Lobisomem

O Desaparecimento de Michael Phillips

   Michael acordou no meio da noite com a luz do andar de baixo vindo em direção ao seu rosto. Ao lado, o despertador indicava 3:15 da manhã. Olhou para o colchão de cima e deu um pontapé: era onde Steven dormia. Sem reação, o garoto deu mais um chute, mas nada de reclamações.

Sentou-se na cama e observou o quarto frio e escuro. Sua escrivaninha estava a poucos metros de distância, onde em uma cadeira havia seu boné dos Yankees dado pelo seu pai 4 anos antes de sua morte. Isso foi a única
coisa que o pai de Michael lhe deixou.

Mas nunca compreendeu bem como a morte era. Tinha apenas 3 anos de idade na época. Seu irmão chorou muito, ou pelo menos era isso que ele pensava. Quanto mais pensava nisso mais falta sentia. Era confortante pensar que seu pai estaria em algum lugar o protegendo. Mas teria que viver a vida toda como um garoto que cresceu sozinho, sem amor paterno.

Talvez não tanto assim: ele tinha um padrasto. Tom Rogan foi a melhor coisa que sua mãe conseguiu arrumar para consolá-la durante suas fases do luto. 2 anos depois eles se casaram e ela se meteu em uma grande enrascada. Mal sabia o homem agressivo que ele era. Começou a ser maltratada e espancada frequentemente pelo cônjuge.

Até mesmo Steven não escapava das cintadas. Seu irmão já chegou a ir para o hospital de tanta surra que levou por quebrar um abajur. A polícia foi na casa dos Phillips e tudo ocorreu bem. Barbarah discutia com os policiais, já Tom não dizia uma palavra. Parecia estar sendo educado, mas Michael sabia o que era. Tom tinha medo deles.

Decidiu levantar e ir até lá embaixo saber o que estava acontecendo. Não ouvia a voz de ninguém na casa, e o único sinal de vida era a luz da cozinha no andar abaixo. Abriu a porta do seu quarto e foi descendo as escadas em espirais. Dava um passinho devagar após o outro para evitar que caísse. Apoiava as mãos gorduchas no corrimão de madeira, enquanto bocejava de sono.

Quando chegou no corredor, passou pela cozinha e deu de cara com seu irmão abrindo gavetas e jogando salgadinhos em sua mochila. Ele levou um tempo para perceber a presença de Michael ali.
— Mike. Vai lá para cima.
— O que você está fazendo, mano?
— Preciso que me escute, tá legal? Nós vamos sair dessa casa hoje. Vai lá para cima e me espere no quarto.
— A mamãe e o papai brigaram de novo?
Steven olhou para ele com seriedade.
— Ele não é nosso pai. Agora, vai!

Michael saiu correndo dali desesperado. Mais uma briga, pensou. Mamãe e papai brigaram de novo.
Subiu rapidamente as escadas e entrou no seu quarto com o coração batendo forte contra seu peito. O que está acontecendo? E se ele bateu nela? Ela vai sangrar feio. Vai sair sangue. Ela... Ela...

De repente, Mike começou a chorar. Deitou no tapete e levou os joelhos até o peito, os fechando com os braços em posição fetal. Sua cabeça doía e um barulho estalava em seus ouvidos. Viveu aquele inferno durante 3 anos de sua vida e não queria viver de novo. Levantou a cabeça para a janela.

Um poste alto lançava luz através das cortinas. Mike levantou e foi até lá. Viu a rua lá embaixo. Não havia ninguém. O carro do Tom estava estacionado na frente da calçada. Mas se eles não estavam lá na sala, onde estariam?

Sentiu uma mão quente nos seus ombros. Achava que era sua mãe. Mas quando virou Steven Phillips estava com sua mochila nas costas dizendo alguma coisa para ele.
— Precisamos ir. Agora!
— Me fala o que está acontecendo, mano — limpou seu nariz. — Por favor!
Stevie ajoelhou-se na altura do irmão.
— A mamãe e o Tom brigaram. Ele disse que iria... matá-la se ela dissesse outra palavra. Eu desci as escadas para poder ouvir mais a discussão até que vi ele batendo nela.
— Ma... Mas ela está bem?
— Eu não sei. A sala estava num silêncio. O Tom levantou e foi para o porão. Mamãe continuou sentada no sofá, pensando. Tenho medo que ele possa te machucar Mike. A mamãe sabe que ele é capaz! Ele me machucava todas as noites que brigava com ela. Eu preciso te tirar daqui. Você precisa confiar em mim, okay?