhecido desta forma? Será que todo herói deve usar uma máscara, vestir uma roupa colada no corpo ou sair por aí atirando em bandidos? Mas...meu pai...ele tinha me dito que um verdadeiro herói nada teme e é temido por todos...mas e se...e se ele estiver errado? Humm...ainda não me decidi...mas é fato que...
- Jon! Jon! – Disse Rufus, cutucando o amigo. Rufus, que era, desde os dez anos, o melhor amigo de Jon e que, inúmeras vezes sofreu bullying ao lado do amigo, por serem os " mais esquisitos " do colégio. - O que você está olhando?
- O quê? Não...não estou olhando nada, só estava pensando em uma coisa – Respondeu o rapaz, ainda com uma feição pensativa, um tanto cômica, devo dizer.
- Tava pensando nela, né Jon? – Perguntou, com um sorriso no canto dos lábios.
- Não, Rufus, só estava...
- Estava sonhando, de novo! – Interrompendo o amigo, num tom sarcástico - Cara, você tem que crescer! Passa mais tempo assim do que falando de garotas e fazendo outras coisas que os adolescentes normais do século XXI fazem, cara!
- Olha, quer saber Rufus, já está ficando tarde e...é melhor eu ir pra casa antes que, você sabe, minha mãe surte, comece a me ligar e a fazer um escândalo.
Afinal, o que esse cara sabe? Mas...e se...e se ele estiver certo? Eu sou apenas...não, acho que não...mas se eu for apenas um sonhador maluco, que mal tem nisso? Nenhum, afinal...não...espere um pouco...
- Jon! Jon, é você? – Perguntava, a preocupada senhora Delfin. Vivian Delfin, a mãe de Jon, que, aliás, se chama Jonathan; uma mãe muito dedicada – Graças a Deus! Eu já estava ficando preocupada, você não atendeu às minhas ligações e...
- Mãe, ei, ei! Eu estou bem! – afirmou o filho – já vou lá pro quarto, tá legal?
- Mas, você acabou de chegar em casa...não quer comer alguma coisa?
- Não, mãe, valeu, mas...é... eu tô legal. Só preciso dormir um pouco.
Caramba! Não consigo fazer nada aqui nesta casa...e se eu...não, não, isso não; e que tal se eu...não, isso também não daria certo. E Jon passaria toda a noite pensando em uma forma de fugir da sua vidinha medíocre, de fazer algo novo, de deixar a sua marca, de fazer a diferença, mas...tudo o que conseguiu foram duas grandes olheiras e muito sono.
-Jonathan! – Chamou-lhe a senhorita Carmelo. Lorena Carmelo, uma dedicada professora de história, que, era professora de Jon havia cinco anos. – Você pode continuar a leitura ?
- Ahn? Ah...Ahh..claro, claro – afirmou Jon, que estava em mais um de seus devaneios- Mas..ahn...assim, o que eu tenho que ler mesmo?
E todos na sala caíram na risada ; todos o chamavam de louco e tiravam sarro com a cara dele. Exceto o seu amigo Rufus, que, por mais que achasse o comportamento de Jon um tanto, estranho, era seu amigo e amigos se protegem.
- O quinto parágrafo, Jon.. – Disse a senhorita Carmelo, dando um suspiro de decepção.
- Ah, sim...tudo bem- respondeu Jon, um pouco sem jeito.
Mas...e se...e se...ahn...bom, o espaço-tempo é um tecido e...os..ahn...os corpos...os corpos são objetos que se movem por esse tecido. Ao colocarmos um objeto de maior massa o tecido é deformado, como uma...ahn...como uma borracha...e os objetos de menor massa vão, agora, se mover através da deformação formada...então, teoricamente...seria possível uma...
-Hey, Jon! Olha pra cá, seu babaca! – O chamavam os meninos mais velhos.
E, quando ele se virou, foi bombardeado por ovos e farinha. Gostaria de dizer que Jon agiu responsável e pacificamente, mas...
- Olha, eu sinto muito, isso não vai acontecer de novo- afirmou a senhora Delfin, que fora chamada à sala da direção.
- Mas, mãe, eu não tive culpa, quando eu me virei eles começaram a me sujar e ...
- Meu filho, não quero saber o que eles fizeram, afinal, eu não sou a mãe deles, eu sou a sua- dando um suspiro- Olha, Jon...você já está...-dando mais um suspiro-eu...eu sei que, desde que seu pai se foi, tudo tem sido muito difícil pra você...
