Aleatórios Dias

1 . I - O dia do cinema.

  Você deve achar estranho uma pessoa ir sozinha no cinema, a menos é claro se você for esse tipo de pessoa. Enfim, eu sou esse tipo de pessoa. Mas não é questão de ser uma pessoa solitária, é questão que eu estou com dinheiro, meus amigos não e é o meu filme. Hoje é segunda, ele estreou na QUINTA. Cara, imagina quantos spoilers eu posso pegar no Facebook se eu não ver hoje? Então se conforme que existe pessoas que assisti filmes  S Ó Z I N H A S !
Voltando. Eu, lindo e maravilhoso decide pegar um lugar qualquer onde eu possa evitar estar no lado de casais e estar só. Duas cadeiras vazias ao lado do corredor, isso! Eu pego a cadeira que fica no corredor e a outra automaticamente morre. DUVIDO que uma pessoa que venha ao cinema só queira sentar nessa cadeira, aliás com todo esse preconceito de vocês, é quase impossível outra pessoa sozinha na mesma sala.
Nossa, eu odeio esse shopping que fica na zona sul da zona norte do Rio  [Aqui a Zona Sul é nobre e a Zona Norte é remetida ao povão, mas a Tijuca é eletista], o cinema fica no décimo segundo andar e odeio usar o elevador pelo o simples fato de eu não confio no shopping e ele não confia em mim. Então é só eu dar um mole como cair do elevador que ele já se vinga. As escadas rolantes pelo menos dá pra se salvar, eu acho.
  Comprei meu ingresso e estou na fila do fast food que amo, que a coroa é carcterista da marca *cof cof*.  Só essa ideia de subir até o décimo segundo e voltar pro terceiro sabendo que vai ter que voltar tudo de novo me cansa, mas é aquele ditado ne? Foda-se.
  Sentado na minha linda mesa sozinho, conecto meu celular no Wi-Fi do shopping e ligo via dados para a minha amiga do Sul. Wi-Fi até que é bom e eu odeio comer sozinho.
-Oo-oo-oi -diz Jose, através do celular,  com a voz um pouco picotando.
-Sua linda, saudades. -digo. - Estou naquele shopping que odeio, para ver o meu filme e como você sabe eu não suporto comer sozinho.
-Aí você me liga pra eu ficar com vontade? E porquê não foi para outro shopping louco?
-Um: você é magra, linda e fitness, já esta acostumada a enfrentar essa barra que espero não enfrentar nunca. Dois: eu estou vindo da faculdade, esse shopping fica entre a faculdade e casa, não daria tempo para ir em outro. Semestre que vem eu não vou colocar nenhuma matéria segunda a tarde, porque se eu quiser ir no shopping na puta que pariu, eu vou.
A Jo se acaba de rir. Dou uma grande mordida no meu hambúrguer.
-Amo quando você está revoltado amigo, em falar em facul e o crush crush da faculdade?
-Continua lá, lindo, maravilhoso, sorriso perfeito e cagando pra mim. Mas você acha que eu me importo? (Pausa dramática) Me importo pra caramba  (choro falsamente). Mas sei lá, um dia ainda empurro ele na parede e chamo de lagartixa. Mas e as tretas "dai"?
-Aquelas garotas babacas estão tentando fazer joguinho comigo, mas mal elas sabem que eu sei de tudo. Aliás eu fiquei com uma garota, a Carol, na frente delas. A Bea ficou puta (a Bea no caso é a ex dela) e saiu com raivinha.
-Amo esse drama teen! Queria ter visto, eu ia rir muito da cara delas e batido palmas pra você. Eu ainda não sei como não te sequestrei e trouxe você pra cá, para o meu cativeiro.
-É mais fácil eu te deixar em cativeiro, você é muito sentimental.
-É o cativeiro do amor. -digo ironicamente e depois nós dois rimos.
-Meu lindo eu tenho que ir porque minha mãe deve chegar daqui e eu tenho que comer meu sanduíche antes que ela chegue. Beijos.
-Beijos sua linda e até quando eu chegar em casa, quero saber todas as tretas.
