Capítulo 01

520 35 10
                                    


POV BELA

O dia havia amanhecido como se já soubesse o que estava havendo. O frio e o clima nublado traziam uma sensação de tristeza e medo. Medo do desconhecido.

O convento era também uma escola para garotas de idades entre seis e dezesseis anos. E foi com o coração partido que me despedi de todas aquelas pessoas que me ajudaram desde que cheguei aqui, a mais ou menos um ano atrás. Com o tempo, me apeguei muito a todas elas e não somente por Sophia, minha filha, mas também por ter criado vínculos de amizade e confiança com elas. Eu iria sentir falta de poder ajudar a cuidar das mais novas, de ser a confidente das mais velhas, de ser o ombro amigo de quando alguma delas precisasse desabafar sobre os pais ou alguma paixão proibida que sonhavam em viver... Aquilo tudo faria falta, muita falta.

Caminhei com Sophia em meus braços até o portão grande com listras de ferro acompanhada da Madre Superior Jeanine, foi ela quem me estendeu a mão e me acolheu todo o tempo que estive ali.

Todas as freiras do convento eram boas pessoas. Todas carinhosas, cuidadosas e também protetoras. Em nenhum momento me trataram mal desde que cheguei naquele lugar, a única coisa que eu sentia era amor, carinho, compreensão e companheirismo. Sim, companheirismo. Todas aquelas pessoas, até mesmo as crianças, me ajudaram a ser quem eu era hoje. Tive que aprender a ser responsável, amiga, fiel, corajosa e ir à luta... Como estava fazendo agora, e tudo aquilo por um simples motivo: Sophia.

Sophia havia nascido a dois meses atrás e graças a Deus completamente saudável. Apesar de ser uma recém-nascida, nunca dava trabalho e sempre sendo uma criança calma e doce.

Ao ultrapassarmos o portão e os muros altos, cobertos por folhas do convento, aquela foi a primeira vez que senti o que estava para enfrentar. Minha vontade era de poder correr para os braços de Jeanine e abraçá-la como se abraçasse minha própria mãe... que eu nem ao menos sabia quem era. – Meus olhos se encheram de lágrimas, mas não deixei que nenhuma delas escorresse pelos meus olhos.

Eu não podia chorar, não ali. – Sabia que algumas crianças estavam nos observando pelas janelas do grande casarão e pude até ouvir algumas chorarem quando me viram saindo pela porta velha de vidro. Aquilo me cortava o coração, mas eu tinha que ser forte, por mim e por minha filha.

Ao parar do lado de fora do convento e olhar em direção a estrada nevoada meu coração gelou, como nunca antes. Apertei Sophia em meus braços buscando ter segurança e forças para lutar. – Permaneci estática, em completo choque ao olhar para o único caminho que eu teria que seguir.

"Eu espero que consiga achar o seu caminho minha querida. Você me conhece e sabe que mais do que todas te apoiei e estive ao seu lado." – Madre Jeanine me abraçou e sussurrando com palavras chorosas completou sua fala – "Somente me prometa que ficarão bem. Prometa-me que a protegerá de todos os males desse mundo.".

Não tive forças para responder seus pedidos com palavras, mas assenti freneticamente com a cabeça em concordância. E mesmo que fosse somente um gesto eu seria capaz de dar minha vida pela de Sophia e faria de tudo para que ela crescesse em um lugar descente e feliz... Mesmo que eu tivesse que comer o pão que o diabo amassou, minha filha não pagaria o preço dos meus pecados, mesmo eu não me lembrando deles.

O soluço de Jeanine me tirou dos devaneios.

"Ei! Prometo-lhe que ficaremos bem Madre, não se torture assim." – Disse a afastando com cuidado para que não machucasse Sophie. – Enxuguei as lágrimas que teimavam em cair do seu rosto já um pouco de idade.

Madre sorriu fracamente e me olhou no fundo dos olhos.

"Tente se lembrar, minha querida. Faça o esforço total para recordar do seu passado, ou pelo menos saber de onde veio."

A ACOMPANHANTE DE LUXOOnde histórias criam vida. Descubra agora