Dor de mãe

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P: " 2103, dia 5 de janeiro: Mais um dia se perdendo na tristeza deste país... Eu nem deveria estar aqui, simplesmente estava à trabalho na casa de um amigo meu... Eu não aguento mais, estou me segurando para não desistir, isso me corrói cada vez mais em saber que se eu colocasse uma corda no pescoço, tudo "ficaria bem"... Mas não é esse futuro que estou determinada a lutar, apenas sobrevivo a cada dia tentando encontrá-lo..."

Suspiro fortemente, tirando toda a tensão do meu peito.
Coloco meu pequeno diário no bolso interno da enorme jaqueta, levantando-me da cadeira de madeira que estava em péssimas condições, igual aquele esconderijo.
Os barulhos de tiros e explosões aconteciam acada 1 minuto, cada passo seu deveria ser bem calculado antes de pisar em alguma bomba abaixo do solo, caso contrário você poderia virar o resto de alimento dos cachorros do exército inimigo.
Me deito no piso barulhento, observando minuciosamente pelo buraco na parede, evitando, claro, levar um tiro no olho; O frio era extremo, cada respiração deixava uma fumaça branca no ar, e eram necessárias varias camadas de casacos.
Espiando pelo buraco na parede, posso ver os guardas andando pela neve do lado de fora, carregando suas armas pesadas e granadas em seus cintos.
Dois deles pararam para conversar, enquanto mais um grupo se aproximava. O provável líder deles chamou aquele aglomerado de soldados e apontou na casa aonde eu estava escondida com mais duas crianças, sendo uma de 6 e outra de 13 anos. Nessa hora, todos olharam para o buraco pelo qual eu espiava, e nessa hora, nem o frio congelante daquele lugar me fez gelar como aquele momento.
Os soldados começaram a rodear a casa, aproveitei esse tempo para pegar as meninas e me esconder no armário: duas garotinhas russas, a mais velha se chamava Aylena e a mais nova se chamava Ayshane, ambas perderam os pais na guerra. Era um tipo de sotaque enrolado e apenas a menina de 13 se comunicava em inglês comigo, já que a pequena não teve a mesma oportunidade.

A: W-what you gonna do?! We don't have any more places here!( o-oque você vai fazer?! Não temos mais lugares aqui!)

A mais velha estava preocupada e abraçava a mais nova que não entendia absolutamente nada daquela conversa. Havia apenas uma cama de solteiro no cômodo, cujo espaço era para alguém bem pequeno. Foi nessa hora a mais nova correu para baixo da cama para se esconder.

A mais velha deitou no chão e engatinhou até embaixo da cama, onde sua irmã estava, e nessa hora eu não entendia absolutamente nada o que elas conversavam.
Depois de um instante que parecia uma eternidade, a mais velha sai dali deixando a pequena quieta, juntando-se à mim no guarda-roupa e fechando a porta.
Aproximei ela e escorei sua cabeça no meu peito, cobrindo-a com meu corpo e evitando qualquer som, sendo ele um choro ou suspiro que saísse dela.
Uma breve fenda de luz entrava pela pequena abertura das portas daquele guarda-roupa mofado que não se fechava completamente, me dava uma ampla visão do que acontecia no cômodo, e ali mesmo pude ver a expressão de medo da mais nova, que se encolhia ao escutar as portas da entrada serem arrombadas à chutes.
De longe, vi seu olhar me fitando, e retribuo colocando lentamente meu dedo sobre a minha boca, num gesto de silêncio. Ela compreendeu e me deu como resposta um aceno com a cabeça.
E agora o momento começa a ficar mais tenso: escutava-se de longe os soldados dando tiro para todos os lados no andar de baixo, verificando se todos haviam realmente morrido. Os passos se aproximavam, as escadas de madeira seca rangiam ao andar pesado dos militares que subiam as pressas.
A mais velha afundou seu rosto em meus braços, e eu apenas a abracei e usar mentiras para confortá-la.
Instantes antes da porta do quarto ser arrombada, eu vi meu pequeno diário no chão, que devo ter acidentalmente deixado-o cair enquanto corria atrás das meninas, mas infelizmente não havia mais como fazer algo.
E ali se encontrava nosso fim: escutavasse a porta sendo arrombada e a mais nova cobrindo a boca, segurando o choro; Aparentava ter apenas dois investigando o quarto. Um deles parecia ser um tenente, demonstrando isso em sua postura e a forma de como observava o local, já o outro era um tanto sério, porém ele parecia que estava nos primeiros dia de trabalho.
O menos experiente passou em frente ao meu armário, bloqueando minha visão da Ayshane: Seu ultimo olhar não precisou ser expresso com palavra alguma, apenas era um forte sentimento de dor.
Ele se abaixou para pegar meu diário, e nesse ato, ele viu a mais nova embaixo da cama, levantando de imediato, jogando o colchão para o lado e mirando a arma para ela.
O suposto tenente dá um sinal para que o soldado tirasse-a de lá, e assim o fez: ele deixou sua arma de lado, abaixou e tirou ela com brutalidade.
Ela gritava apavorada e se desesperava tentando sair das mãos daquele soldado, que a joga no chão em frente ao tenente, que a faz umas perguntas, mas ela não compreendia.

T: Quem mais está com você?

Ele a olhava com uma expressão tão assustadora que até eu passei mal; sua irmã mais velha grudava as unhas em meu casaco, contendo o choro pois sabia o que aconteceria.
Sem resposta, ele se aproxima e dá um chute em sua cara, e logo em seguida se ajoelha em sua frente, apoiando o braço em uma das pernas.

T: Preciso perguntar novamente? Agora me responda!

Ela cuspia sangue e perdera um de seus dentes de leite. Ayshane olha para ele de uma forma assustadora para uma menina de 6 anos, e repete algumas palavras em russo, e mesmo não entendendo nada, aquilo foi muito perturbador.

A: Я надеюсь, что вы умрете! (Espero que você morra!)

O máximo que aguentei ver foi a parte em que ela cospe sangue no rosto dele, que pelo visto foi a gota d'agua.

Ele limpa sua face e dá a ordem para o soldado atirar, o que parecia algo que se arrependeria depois. O soldado não teve essa coragem, então o tenente o fez: levantou sua arma e mirou na testa da pequena, e apenas se pode escutar os gritos agonizantes e o barulho do gatilho antes de sua morte.

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Desculpa por isso a essa hora, mas 6 sabe que é esse meu horário da criatividade ;u;

Então até amanha pq to com sono
Fui~

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⏰ Última atualização: Oct 04, 2019 ⏰

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