Terminei de comer e fui comprar balas de gelatina, só que tinha um pequeno problema eu não tinha dinheiro suficiente para comprar da marca boa, gostosa e maravilhosa, eu vi uma semelhante e comprei, o dinheiro estava certinho. Eu não tenho mais nada, e subir essas escadas pensando nisso me entristece. Mas enfim eu vou assistir o meu filme. Acho que meu humor mudará quando assisti.
Enfim na sala, agora só achar a minha cadeira e relaxar. L18. Cadeira L18 no corredorzinho do centro. Lá está ela vazia e ao lado dela tem alguém. QUE? Não parece mas eu tenho direitos sobre aquela cadeira!
Não acredito nisso.
AAAAAAAAAAAAAA (x76).
Acho que eu deixei transparecer raiva, só espero que o humano sentado nela não pense que seja por causa dele. Na verdade ele deveria saber, se culpar por essa tragédia que ele proporcionou. Mas tudo bem, eu sou uma pessoa boa, good vibes. Dei um sorrisinho forçado, peguei meu copo do Burger King (fiz um grande mistério antes pra falar o nome da marca agora, EU NÃO TO BEM), minhas balas-não-Fini e sentei na cadeira. Abri logo o pacote para não fazer barulho na hora do filme e coloquei o pacote dentro do porta-copos.
UM AVISO, NÃO COMPRE BALAS QUE NÃO SEJA DA MARCA QUE VOCE GOSTA, ELAS PODEM SER HORRÍVEIS. E eram, o pior é que eu continuo comendo porque eu sou demente e acho que elas vão melhorar. Já sei, vou perdoar o meu vizinho.
-Oi, não tive como não perceber que você estava sozinho e nossa, sei como é isso. Porém, além de eu estar sozinho, eu tenho essas balas deliciosas e pensei porque não deixar a vida de uma pessoa melhor?! Então, você quer uma?
Meu sorriso é o mais sincero e satânico que posso representar. O rosto dele expressa um pouco dúvida e esbossou um sorriso.
-Claro -disse o garoto inocente (a que maravilha). Pegou um bastão doce e começou a comer. Pela cara dele dava pra ver o quão ruim estava, os trailers passando na tela de um filme de drama com doenças e eu querendo rir.
-Gostosos não? -Pergunto. -Quer mais?
-Diferentes, não obrigado. Não quero comer seu doce todo. -Ele deu um sorriso meio sem graça, quase tive pena dele, ele era até bonitinho.
-Ah que isso! Pega logo esses 5 que estão sobrando, eu to cheio e não quero desperdiçar comida ne? - disse eu, filho adotivo do satã. Agora três fatos sobre essa cena na minha vida. 1- Eu fiquei com pena, mas perturbar as vidas alheias é melhor. 2 - Ele pegou os doces por parecer aquele tipo de pessoas que não sabe reagir direito a algo inusitado ou diferente e acaba aceitando tudo (eu na vida). 3- Eu já estava sem dinheiro, sem doce e sozinho, precisava me divertir, desculpa Deus, juro que na próxima vez eu faço algo bom. Real. Por favor não tira meu lugarzinho do céu.
O filme ainda não começou, e sabe o que vai acontecer?
-Meu nome é Marlon e o seu?
ISSO MESMO, CONVERSA DESAJEITADA COM UM ESTRANHO QUE VOCÊ EMPURROU GUELA A BAIXO BALAS-NÃO-FINI-HORRÍVEIS E TALVEZ FIQUE COM PENA DEPOIS, de novo aliás.
-Eu mesmo, Bernardo Mello.
Joguei um meme. Meme descontrai.
-Hum, é... legal.
-É um meme, não acredito que você não entendeu.
-Ah, desculpa. Eu, hum, sou meio lerdo.
-Percebi, mas o que importa é o que tem dentro do coração.
-Isso também é um meme?
-Não, mas estou sendo irônico.
Ele riu.
-Você é um cara legal.
Puta merda. Eu não posso rir. Eu não posso rir.
-É que eu sou gospel.
-Amém. -Ele disse. Como eu não estava aguentando mais comecei a gargalhar.
-O que foi?
-Não é que foi muito engraçado o seu "amém" logo depois do que eu falei. Muito bom, parabéns.
-Obrigado?
Continuo rindo, tentando me controlar.
Ele sorri pra mim e vira pra tela.
Começa o filme.