- Mãe, quer saber...eu tenho que fazer umas coisas, acho que não é o melhor momento...
Meu querido Jon, um filho sem pai, um aluno indesejado, um sonhador em uma era de pesadelos...aguente firme, porque dias melhores virão, meu caro amigo.
Meu celular está vibrando...será ela? Não...acho que não, afinal...o que ela iria querer com alguém como eu? "Ela" é Maggie, a garota mais linda e inteligente do colégio, o sonho de todo e qualquer garoto. Jon, mal sabia, mas ela, bom...vocês vão descobrir.
- Oi, você está bem? – perguntou Maggie.
AHHHH! É ela sim! UOU...Meu Deus, o que eu respondo?
- Oi, tudo...e contigo? – respondeu Jon.
- Tudo tb J
UOU, ela me mandou uma carinha feliz...será que isso quer dizer alguma coisa?
O que eu digo? Preciso causar uma boa impressão...
Ahh, o amor jovem...e eles ficaram nessa, a noite toda...
- Bom dia, mãe! Tudo bem contigo?
- Que bicho te mordeu?- perguntou a mãe assustada.
-Por quê? – com um sorriso que quase não cabia no seu rosto.
-Por quê?! Você acabou de falar um "bom dia" e perguntou como eu estou, não me lembro qual foi a última vez que você havia me perguntado uma dessas coisas, quanto mais as duas ao mesmo tempo.
Será que ela gosta de mim? O quê? É obvio que não...ela é tipo...ELA...não, não...não tenho chances...mas...e se...não, não...a não ser que...não, não...acho que não, porque...
- Heey! Chamando Jon para a Terra! – Disse Rufus, cutucando o amigo – Mano, tu é meu único amigo, mas conversar contigo é pior do que conversar sozinho...acredite, eu já fiz o teste...quase te troquei por mim mesmo...
- Quê? Qual é cara, eu só...- nesse instante Maggie caminhava em sua direção, Jon não podia disfarçar o olhar e muito menos conseguia pensar em outra coisa.
- Cara, é ela, ela tá vindo pra cá, mano! Ei, Jon!! Acorda, cara!
- Olá; você é Jon Delfin, não é mesmo?
- Ahn...? Sou?...Q... quer dizer, sou sim – voltando a si.
- Eu sou Rufus – Tentando bancar o galã, mas não recebeu nenhuma atenção.
- Preciso que venha comigo, e rápido.
- O quê? – Perguntou Jon, ainda sem entender nada.
- Sem, perguntas – disse Maggie, o puxando pelo braço – você vai entender tudo quando chegarmos.
- O quê? Chegarmos aonde?
- Já disse...sem perguntas agora! – respondeu Maggie um pouco mais ríspida.
Ah, meu Deus! Que falha a minha, acabo de me lembrar que ainda não descrevi os nossos heróis, para que vocês possam pelo menos, criar uma imagem deles nas suas cabecinhas imaginativas. O nosso Jon é um rapaz franzino, mede um e setenta e poucos, é caucasiano, tem o cabelo ondulado e castanho claro, possui grandes e meigos olhos, de uma tonalidade rara, um castanho claro, um tanto semelhante ao marfim. Seu amigo Rufus é robusto, mede um e oitenta, tem a pele mais escura, algo entre o negro e o pardo; o cabelo raspado o deixa com um aspecto de mais velho. A Maggie mede um e sessenta, tem os cabelos longos e loiros, olhos escuros e profundos, algo semelhante aos cedros, além de possuir um sorriso enorme e muito radiante, é realmente muito linda.
Acho que está bom, por enquanto, agora, vou me certificar de descrever os próximos personagens de importância. Mas, a partir deste ponto, a história começa a tomar um rumo mais complicado, se você, meu caro leitor, não estiver preparado para fortes emoções, sugiro que abandone a leitura agora mesmo, porque eu jurei que contaria esta história da forma como ela aconteceu, sem acrescentar e nem retirar nada.
Naquele instante algo como uma rachadura, não uma rachadura comum, dessas que encontramos nas paredes, porque não havia uma parede, mas uma rachadura em pleno espaço foi se abrindo, diante dos meus olhos. A rachadura foi aumentando de tamanho em segundos, de tal forma que, tinha umas dez polegadas de comprimento e, passados cinco segundos, já assumira dois metros de comprimento por umas vinte polegadas de largura (quero lembrar que eu não estava de posse de uma fita métrica no momento, sendo tudo, por aproximação).
