Capítulo um

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Apesar da alta densidade demográfica, San Francisco nunca foi muito grande em comparação às outras cidades da Califórnia: Sara não precisava andar mais de quatro quadras até a escola. Katherine passava em frente à San Francisco University High School para ir ao trabalho, então Sara aproveitava a carona da mãe e ficava em frente ao colégio.

Naquele dia, Katherine parou em frente a uma cafeteria movimentada, ao lado da enorme estrutura do colégio, onde Sara encontraria as outras meninas. A Gingerbread era popular entre os estudantes da escola, principalmente por dar aos alunos a chance de matar aulas ocasionalmente.

Embora fosse tentador, Sara apenas comeria algo ali antes de ir para as aulas.

— Vou ficar até tarde no trabalho, tudo bem? — Katherine avisou, ao parar o carro na frente da cafeteria. Isso significava que Sara precisaria caminhar para casa. A garota assentiu e virou para pegar a bolsa de couro sintético no banco de trás, junto com alguns livros didáticos.

— Hoje é a audição da Lisa, talvez eu passe na casa dela depois da aula para saber como foi.

Katherine assentiu e sorriu, graciosa e elegante como sempre. Ela trabalhava como gerente de um banco multinacional importante, estava a todo momento atrasada para algo ou chegando tarde em casa — e, embora estivesse sempre correndo, nunca aparecia desarrumada, de alguma forma conseguia manter as roupas e os cabelos impecáveis.

Algumas vezes, Sara achava que a única parte física em comum com a mãe eram os cabelos negros e talvez um pouco do sorriso. O corpo escultural dela se diferenciava do de Sara, que era mais baixa e tinha uma aparência frágil, quase delicada. Frequentemente diziam que ela aparentava ser mais nova do que era de fato.

Sara abriu a porta do carro e as duas se despediram rapidamente. O trânsito ficava insuportável no início da manhã. Especialmente naquele dia, as ruas ardiam, mais do que movimentadas, e Katherine precisava estar no trabalho.

A garota encarou a cafeteria, que parecia pequena em comparação à gigantesca estrutura do colégio que começava ao lado.

Como esperava, tudo estava lotado e as pessoas andavam para lá e para cá, passando entre as mesas. Camila, Elisa e Sofia conseguiram lugar em frente a uma janela, conversavam animadamente enquanto bebericavam grandes copos de cappuccino. Sara parou no balcão de atendimento e pediu uma vitamina de morango antes de atravessar o lugar para encontrar as garotas.

— Que bom que você está aqui! — exclamou Sofia, quando Sara puxou uma cadeira e sentou com as três. — Acho que a Lisa vai surtar a qualquer segundo e você é a única que pode impedir isso.

Sara a encarou com uma expressão confusa e então se virou para Elisa, que tentava prender os longos cabelos ruivos com um elástico.

— O que houve?

— Hoje é o teste da Ruth Rosawa. — Elisa realmente parecia elétrica. A Ruth Rosawa abriu audições para cursos de música de meio período durante o outono, ela tentaria pela primeira vez uma vaga para estudar lá. Como era uma escola renomada, Sara sabia que seria muito importante para o currículo de Elisa, que queria mais do que tudo trabalhar com música. Era um primeiro passo se ela quisesse ir para Juilliard, ou estudar teatro musical numa faculdade conceituada.

Sara sorriu para a amiga. É claro que se tratava da Ruth Rosawa.

— Relaxa, eles seriam loucos se te recusassem.

Elisa prendeu os cabelos, olhando para Sara com uma cara de espanto. Os olhos arregalados dela fizeram Sara rir mais ainda.

— E se eles não gostarem da escolha da música? Tem tanta gente melhor! Eu posso desafinar enquanto cantar, esquecer a letra, ou pior, posso travar e gaguejar. Eu não posso errar!

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