Regulus Black estava em seu quarto, com as mãos em seus cabelos longos e negros. Ele deveria admitir que aquela era a maneira que conseguia imitar a rebeldia de Sirius sem ser uma decepção para sua mãe, Walburga: os cabelos. Walburga sempre reclamava, dizendo que o filho deveria cortá-los, mas este não o fazia.
Era uma semelhança que Regulus precisava, como no conto trouxa do homem que guardava sua força nos cabelos longos.
A diferença era que Regulus acreditava que sua força era pequena. Pequena demais para conseguir ser quem queria sem magoar seus pais. Ele não conseguiria, e estava consciente disso. Nunca teria a coragem de Sirius para se rebelar abertamente do jeito que ele faz. Colar fotografias trouxas nas paredes e andar com traidores de sangue no colégio.
A verdade era que Regulus queria ser como Sirius. Ele queria gargalhar como o irmão fazia ao assistir filmes trouxas, queria soltar comentários sarcásticos sobre as conversas preconceituosas da família nos jantares, queria ser livre como o irmão.
Mas tudo que Regulus tinha era covardia. Covarde demais para fazer coisas assim. Ele não tinha sido sorteado para a Grifinória, como tanto esperou, apesar de dizer que sempre quis e torceu para ir para a Sonserina. Mas a Grifinória não era para ele. Não era bravo, não tinha coragem ao menos para ser quem era. Era um medroso com medo de ser menos que as expectativas dos outros.
Lágrimas escorrem dos olhos de Regulus, lágrimas que ele tinha segurado por muito tempo. Na escola, nos jantares em família, ao ver Sirius recebendo as cartas dos Potter para ele, se referindo a eles como seus pais e a James como seu irmão.
Ele queria que Sirius soubesse quem ele realmente era. Queria que o irmão não pensasse que ele era um babaca como muitos na família, e que ele não concordava com os comentários preconceituosos de Orion, Walburga, Narcissa e os outros Black, Malfoy e os outros frequentadores da casa.
Mas como Regulus poderia provar que a casa da Sonserina possuía, sim, corajosos e bravos, se ele mesmo acreditava que isso nunca acontecia?
As mãos de Regulus tremiam quando ele falha em tentar limpar as lágrimas em seu rosto. E é quando ele vê uma sombra no chão. Alguém está parado na porta. Seu coração para por alguns centésimos de segundo, quando pensa na possibilidade de ser a mãe, mas vê ali, parado, Monstro, um dos elfos domésticos da família.
— Mestre Regulus... - os olhos de Monstro estão fixos no chão. - Eu vim aqui para recolher as roupas sujas. Devo voltar outra hora?
— Não! - exclama Regulus, com a voz embargada. - Entre, Monstro. E feche a porta, por favor.
Monstro encara Regulus com os olhos brilhando. Ninguém nunca tinha dito "por favor" a ele depois de uma frase antes. Monstro mal consegue reagir, tamanha a surpresa. Ele apenas obedece o mestre, entrando no quarto e fechando a porta atrás de si.
— Precisa de algo, mestre Regulus? - a voz de Monstro treme, ainda impactado com a frase dita por Regulus.
— Eu preciso, sim, na realidade. - diz Regulus, fungando algumas vezes, tentando parar o choro. - Eu preciso só... ser ouvido. - Monstro assente, e, de pé, chega a cabeça para frente, pronto para ouvir o mestre. - Pode se sentar, Monstro. - o elfo senta no chão, ainda encarando o corpo inerte de Regulus na cama. - Eu... Eu não quero decepcionar meus pais, sabe? Eu... Tudo que eu menos quero é fazê-los pensarem de mim coisas como pensam sobre Sirius. Mas... Ao mesmo tempo, eu queria tanto ser como ele! O ar de rebeldia, gostar de coisas trouxas... Mas eu não consigo ter coragem o suficiente para não me importar com a opinião das pessoas... Entende, Monstro? - o elfo assente. Ele se sente triste pelo mestre, por sofrer tanto. Era palpável o sofrimento dele, era perceptível na voz, nas lágrimas que escorriam pelo seu rosto enquanto falava, pela quantidade de vezes que respirava fundo depois de cada frase... Era como se Regulus fosse um sofrimento ambulante, um espelho quebrado, que a cada momento se dividia em cada vez mais cacos. - Eu só queria não me importar como Sirius não se importa! Mas sou fraco demais para isso. Eu não consigo. Eu não consigo decepcioná-los, mas também não consigo fingir ser alguém que eu não sou! - Regulus continua a chorar, até que, por um momento, ele encara Regulus, sentado ao lado da cama. - Monstro, será que você pode... Será que você pode segurar a minha mão? Eu... Eu preciso de alguém para fazer isso por mim.
Boquiaberto, Monstro se levanta do chão e caminha até bem perto da cama de Regulus. A mão esquerda deste caía da cama, com um de seus dedos quase tocando o chão. Monstro se abaixa e segura a mão do mestre. Regulus olha para baixo, com os olhos marejados, vestindo um sorriso triste no rosto.
— Obrigado, Monstro. Obrigado.
Monstro olha para baixo.
— Monstro fica grato em ter ajudado, mestre Regulus.
— Não precisa me chamar de mestre... - diz Regulus, com uma careta. - Apenas perto da minha mãe. Ela pode te castigar por... Não sei, por não tratar "os mestres com respeito". - Monstro assente freneticamente com a cabeça, ainda surpreso com toda aquela situação. - Obrigado. Obrigado, Monstro, por me ouvir. Por... Por tudo.
"Se você quer saber como um homem é, veja como ele trata seus inferiores e não seus iguais."
— Sirius Black, A Ordem da Fênix
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Fanfiction"Se você quer saber como um homem é, veja como ele trata os inferiores, e não os seus iguais." - Sirius Black *** Uma fanfic sobre Regulus Black Link da história no Nyah! Fanfiction: https://fanfiction.com.br/historia/722240/Inferiores/