- UOU! O quê é que está acontecendo aqui! Isso...espere um pouco...isso não é possível...é um...é um...- Jon, pasmo, tentava compreender a situação.
- É um portal intertemporal – Completou Maggie, com a maior tranquilidade do mundo, como se estivesse lidando com algo comum, porque, na verdade, pra ela é comum, como você vai perceber, meu caro leitor. Isso, é claro, se você se atrever a continuar a leitura.
BACK! Foi o barulho que fez a queda de Jon, no chão. Isso mesmo, Maggie, cansada de ter que explicar tudo, e, com pouco tempo também, é verdade, injetou uma neurotoxina por entre uma das têmporas de Jon, uma neurotoxina inofensiva, na verdade, que, só tem a função de adormecer o indivíduo.
E então Maggie o empurrou pelo portal e depois de atravessá-lo, o fechou, por meio do mesmo dispositivo que abriu o portal, uma espécie de acelerador de partículas, feito a partir de uma tecnologia muito avançada, já que, esse acelerador é portátil e tem uma fonte de energia pequena, porém muito potente.
- Argh! Porque minha cabeça dói, como se eu a tivesse batido em algum lugar?
- Porque você a bateu. – respondeu Maggie.
- O quê?! Olha, se você.. – tentava falar, quando foi interrompido.
- Tudo bem, curioso...está na hora de suas perguntas serem respondidas. E, para fazer isso, não existe ninguém melhor do que o Líder – Mede um e oitenta, forte, semblante sério além de usar uma armadura irada, que era alimentada por...bem, vocês já vão saber disso – Ele é o líder do que chamamos de resistência. É o guerreiro mais bravo que já conheci e...também meu melhor amigo.
Ah, pera aí... o líder da resistência se chama líder? Não tinha algo mais criativo não? Ah, vai ver é um apelido ou...sei lá o quê.
- Tá legal...então...líder é o seu apelido...ou algo do tipo? – perguntou o curioso Jon.
- Não, Jon – Com uma risada – Aqui, no século XXX, logo ao nascermos, é feito um mapeamento sináptico, que mostra as áreas com maior atividade cerebral. A partir disso, nossos pais escolhem nossos nomes.
Sim, meu caro leitor...aquele papo de que só nos utilizamos de dez por cento da nossa capacidade cerebral é mentira... e muita mentira. Logo ao nascermos, nosso cérebro funciona de uma forma fantástica, espetacular.
- Então, recruta – Dizia Maggie que...AH! Quase me esqueci...seu nome não era Maggie, este, foi apenas um, que ela teve que adotar para se misturar entre mim e meus contemporâneos, seu verdadeiro nome era Atena – Você precisa aprender algumas coisas se quiser sobreviver por aqui...
- Eu não posso, não posso ficar aqui..eu...eu nem sei porque eu estou aqui, ou o que vocês querem de mim...
- Olha garoto – com um suspiro – Há dez anos, nossos cientistas descobriram uma nova forma de tecnologia, algo que revolucionaria para sempre a sociedade como um todo. Era uma nova fonte de energia, uma totalmente limpa e, acreditava – se ser inesgotável, a energia da mente. O termo mais correto é energia sináptica. É como se, ao se comunicarem através de um nexo¹, as células nervosas gerassem uma corrente elétrica, possível de ser canalizada e utilizada como um gerador para qualquer necessidade humana.
- Uou, isso me parece fantástico...
- Mas – Completou Atena – apesar de suas inúmeras funções, a que mais chamou a atenção do Imperador Magnus, foi a sua utilização bélica, porque, se ele dominasse essa tecnologia, poderia conquistar o último território que lhe falta, o nosso lar, Nova Tessália, a última coisa entre ele e a dominação mundial.
- Porém, meu caro amigo, não por muito tempo, se não tivermos a sua ajuda. Magnus construiu uma arma, algo que pode transformar toda Nova Tessália em cinzas, com apenas um tiro. Ele a chama de Nefesh, que, na nossa língua significa alma, como se ele precisasse nos matar pra viver. Mas, a arma precisa de uma grande quantidade de energia para funcionar, e, graças a isto ainda estamos vivos, porque ele ainda não achou essa fonte de energia. Mas nós encontramos, e por isso precisamos de você, você é a nossa única esperança, Jon!

1– nexos : também chamados de junções comunicantes, são estruturas que permitem uma comunicação intercelular.

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