Cursed (Amaldiçoadas)

Prólogo

Meus pés mal tocam o chão. Estou fugindo, mas não sei para onde nem porque. Meus olhos percorrem o local em que me encontro, mas nada me parece familiar. Uma enorme floresta se estende logo a minha frente e, sem hesitar, é para lá que decido ir. Acelero os passos e um desespero toma conta de mim, sufocando-me. Você não pode falhar,  é a sua única chance. Afasto-me cada vez mais dos portões do castelo de onde jamais deveria ter saído. Fora mantida presa por tantos anos, sendo obrigada a agir e a pensar de determinada forma, e hoje eu finalmente seria livre.

Olho rapidamente para trás para verificar se não estava sendo seguida, mas tudo continua quieto e silencioso. Uma chuva tímida e gélida começa a cair, molhando a estrada de pedra. Continuo correndo, determinada.  A essa altura, alguém já deve ter notado minha ausência. Avanço em direção a floresta, já sentindo os pingos encharcarem  meu vestido. Meus pés vacilam e sou obrigada a tirar o salto. Aumento a velocidade. Falta pouco, você consegue.

Gritos que eu não consigo entender chamam a minha atenção. Eles pertencem a um guarda do castelo, o que não é um bom sinal. Em breve, todos estariam à minha procura. Minha respiração sai ofegante por entre meus lábios enquanto minhas pernas lutam bravamente para se manterem erguidas. Jamais havia feito tamanho esforço antes apesar dos vários anos de treinamento intenso, proporcionado pela minha família. Escorrego sobre o piso molhado, deixando um dos saltos escaparem de meus dedos. Penso em voltar para pegá-lo, mas não daria tempo. O guarda estava se aproximando com uma rapidez absurda.

Adentro na floresta escura e sombria. Não podia ver quase nada por causa da escuridão da noite, contudo não diminuo o passo.  Galhos secos machucam meus pés enquanto eu inutilmente tento desviar de algumas plantas e árvores ao longo do caminho. Sinto uma dor aguda quando um graveto atinge a minha cintura, cortando-a, mas nem mesmo isso me faz parar. Exceto por mim, tudo ao redor está em total remanso.

Disparo por mais alguns minutos até ter certeza de que ninguém me encontraria e, então, decido me encostar em uma árvore. Respiro fundo, tentando recuperar o fôlego. Milhões de coisas passam pela minha cabeça.

Maldição, irmã perdida, Louise, guerra...

Mas aqueles pensamentos não eram meus. Não podiam ser meus.