Único

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“Quatorze de fevereiro. Eu tinha feito tantos planos legais para com você neste dia. Desculpe não termos chegado até aqui gatinho, vai levar um longo, longo tempo para eu superar você. Queria apenas saber se você estava bem, não nos falamos mais depois do... incidente. ” – Reli a sms e enviei para o número que por quase dois anos decorei, quase três meses tive liberdade de ligar toda vez que sentia sua falta.

Suspirei, pensei e cansei todos os meus neurônios em busca de respostas que talvez nunca virão. Ou pelo menos não virão da forma como eu as busco. Larguei o telefone na areia, sem a menor esperança de que ele responderia.

O céu já estava laranja, anunciando o novo dia e eu ainda estava ali. Nada. Nem respostas e nem soluções. Apenas eu, as gaivotas, as lágrimas e o barulho do mar. O sal no vento se misturando ao das lágrimas.

Eu sou mesmo um idiota. Feri, magoei e fugi com a desculpa de que era por amor. Amor?

Aquele mesmo amor pelo qual lutei, conquistei, e abandonei.
Meus pensamentos foram cortados pelo bip baixo do telefone. Eu tinha merecido uma resposta afinal.

“Supera sim, há um útero pra você encher, e quando isso acontecer esquecerá tudo. Não se preocupe comigo Miyavi, sua carreira e imagem são mais importantes. Happy Valentine’s Day”

Ele jamais entenderia, jamais irá acreditar em minhas palavras novamente. Em cada sorriso apagado, em cada luz que se apaga pouco a pouco de seu olhar. Eu acabei com o seu sorriso, eu sei que fui eu quem apagou a sua luz.

Mas eu queria que você entendesse que foi, mesmo, por amor que eu deixei você. Amor camuflado por meu egoísmo, ou egoísmo justificado com uma desculpa de amor. Que se dane, não vale nada mesmo.

Houve o erro, e nós estaríamos perdidos. Você estaria perdido, eu já estava, e sem me importar. Mas houve também a oportunidade, e eu sei que a distância vai me tirar da sua cabeça e do seu coração um dia.

E que o sonho que você não será impedido de continuar a viver, irá fazer você voltar a sorrir como antes, as covinhas nunca vão descolar de sua face. E o seu olhar voltará a brilhar. Se você conseguir alcançar tudo o que quer, nesta estrada longa, eu já estarei satisfeito.

Nada terá sido em vão.

Eu sei que você é capaz de entender o mundo em que vivemos. A beleza do mundo dos maquiados vive somente na superfície da pele pintada. Eu e você, como outros tantos mentindo que aquilo que usamos como personagens não são quem realmente somos. Em um mundo em que as makes e os personagens são o que escondem quem as pessoas realmente são.

O fanservice é lindo quando feito em cima do palco, quando é usado pra encher os bolsos alheios. Mas é repugnante se decidimos assumir quem realmente somos e dividir com o mundo que há alguém a quem realmente amamos.

“Eu amo você, não tem como ser um bom dia dos namorados então. Você ainda não sabe, mas eu terei que tomar decisões ainda hoje, Kai-chan. Eu... quando pudermos conversar eu te explico, estarei ainda mais distante.”

O nó formado em minha garganta não me deixava ver o visor do celular, não queria contar exatamente tudo o que aconteceu. Mas eu o amava e não tinha como não desejar contar tudo para ele antes de todo mundo.

Meu gatinho era curioso afinal, não tinha esperanças de respostas, mas sabia que depois de responder a primeira ele levaria a conversa adiante. Ainda assim me permiti fechar os olhos e me perder nas boas lembranças que vinham embaladas com aquele sorriso de covinhas.

Foi em 2008 que me apaixonei, perdidamente, por ele. Conhecia Kai desde 2003 da PSC. Conhecia seu estilo de tocar e tudo mais, mas foi em 2008 apenas que realmente conheci Yutaka.

The wrong way  to say I love youOnde histórias criam vida. Descubra agora